O partido chama-se Chega, a coligação é Basta e é este o nome que figurará no boletim de voto. Foi apoiante de Pedro Santana Lopes no último congresso do PSD e ainda ponderaram uma candidatura conjunta, mas "não havia condições". Foi vereador da Câmara Municipal de Loures, mandato que deixou a meio, depois de ter afirmado publicamente que a comunidade cigana vivia de subsídios, o que lhe valeu diversos processos em tribunal. A seguir desvinculou-se do PSD, por perceber que era ele que já não se revia na ideologia de base do partido.
André Ventura tem 36 anos, nasceu e cresceu em Mem Martins e há quem diga que é daí que lhe vem o trauma. Confessa que foi ali que sentiu pela primeira vez a clivagem social que agora combate: "Aqueles que não querem fazer nada, que vivem à nossa conta, paredes meias com os que precisam da ajuda do Estado e a quem o Estado falha".
Entrou para a política aos 17 anos, mas antes disso queria ser padre e chegou a frequentar como aluno externo e por mais de um ano o Seminário de Penafirme [Seminário de Nossa Senhora da Graça], até se apaixonar por uma colega de turma. Depois seguiu Direito.
É cabeça-de-lista do Basta às eleições europeias e defende uma Justiça diferente para a União Europeia e para Portugal, com penas mais pesadas, menos impostos e maior harmonização fiscal, mais controlo de fronteiras e o fim da subsidiodependência. André Ventura sabe que diz coisas questionáveis, mas acredita que há mais gente a pensar assim, só não tem coragem de o dizer. E recusa o rótulo de radical: "o espaço político que é seu e que lhe pertence é o da direita democrática e do centro-direita democrática, de matriz cristã e conservadora". Mas está a negociar uma estratégia com o Vox espanhol e com a Liga Norte italiana para o Parlamento Europeu.
Porquê Basta e não Chega?
Porque o Tribunal Constitucional não aceitou nenhuma das designações sugeridas com a palavra Chega. Tentámos Europa Chega, Chega 2019, nada teve sucesso. A justificação foi que a designação se confundia com o nome de um dos partidos da coligação, o Chega. Então, decidimo-nos por uma palavra equivalente, um sinónimo, e ficou Basta, que foi aceite e que inclui todos os parceiros de coligação: Chega, PPM, PPV, Movimento Democracia 21. Tivemos de fazer um esforço enorme, até mesmo financeiro, porque já tínhamos toda a propaganda com o nome Chega, incluindo outdoors.
Não há nenhum movimento internacional de partidos nacionalistas ou não nacionalistas a financiar a campanha. Nenhum!
A campanha foi muito criticada por ser despesista e por não se saber com reuniu tantos fundos. Pode explicar?
Para que fique claro: o que temos é uma estimativa de custos, com base na expetativa que temos de angariar fundos e juntar donativos. Baseia-se essencialmente num cálculo sobre a capacidade que temos tido de mobilizar pessoas: vamos ao Porto, a Aveiro, a Setúbal e em uma, duas, três horas fica tudo absolutamente cheio, e as pessoas querem contribuir. Ponto dois: não há nenhum movimento internacional de partidos nacionalistas ou não nacionalistas a financiar a campanha. Nenhum! O financiamento é feito pelas pessoas do Chega, dentro dos limites que a lei prevê, e pelas pessoas e simpatizantes dos restantes membros da coligação, que são mais dois partidos e um movimento. Todos a contribuir para conseguirmos formar uma unidade, ou não nos teríamos coligado. O Aliança tem um orçamento muito próximo do nosso, 300 mil e muitos euros, e ninguém se preocupou tanto. Tudo o que mete o André Ventura preocupa as pessoas.
Por que motivo acredita que André Ventura preocupa as pessoas?
