Numa entrevista à agência Lusa, Teodora Cardoso considera que a opinião pública “evoluiu bastante, no sentido de perceber que houve medidas que eram necessárias e que foram tomadas [durante o período da ‘troika’] e que agora convém não estragar”.
É nesse sentido que a presidente do CFP afirma que “o Governo tem boas condições para ser reeleito, continuando neste caminho e não fazendo coisas que o desfaçam”, mostrando-se confiante de que o executivo de António Costa “percebe isto” e que “agora é uma questão de gerir bem este caminho até lá”.
Na semana passada, o CFP surpreendeu ao apresentar um conjunto de projeções orçamentais mais otimistas do que as do próprio Governo: um défice de 1% em 2017, de 0,7% este ano e um excedente a partir de 2020. O executivo, por sua vez, estima que o défice orçamental deste ano e do próximo fique nos 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
Na apresentação do relatório ‘Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2018-2022′, Teodora Cardoso admitiu que este é um cenário que, há pouco tempo, teria sido considerado impossível.
Há sensivelmente um ano, Teodora Cardoso foi criticada por apoiantes do Governo depois de admitir, numa entrevista, que em parte a redução do défice orçamental em 2016 se devia a um milagre. Recorde-se que, nesse ano, o défice caiu para 2% do PIB.
Na entrevista à Lusa, a presidente do CFP disse que, nessa altura, não era ainda muito credível que as metas orçamentais do Governo fossem atingidas, sobretudo porque “com uma política [orçamental] definida, estava, na realidade, a praticar-se uma política diferente”, que ainda não era visível.
“Era aí que parecia ter havido um milagre”, admitiu, lembrando que depois “acabou por ficar claro” que a redução de despesas públicas “existia, via cativações, por exemplo”.
No entanto, “nessa altura ninguém falava nisso, portanto era difícil perceber como é que iria ser possível controlar a despesa, quando o orçamento não o fazia. Era aí que estava realmente a contradição”, explicou.
Hoje, Teodora Cardoso afirma que as cativações não devem continuar a ser usadas como instrumento de redução da despesa pública. “Elas são usadas, mas é para efeitos de tesouraria, não para efetivamente gerir as despesas. Portanto, têm que se criar outros instrumentos e eu penso que há a consciência disso”, observou.
Questionada sobre se teme que as eleições legislativas de 2019 ponham em causa a redução do défice orçamental alcançada até aqui, a presidente do CFP disse esperar que não, acrescentando que o problema é “como se chega às eleições”.
“Há uma parte de sorte, que não depende do nosso Governo, que é o enquadramento internacional e que foi muito importante na melhoria das perspetivas para a nossa economia, embora também beneficie de outra coisa que convém não estragar, realmente, que foi todo o ajustamento que tínhamos feito para trás”, salientou.
Nesse sentido, reiterou que o risco “mais importante” para as contas públicas continua a ser o risco político.
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