Após vários dias de silêncio sobre o assunto, Harry Roque, porta-voz do chefe de Estado, considerou uma “vitória” o facto de a repórter ter sido distinguida com o Prémio Nobel da Paz.
Trata-se da primeira vez que um cidadão filipino é distinguido com o Prémio Nobel da Paz.
Maria Ressa, de 58 anos, comparte com o jornalista russo Dmitry Muratov o galardão atribuído pelo Comité Nobel norueguês que destacou os esforços de ambos “para a salvaguarda da liberdade de expressão que é uma condição prévia da democracia e para a paz duradoura”.
Por outro lado, o porta-voz do governo das Filipinas afirmou que “a liberdade de imprensa está viva” no país, sublinhando que o Presidente Duterte “não ordenou o fecho” de meios de comunicação social, apesar de não ter sido renovada a licença do canal ABS-CBN.
“Nenhuma pessoa foi censurada nas Filipinas” disse Harry Roque, acrescentando que Maria Ressa vai ter “ainda de lavar o próprio nome nos tribunais”.
“Vamos deixar os tribunais decidir”, disse o porta-voz de Duterte.
A jornalista Maria Ressa é responsável por uma importante investigação jornalística sobre a polémica “guerra contra as drogas” iniciada por Duterte desde que chegou ao poder, em 2016, e enfrenta sete processos judiciais nas Filipinas.
O portal de notícias fundado por Maria Ressa em 2012, intitulado Rappler, foi várias vezes ameaçado de encerramento por parte das autoridades de Manila.
A campanha governamental ordenada pelo chefe de Estado contra o consumo e tráfico de estupefacientes nas Filipinas é responsável por milhares de mortos, vítimas de operações policiais e de supostas execuções extra-judiciais que estão a ser investigadas pelo Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade.
Ressa também mostrou forte resistência contra as “notícias falsas” e campanhas de desinformação através de contras associadas ao regime nas redes sociais como o Facebook.
O Comité Nobel reconheceu a “defesa pela liberdade de expressão” de Maria Ressa e a luta contra o “abuso de poder, uso da violência e contra o crescente autoritarismo nas Filipinas”.
“Às vezes brinco e digo que realmente poderia agradecer ao presidente Duterte muitas coisas. Obrigou-me a definir mais linhas e a agarrar-me aos meus valores e ideias; obrigou o Rappler a ser mais idealista, melhor, mais rápido e impulsionado pelos objetivos. Espero que sejamos mais fortes”, disse Ressa depois de ter sido distinguida com o Prémio Nobel da Paz.
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