Porque há por aí um fantasma. Li no "Expresso" um artigo em que se associava a ascensão do nacionalismo e da chamada extrema-direita na Europa à vitoria dos Aliados sobre os nazis na Segunda Guerra Mundial, que faz 74 anos em maio. É este medo que se procura incutir nas pessoas que afasta muita gente. As pessoas perguntam-se: "Será que o homem é de uma extrema violência, será que veio para condicionar o resto das nossas vidas, será que esta conversa da justiça e da segurança são só pontas de lança para mais qualquer coisa?" Isso mete medo às pessoas. Temos tentado fazer passar uma mensagem, mas é muito difícil sob o espetro da extrema-direita, do racismo, da xenofobia. Não negamos a afirmação de que algumas pessoas, algumas comunidades, vivem maioritariamente de subsídios. Mas isto não é racismo nem xenofobia.
Diz que tem de ir mais umas vezes a tribunal. Quanto processos tem?
Uf, já nem sei. Um foi logo na altura das eleições autárquicas, por ter dito que a comunidade cigana vivia de subsídios, e recentemente fui notificado de outros pela Comissão Contra a Discriminação Racial. O meu problema não é ter de ir a tribunal, porque não tenho nada contra, até gosto de lá estar, mas temos tão poucos recursos na justiça que devíamos estar a canalizá-los para a luta contra o crime violento, contra o crime organizado, contra a corrupção. Mas estamos a perder tempo com este tipo de processos, de comentadores, de políticos que dizem coisas na televisão, que dizem coisas em campanha, como se a liberdade de expressão não importasse absolutamente nada. Nesse dia senti que a liberdade de expressão em Portugal era muito limitada. No dia em que não puder dizer em Portugal que sou contra a subsidiodependência de determinadas comunidades, então não sei o que poderei dizer. Se isso é crime e grave, então devo ser criminoso.
Percebi, a partir de determinado momento, que o PSD já não tinha espaço para o tipo de ideias que defendo
O que se passa com o PSD, de onde saíram dissidentes para o Aliança e para o Basta?
Fui dirigente nacional do PSD, candidato a uma das maiores câmaras do país, foi no partido que fiz o meu percurso político e não neguei isso nunca, é público e notório. Percebi, a partir de determinado momento, sobretudo quando assumi funções de vereador na Câmara de Loures depois de uma campanha muito difícil de 2017, que o PSD já não tinha espaço para o tipo de ideias que defendo. Percebi, pela reação do partido e de pessoas que me tinham acompanhado noutras lutas, na distrital e na nacional, que era eu que já não estava bem integrado. Como sempre fiz na vida, quando não estou bem, saio.
O Dr. Rui Rio não pode dizer que o PSD é como o PS. Não é
Foi a afirmação de que a comunidade cigana vivia de subsídios que provocou isso?
Achei que os valores e princípios do PSD já não eram aqueles que eu defendia. A liderança de Rui Rio vai mostrar que o caminho estava a ser erradamente seguido... Aliás, o Dr. Rui Rio afirmou que Sá Carneiro, hoje, provavelmente seria do PS, se não fosse do PSD. O Partido Democrata, nos Estados Unidos, chegou a defender a escravatura, mas não é isso que faz dele um partido escravagista. Os partidos não são só aquilo que são quando se formam, a base ideológica vai mudando com as pessoas que representam. O PSD não pode dizer hoje às pessoas que é um partido de centro-esquerda; o eleitorado do PSD não é de centro-esquerda. O Dr. Rui Rio não pode dizer que o PSD é como o PS. Não é. E os eleitores, e bem, votam no original, foi sempre assim. Entendi que este PSD já não era o meu PSD, não representava o espaço de centro-direita, os novos valores que vêm da Europa. Saí, lancei um movimento que, graças a Deus, cresceu muito rápido e agora temos esta coligação que vai a votos no dia 26 de maio.
o euro, para nós, é fundamental, mas a forma como está a ser gerido pode levar ao colapso
O que defende a coligação Basta, qual a sua visão da União Europeia?
