Num vídeo publicado pela imprensa brasileira, o ministro brasileiro Flávio Dino, durante uma cerimónia de lançamento de um programa de bolsas, referiu-se a um vídeo que surgiu nas redes sociais na segunda-feira “de uma portuguesa xingando uma brasileira no aeroporto de Lisboa”.
No vídeo, que terá sido feito num aeroporto em Portugal, é possível ouvir a mulher portuguesa a dizer “vá para a sua terra, estão a invadir Portugal”, entre outras declarações xenófobas.
Em resposta, o ministro Flávio Dino atirou: “Bom, se for isso, nós temos direito de reciprocidade, não é? Porque em 1500 eles invadiram o Brasil”.
“E concordo, até, que eles repatriem todos os imigrantes que lá estão, devolvendo junto o ouro de Ouro Preto, e aí fica tudo certo, a gente fica quite”, acrescentou.
Também o deputado brasileiro Túlio Gadelha, relator da Comissão sobre Migrações Internacionais e Refugiados da Câmara dos deputados, disse hoje que pediu ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil que questione a embaixada portuguesa sobre este caso.
Em declarações ao portal Metrópoles, Túlio Gadelha afirmou que este caso “é um crime, um desrespeito à nação, à cultura e aos brasileiros”.
“Não é a primeira vez que acontece, mas todas [estas situações] são revoltantes. Esses casos recorrentes de xenofobia precisam acabar. Vamos acompanhar de perto a apuração desse facto lamentável”, disse.
De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), cerca de 400 mil cidadãos brasileiros residem em Portugal, e representam cerca de 40% da população estrangeira, com maior incidência nos concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Porto e Braga.
No final de 2022, viviam no país 239.744 brasileiros, o que representa, só este ano, um aumento de cerca de 36% desta comunidade. Perto de 153 mil adquiriram autorização de residência desde janeiro.
Em declarações à Lusa, em outubro, no Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher, a ministra das Mulheres do Brasil, afirmou que o Governo brasileiro está atuante, atento e a “dar o suporte à comunidade brasileira em Portugal” vítima de intolerância e violência, principalmente às mulheres.
“Nós sabemos que sempre que há um levante de supremacistas, em qualquer lugar do mundo, as mulheres figuram entre os grupos sociais mais vulneráveis e é justamente contra elas que são deferidos os primeiros golpes de intolerância e violência”, acrescentou.
No caso concreto de Portugal, detalhou a ministra, o Governo brasileiro “tem atuado para dar o suporte à comunidade brasileira em Portugal”, a maior comunidade estrangeira no país e a que mais tem crescido nos últimos anos.
Este trabalho tem sido feito através de acordos de cooperação internacionais, entre os quais o trabalho conjunto de universidades brasileiras e portuguesas “por meio do Observatório de Combate ao Racismo e à Xenofobia, em Portugal”.
Durante a visita oficial do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Igualdade Racial no Brasil, Anielle Franco, e a primeira-dama, Janja da Silva, reuniram-se “com mulheres brasileiras em Portugal e ouviram os relatos do aumento dos casos de xenofobia”, lembrou Cida Gonçalves.
Estas declarações à Lusa surgiram na sequência de uma reportagem do portal brasileiro UOL, no início de outubro, ter denunciado o aumento de casos de xenofobia contra brasileiros em Portugal, com vários testemunhos de residentes no país.
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