O bispo da Diocese de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, disse hoje não ser aceitável que a distribuição de vacinas contra a covid-19 se transforme numa arma geopolítica. “A imunização extensiva deveria considerar-se um bem comum universal e, por isso, a distribuição das vacinas não pode obedecer a outro critério que não seja o de saúde pública. Não é aceitável, nem compreensível que se transforme numa arma geopolítica”, afirmou António Marto na conferência de imprensa que antecede a peregrinação internacional de maio ao Santuário de Fátima, que hoje começa.

António Marto congratulou-se ainda com o facto de se caminhar “a passos largos para a imunidade de grupo”.“Parece que, finalmente, podemos ver uma luz ao fundo do túnel, mas todo o cuidado é pouco”, avisou, considerando que “a pandemia ainda não passou e é preciso prosseguir a vacinação”. Para o bispo de Leiria-Fátima, “todos devem ter acesso à vacina em Portugal, na Europa e no mundo”.

António Marto abordou também a crise económica e social decorrente da pandemia, considerando que exige “uma atenção própria, sobretudo com respeito pela dignidade das pessoas e, por conseguinte, também, pelo direito ao trabalho e ao trabalho digno”. O cardeal citou depois o papa Francisco, dizendo que “enquanto a economia real que cria emprego está em crise - quantas pessoas estão sem trabalho -, os mercados financeiros nunca estiveram tão excessivamente aumentados como agora”.

Repetindo as palavras de Francisco, António Marto referiu ainda que “as finanças, se não forem regulamentadas, tornam-se pura especulação animada por políticas monetárias”, situação que é insustentável e perigosa, mas que ainda há tempo de iniciar um processo de mudança global para “colocar em prática uma economia diferente, mais justa, inclusiva, sustentável”.

Visita do papa é oportunidade para a economia local

O bispo de Leiria-Fátima mostrou-se todavia esperançado quanto à visita do papa Francisco a Fátima, em 2023, que deverá ser uma oportunidade para a economia local, que foi fortemente afetada pela pandemia.

“É um sinal de grande esperança, não só pelo que significa esta vontade do papa de se fazer peregrino de novo aqui na Cova da Iria, mas também pela oportunidade que pode representar para a economia local, que tem sentido fortemente o impacto desta crise”, afirmou o cardeal.

Francisco confirmou ao bispo, em 29 de abril, a intenção de visitar Fátima em 2023, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará em Lisboa. A confirmação foi feita durante uma audiência privada entre o cardeal António Marto e o papa Francisco, no Vaticano.

Para António Marto, a visita do papa à Cova da Iria “enfatiza a importância do lugar” e da mensagem deixada virgem de Fátima. “Renova a ligação forte entre o papa Francisco e Fátima, que a mim me surpreendeu”, frisou.

Os efeitos da pandemia no Santuário

Os efeitos da pandemia sentem-se também no Santuário de Fátima, segundo o seu reitor, Carlos Cabecinhas, que, no entanto, garantiu aos jornalistas que a situação económica e financeira, sendo difícil, não põe “em causa a estabilidade da instituição”.

“Este tipo de situações tem um peso extremamente grande e negativo naquilo que é o exercício anual do santuário. O ano passado entendemos avançar com um processo de reestruturação, precisamente numa perspetiva responsável de quem sabia que não estávamos a viver um momento pontual de um ano, mas de uma situação que se ia prolongar”, justificou.

Segundo o reitor, “a situação económica e financeira do santuário é estável como sempre foi”, mas “estes tempos são difíceis”.“Todos temos consciência da dificuldade, mas o santuário tem uma situação que lhe permite continuar, com responsabilidade, a fazer frente e a responder aos seus compromissos”, garantiu.Carlos Cabecinhas anunciou que o santuário retomará, “assim que a situação pandémica o permita, as atividades com doentes e com idosos, que são os mais frágeis e que maior atenção merecem”.

“Mas não descuraremos os jovens, que se contam também entre os mais frágeis, não já por motivos de saúde, mas de condições sociais e, tantas vezes, pela falta de horizontes e de esperança”, acrescentou.

O reitor disse ainda que, este ano, o santuário criará condições “para avançar com um centro de escuta e de atendimento para aquelas pessoas que precisam de apoio espiritual para enfrentarem as situações da vida”.