Não queremos nem sair da Europa, nem sair do euro ou abandonar qualquer projecto europeu. O que queremos é uma União Europeia diferente daquela que temos, queremos uma União Europeia que saiba fazer controlo das fronteiras externas, o que não tem acontecido, entra qualquer pessoa, de qualquer forma, com documentos ou sem documentos. A conversa da solidariedade que é bonita, todos gostamos, mas quando toca à insegurança das nossas cidades toda a gente se preocupa. Como a questão do euro: o euro, para nós, é fundamental, mas a forma como está a ser gerido pode levar ao colapso. Temos de estar preparados para isso, mas não o queremos nem o desejamos. De resto, o nosso problema não tem especificamente a ver com raças ou etnias, tem a ver com aqueles que vivem à nossa custa: não estou disponível para pagar impostos para outros não fazerem nada. Isto é o que os portugueses e portuguesas sentem hoje, que estão a trabalhar meio ano para pagar impostos que são desbaratados em quem não quer fazer absolutamente nada. Não achamos isso justo.
Fale-me do projeto europeu e da forma de concretizar esses objectivos...
Primeiro, queremos salvaguardar que a identidade portuguesa não se perde. Não vou agora discutir o federalismo ou o nacionalismo, que nem faz sentido, mas se à medida que avança a Europa não preserva este espaço de identidade nacional, vai autodestruir-se. Temos mais de 800 anos de história como nação e isso é património. Segundo, queremos uma Europa controlada, não queremos fechar a Europa, não queremos uma fortaleza à volta da União Europeia.
Mas o que propõem para o controlo de fronteiras?
Temos de ter um controlo efetivo e documental, nomeadamente na relação com os países de onde vêm. O que não pode acontecer é alguém chegar à fronteira da Grécia, dizer que vem do Iraque a fugir da guerra, e nós deixamos entrar. Temos de saber se é ou não verdade, se aquela pessoa está a fugir da guerra, se é um migrante económico em busca de melhores condições de vida, se é um terrorista e está fugir à justiça do seu país.
Se deixássemos entrar todos não haveria tantos campos de refugiados, haveria?
Os campos de refugiados começaram quando na Alemanha houve violações de mulheres atrás de violações porque não se conseguia controlar absolutamente nada. Está mais do que provado que as violações aumentaram de 2017 para 2018. Se for ver, os números da pedofilia também subiram. Veja o número de detenções de refugiados por crimes sexuais.
A polícia alemã desmentiu as notícias de violações em massa por refugiados e o que aconteceu na passagem de ano de 2015 para 2016 foi uma violação confirmada em Colónia e diversas queixas de assaltos. O comissário da Integração também alertou para o perigo de colocar sob suspeita os milhares de refugiados a quem a Alemanha concedeu asilo. Há uma grande diferença entre o que se diz e os factos.
Sei que custa colocar este dados cá fora, mas porque é que a AFD [Alternativa para a Alemanha] tem crescido? Porque as pessoas estão fartas disto.
Ou fartas de acreditar em mentiras?
As pessoas não conseguem viver numa cidade e que, de repente, 30% das pessoas não são dali. Isto não é mau em si próprio, mas é mau se estas pessoas viverem de subsídios.
E não é possível controlar a atribuição de subsídios?
É o nosso segundo ponto. Primeiro, controlar quem entra. Porque ter terroristas na União Europeia tem hoje uma agravante, é que eles podem circular pela Europa toda. E depois temos ataques em Bruxelas, em Paris, em Madrid e, um dia, em Lisboa. E aí vão dar-me razão, mas vai ser tarde. Não queremos que isso aconteça. Dir-me-á que alguns desses terroristas nasceram na Europa, é verdade, mas porque não lhes tiramos a nacionalidade? Veja esta estupidez, que é a palavra certa: Portugal está a ir buscar as mulheres dos jihadistas, enquanto a Inglaterra lhes está a tirar a nacionalidade. Quem é estúpido nesta história? Não temos dinheiro para pagar reformas, mas estamos a ir buscar mulheres de terroristas. É a estupidez a um nível inacreditável.
Para mim, podem ser portugueses nascidos em Lisboa e cristãos. Quem foi combater ao lado do Daesh não tem lugar no meu quintal, não lhe abro a porta
Essas pessoas, para o Basta, não têm direito a proteção?
