Em conferência de imprensa, após ter tomado posse como novo arcebispo de Braga, José Cordeiro admitiu sentir “vergonha e humilhação” pelos abusos sexuais no seio da Igreja.
“O contexto é de cuidar de todos, cuidar de todas as feridas. É uma crise grande que vivemos mas a crise é de purificação, porque é a verdade que nos liberta e a verdade pode custar e estamos todos a sofrer com isto, mas é para que ela nos liberte e para que a Igreja seja um lugar acolhedor, um lugar seguro, um lugar de paz e de reconciliação”, referiu.
José Cordeiro falava a propósito da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, que iniciou em janeiro um período de recolha de denúncias de vítimas de casos ocorridos desde 1950, suscetíveis de serem remetidos às autoridades e serem investigados.
Nos cinco primeiros dias de funcionamento, a comissão já tinha validado 102 testemunhos, recebidos por preenchimento de inquérito ‘online’ ou por chamada telefónica.
Questionado pelos jornalistas se teme eventuais “surpresas” resultantes da ação desta comissão, José Cordeiro preferiu pôr a tónica no “cuidar das feridas” das vítimas e das respetivas famílias.
“Creio que a sociedade chegou tarde e a Igreja também, mas estamos em tempo de, juntos, com seriedade, com justiça, com caridade, com misericórdia, compaixão e ternura com as vítimas e com todas as pessoas que vivem esse sofrimento (…) dar voz ao seu silêncio e falar dele”, acrescentou.
Lembrou que a comissão é para estudo do fenómeno “e não para investigação”.
“O exercício é curar as feridas”, reiterou.
Até aqui bispo de Bragança-Miranda, José Cordeiro, de 54 anos, tomou hoje posse como novo arcebispo de Braga, sucedendo a Jorge Ortiga, que ocupou o cargo durante 22 anos.
Na conferência de imprensa, disse que dedicará uma atenção especial aos pobres e aos jovens, mas também aos doentes, aos reclusos e às “periferias” assistenciais, sociais e geográficas.
Admitiu ainda que a diminuição do número de fiéis na “velha Europa” é “preocupante” e constitui “um enorme desafio” para a Igreja.
“Não estamos preocupados com estatísticas, porque as estatísticas são a ruína da Igreja. Mas temos de tentar perceber as razões por que deixaram a Igreja, quais as feridas que existem e ser o azeite e o vinho, como o bom samaritano”, advogou.
A celebração de início do Ministério Pastoral de José Cordeiro na Arquidiocese de Braga está marcada para domingo, na Sé Catedral.
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