Sabiam ao que iam. Não foram ao engano, foram porque acreditavam no projeto de califado mundial. Cada um acredita naquilo que entender, mas morreram portugueses, espanhóis, italianos, americanos, franceses. E agora esquecemos tudo e dizemos: venham à vontade, façam o que quiserem. É o grau zero da política. Para mim, podem ser portugueses nascidos em Lisboa e cristãos. Quem foi combater ao lado do Daesh não tem lugar no meu quintal, não lhe abro a porta. São pessoas que cortaram cabeças e filmaram na Internet. E agora vamos buscá-los - e era um plano secreto. Os portugueses têm ou não direito de saber? Basta ver as manifestações de repugnação que isso gerou. As crianças é diferente, foram obrigadas pelos pais. Mas se eu amanhã decidir ir combater para a Chechénia ou para o Daesh, tenho de assumir a minha responsabilidade, não posso daqui a dois anos, quando for derrotado, pedir por favor recebam-me de volta que isto foi um engano. São criminosos e têm de ser tratado como tal, só por teres pertencido a uma organização terrorista deviam ser presos. No entanto, até já ouvi falar em reconciliação familiar.
Quando fala em documentos, muitas vezes essas pessoas não têm documentos e alguns arquivos nos países de origem foram destruídos...
É tudo verdade, mas temos de encontrar forma de identificar as pessoas, seja por dados biométricos, seja por dados documentais, senão, não entram.
Os refugiados representam 0,2% da população da União Europeia e nem todos os refugiados são terroristas, são?
Se fosse mais do que isso já não vivíamos na era do terrorismo, estávamos numa verdadeira guerra interna.
Uma das discussões do momento no Parlamento Europeu prende-se com o orçamento comunitário e com a forma como pode ser financiado. O Basta é a favor de mais orçamento, se sim, como?
Somos contra esta expansão que se verificou na União Europeia, desorganizada e desordenada. Não sei se a Turquia vai entrar...
Não me parece que vá.
Não deve entrar, mas só não entrou porque teve uma oposição muito forte de alguns países... Compreendo que os EUA tenham interesse em que a Turquia entre, porque vai descaraterizar ainda mais um espaço que já está descaraterizado. Esta expansão levou naturalmente, e qualquer pessoa percebia isto, a uma redistribuição do dinheiro comunitário. De repente, a UE passou de 15 para 27 Estados-membros e o dinheiro tem de ser dividido por mais. Mas não é por isso que somos contra a expansão, é porque ela descaraterizou a Europa. O financiamento da União é um tema importante.
Como pode financiar-se, com impostos que revertam para a UE?
A questão, teoricamente, faz sentido. Mas na prática como vou dizer aos portugueses que já passam metade do ano a trabalhar para pagar impostos que agora vão ter mais um? O mesmo para as empresas, porque os pequenos e médios empresários querem condições para trabalhar. Também não querem dinheiro, mas querem que o Estado lhes dê condições para contratar, para trabalhar, e que não esteja sempre a chatear com fiscalizações e com impostos. Querem sobretudo menos burocracia.
Esta forma de subsidiodependência é uma forma de ter as pessoas calmas e tranquilas
Segundo o Eurobarómetro os cidadãos europeus tem cinco preocupações maiores, o terrorismo é a última delas. Passo para aquela que é prioritária, o crescimento económico. O que irá fazer o Basta nesta matéria?
Tirar subsídios a quem não faz nada é uma parte daquilo que propomos fazer. Porque uma parte da nossa economia vai para subsídios, não só sociais, como de natureza económica e de concorrência, e isso é uma parte importante do incentivo à economia que se perde e que poderia ser dado, por exemplo, a pequenos e médios empresários que querem investir, criar riqueza e gerar emprego. Esta forma de subsidiodependência é uma forma de ter as pessoas calmas e tranquilas.
Quanto custam ao Estado esses subsídios de que fala?
Estou a falar ao nível de toda a União Europeia.
Sim. Tem valores?
Não sei o global, sei que em Portugal e Espanha os números são astronómicos.
O que é um número astronómico?
É 300 mil ou 400 mil pessoas. É muita gente.
Em Portugal há cerca de 144 mil pessoas a receber subsídio de desemprego e 223 mil a receber RSI (Rendimento Social de Inserção), que é menos de 200 euros por mês, segundo dados disponíveis.
O que digo é que há algumas comunidade onde há uma predominância excessiva de subsídios. E foi quando dei o exemplo da comunidade cigana que o país me caiu em cima. Quando fui a tribunal levei um estudo feito em Portugal que dizia que 15% da comunidade cigana vive do seu trabalho. O que pergunto é: os outros, vivem de quê?
Voltemos ao crescimento económico.
Há dois aspetos fundamentais. Um: gosto, e até compreendo, a economia verde e a economia aberta e a economia circular e o apoio à energia A, B e C. Tem tudo muito interesse. Mas isso diz zero às pessoas. Ou, vá lá, numa escala de zero a dez dirá dois. O que as pessoas querem saber é como se mantém postos de trabalho. E sabe como se mantêm postos de trabalho?
Os Estados Unidos estão mais atrativos, sobretudo agora, desde que o presidente Trump tomou posse, estão muito agressivos na atração de empresas
Espero que me diga, é o que estou a perguntar.
Quando criamos na Europa condições para as empresas que geram aqui emprego não tenham de ir produzir para o sudeste da Ásia ou não tenham de colocar a sua sede em Dublin ou no Estados Unidos. É isso que temos de fazer, em vez de andar a discutir se é ou não possível ter incentivos para as empresas grandes e as multinacionais. Há uma esquerda que acha que estas empresas deviam pagar muito mais - e deviam. O ponto é que se tiverem de pagar acima de um determinado montante, pegam nas coisas e vão embora. Mesmo sem acordos, vão embora, porque há países do terceiro mundo ou do segundo desejosos de ter lá estas empresas. E nós estamos a perdê-las consecutivamente. Os Estados Unidos estão mais atrativos, sobretudo agora, desde que o presidente Trump tomou posse, estão muito agressivos na atração de empresas. A Europa continua a leste do paraíso nessa matéria, estamos mais preocupados com os paraísos fiscais e com a harmonização fiscal.
Qual é o segundo aspecto?
O ponto dois e muito importante: a questão dos fundos. Éramos há uns anos o segundo país, penso que chegámos a ser o primeiro, na execução de fundos comunitários. Hoje estamos em sétimo ou oitavo e é em cima das eleições, atabalhoadamente, que são lançados os concursos uns atrás dos outros. Porque é que não sabemos aproveitar os fundos da União Europeia?
Esses dados não estão corretos. Mas devolvo-lhe a pergunta: porquê?
Queremos evitar que o dinheiro vá sempre para o mesmo sitio. Por exemplo, através do combate à fraude. E para evitar o que aconteceu na área do turismo rural: de repente, Portugal encheu-se de turismos rurais porque era uma atividade subsidiada pela Europa. Passados cinco anos, muitos fecharam. Se não conseguimos controlar os nossos subsídios cá, como vamos controlar os da União Europeia? Nem os de Pedrógão conseguimos controlar, com suspeitas gravíssimas lançadas sobre a utilização desses dinheiros. Mas não aconteceu nada, o processo morreu e, aparentemente, ninguém sabe onde está o dinheiro. Não há fiscalização. Resumindo: crescimento económico: incentivos para as empresas se manterem cá, para que o emprego se mantenha cá, e harmonização fiscal.
A União Europeia gosta de meter o bedelho em todos os assuntos, mas, curiosamente, não quer meter o bedelho nos impostos que os portugueses, espanhóis e franceses pagam, os mais altos da União Europeia
Afinal defende a harmonização fiscal?
A União Europeia gosta de meter o bedelho em todos os assuntos, mas, curiosamente, não quer meter o bedelho nos impostos que os portugueses, espanhóis e franceses pagam, os mais altos da União Europeia. Alguém acha normal que os portugueses trabalhem metade do ano para pagar impostos? Porque é que a União Europeia não se preocupa com isso? Porque é que não vem dizer: a vossa carga fiscal é insustentável. Mete-se no tamanho da colher de pau, no tamanho da maçã, no tipo de folhas que devemos usar, mas não se mete onde se devem meter. Outro exemplo: em Espanha há prisão perpétua, mas em Portugal a pena máxima é 25 anos. E Leonor Cipriano, mãe de Joana Cipriano, já está cá fora. Pedro Dias, que matou três pessoas e mostrou profundo desprezo pelo tribunal, foi condenado a 25 anos de prisão. Mas com sorte terá de cumprir 16 ou 17 anos. Portugal tem sido dos poucos países que na União Europeia se tem oposto sistematicamente à prisão perpétua. O Basta vai acabar com isso. Não podemos continuar a ter penas ridículas para crimes hediondos. A UE pode dizer que não tem nada com isso, as leis são portuguesas. E de facto, a razão da estupidez das nossas molduras penais é nossa, não é de mais ninguém. Mas se a União quer meter-se, que se meta naquilo que interessa. Eu diria que a harmonização fiscal é importante, como a justiça. Sabe porque é que a União Europeia não se mete? Porque tem medo. A Europa está cada vez mais afastada das pessoas.
São uma espécie de Marinho e Pinto: vêm cá, candidatam-se, dizem umas coisas, desaparecem e nunca mais ninguém os ouve durante cinco anos
Medo de quê? E como se aproxima a Europa dos cidadãos?
Não é a limitar... Vou dar-lhe um exemplo: a forma como a Comissão Europeia funciona, completamente afastada dos cidadãos. Se perguntar aos portugueses quem é o comissário português, aposto que a maioria não sabe. Mas sabem quem é o presidente da Câmara de Lisboa, quem é o presidente da Câmara do Porto e sabem quem são os presidentes dos clubes de futebol. Não sabem quem é o comissário português porque ele não aumenta nem diminui, não acrescenta absolutamente nada às pessoas. Há eleições europeias de cinco em cinco anos, fala-se disso na altura e depois nunca mais ninguém diz nada. São uma espécie de Marinho e Pinto: vêm cá, candidatam-se, dizem umas coisas, desaparecem e nunca mais ninguém os ouve durante cinco anos. Isto não pode ser a Europa.
Como tem de ser a Europa?
O erro está na comunicação, que não pode estar centrada em Bruxelas. A comunicação, mesmo dos eurodeputados, tem de estar centrada nas suas zonas territoriais. É por isso, aliás, que o Parlamento Europeu financia gabinetes para os eurodeputados terem no território nacional, não é para terem um telefone e uma secretária. O exemplo do Dr. Marinho e Pinto é apenas porque é o mais recente. Estou convencido de que se perguntássemos às 236 mil pessoas que votaram nele o que fez nos últimos cinco anos, só uma percentagem mínima saberia responder. Isto a par de outros deputados, que defendem a saída da União Europeia, mas candidatam-se ao Parlamento Europeu. O que é que vão lá fazer?
O candidato do MRPP esteve comigo num debate e disse não só que queria sair, como queria desmantelar a União Europeia. Isto é legítimo? É o mesmo que eu dizer que quero ser sócio do Benfica para acabar com o Benfica
Conquistar simpatia de outros deputados e evitar a votação de determinadas leis?
O candidato do MRPP esteve comigo num debate e disse não só que queria sair, como queria desmantelar a União Europeia. Isto é legítimo? É o mesmo que eu dizer que quero ser sócio do Benfica para acabar com o Benfica. É, no mínimo, imoral e os políticos têm de ter moralidade. Se querem sair da UE, têm de lutar por isso em Portugal, têm de lutar por um referendo. E as pessoas votam. Portanto, ele devia ser candidato cá, não ao Parlamento Europeu. Mais valia ficar quieto em casa.
O segundo tema que interessa aos europeus é o combate ao desemprego jovem. Como é que o Basta vai fazê-lo?
O desemprego jovem é um tema especialmente importante para nós, porque Portugal tem das taxas de desemprego jovem mais elevadas da UE. Portugal e Espanha têm números vermelhos. Sem acrescentar os números das Nova Oportunidades, para onde entram aos milhares, dentro de um cálculo manhoso. Há desemprego jovem porque o mercado está saturado, o sistema de ensino não está vocacionado para a actividade laboral e, sobretudo e muito importante, porque não temos capacidade de gerar emprego. O que temos na União Europeia é a França, a Alemanha e a Inglaterra - vamos ver se sai ou não da UE - e mais alguns países do centro da Europa a acompanhar o crescimento com a diminuição do emprego jovem, enquanto Portugal e Espanha não o conseguem fazer. Talvez esteja na hora de perceber que nós é que estamos mal e que a política económica que temos seguido está errada. Não só em termos de reformas e de idade da reforma, como em termos de criação de apoio a novos negócios e novos modelos de negócio. Há países que dão um apoio aos jovens que saem das universidades para abrirem o seu negócio. Prefiro esbanjar aí do que naqueles que não querem fazer nada, ficam anos a viver de subsídios e depois vão à câmara de Mercedes pedir casa. Até porque um jovem que lança uma empresa e tem sucesso, primeiro é ele, ele e um amigo, depois vai precisar de apoio técnico e administrativo, já são quatro, depois vai expandir o negócio e precisar de abrir sucursais e, em breve, são 30 ou 40 pessoas.
Em breve formam um partido?
Em breve formam um partido [riso].
Terceiro tema: combate às alterações climáticas e proteção do ambiente, o tal assunto que julgava que não preocupava muito os cidadãos...
Tenho acompanhado com atenção o crescimento dos Verdes e dos partidos ambientalistas em toda a Europa. O que não queremos é transformar o discurso do ambiente em algo radical. Só radicalizamos na parte da justiça, que é efectivamente importante para as pessoas. E dou-lhe este exemplo: a Europa desenvolve, e bem, mecanismos para tudo: branqueamento de capitais, fraude fiscal, evasão, mas ainda não desenvolveu mecanismos sérios de combate à pedofilia. Todos os anos é o mesmo drama, todos os anos. Em Portugal estamos agora a começar a julgar um indivíduo acusado de 70 mil crimes de pornografia de menores, depois de há dois anos ter sido posto fora pelos tribunais. Alguém acha isto normal? As vítimas nunca mais vão ser a mesma coisa. A culpa não é do sistema, é destes indivíduos que não permitiram que a justiça funcionasse, porque se este homem estivesse onde devia estar, dentro de um estabelecimento prisional, não tinha acontecido nada disto. Porque é que a UE não se mete nisto também?
Íamos falar de alterações climáticas e ambiente. Que medidas neste domínio?
Como dizia, a nossa preocupação é essa também, embora tenhamos de a articular, e isso não tem acontecido, nem na Europa, nem nos Estados Unidos, com as questões que importam ao negócios e à geração de emprego. Ou seja, os plásticos: somos completamente a favor da sua limitação e do controlo em termos de regras, porque têm um impacto significativo no peixe - e Portugal é um dos maiores consumidores de peixe do mundo. É uma daquelas lógicas que faz sentido. Já não faz sentido é estrangular ou tentar estrangular as empresas em burocracia ambiental. As empresas já não sabem o que hão de fazer e quantos documentos têm de entregar. Não somos contra as leis que protegem o ambiente, pelo contrário - o mesmo em relação aos animais - o que não podem é transformar-se num sufoco para quem quer investir. E isso estava a acontecer na União Europeia. É evidente que as empresas e as indústrias têm de cumprir regras ambientais, mas os processo têm de ser simplificados. Os nossos empresários vivem num inferno de burocracia. Algumas zonas industriais de Portugal, de Espanha, de França, da Alemanha estão a começar a ficar fartas disto. E tem dado maus resultados, com o crescimentos dos extremismo nestas zonas. Queremos evitar isso.
Estão todos apavorados com o que podemos fazer em Portugal, como com outros partidos na Europa, por causa do fantasma da extrema-direita, mas com o fantasma da extrema-esquerda ninguém se preocupa
Onde é que o Basta se situa no espectro político?
Somos um partido de direita democrática. Não somos, e não é nosso objetivo ser, um partido radical. Mas não gosto de rótulos. Estão todos apavorados com o que podemos fazer em Portugal, como com outros partidos na Europa, por causa do fantasma da extrema-direita, mas com o fantasma da extrema-esquerda ninguém se preocupa. O Podemos, em Espanha, tem ganho espaço e o seu líder até disse que não percebia o problema da Venezuela, onde agora já se come três vezes. Mas aqui estamos preocupados com os que dizem que tem de haver justiça, tem de haver controlo de fronteiras e tem de haver equidade fiscal. Eu estaria mais preocupado com tipos que defendem Maduro e ditadores africanos. Mas, enfim, faz parte do circo político em que vivemos.
Em que grupo político europeu é que o Basta se revê?
Isso vamos deixar para depois, fica em stand-by para depois das eleições.
Quem vai votar não deve ter já essa informação disponível, saber com o que conta?
Estamos em ponderação e em negociação, ainda.
Com quem?
Fica para depois.
E a transparência, onde fica?
Não estamos a esconder nada. O Basta ficará no espaço político que é seu e que lhe pertence, que é o espaço da direita democrática e do centro-direita democrática, de matriz cristã, conservadora.
Temos um encontro com o Vox, para nos conhecermos, primeiro, e para alinharmos estratégias a nível europeu, mas estamos ainda em conversas com outros movimentos internacionais
Dito dessa maneira parece que está a falar do PPE.
O PPE não aceitaria o André Ventura nunca na vida, por isso também não vamos fazer nenhum esforço nesse sentido. Temos um encontro com o Vox, para nos conhecermos, primeiro, e para alinharmos estratégias a nível europeu, mas estamos ainda em conversas com outros movimentos internacionais. Temos de ver os que defendem esta linha de pensamento: segurança, menos impostos, fim da subsidiodependência, mais justiça e menos impunidade. Penso que estaremos com a Liga Norte italiana, com quem queremos desenvolver negociações, e pode até ser que entre estes nasça um novo grupo.
Antes de terminar, gostaria que me falasse um pouco de si, do sítio onde cresceu...
Sou de Mem Martins, uma zona suburbana de Lisboa que foi até há bem pouco tempo a maior freguesia da Europa. É mesmo muito multicultural e posso dizer que quando olho para trás, percebo que o facto de ter crescido num subúrbio fez de mim a pessoa que sou. Foi ali que senti a clivagem social entre aqueles que não querem fazer nada, que vivem à nossa conta, paredes meias com os outros, aqueles que precisam da ajuda do Estado, mas a quem o Estado falha. Em Mem Martins, como na linha de Sintra em geral - Amadora, Cacém, Mercês - percebe-se que o Estado prefere ter guetos, alguns onde a polícia tem dificuldade em entrar, a aceitar que aquela realidade existe. Mas existe, as pessoas estão lá, algumas com problemas muito sérios. Depois estive no Seminário de Penafirme, queria ser padre. Era aluno externo e tinha aulas mistas e apaixonei-me por uma colega de turma. Optei por ir para a faculdade de Direito, mas gostava mesmo dos estudos da doutrina da Igreja. Em 2014 fui para a Benfica TV, onde tinha afinidades, até a CMTV me convidar para um programa sobre justiça, o "Rua Segura". Comecei a gostar de televisão, de fazer análise e comentário, e fui ficando. A política esteve sempre na minha vida, fui militante do PSD desde os 17 anos. Deu-me bases importantes, até para montar o Chega. Custa-me as pessoas conhecerem-me essencialmente pelo comentário desportivo, apesar de ser doido pelo Benfica.
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