Foi esta a justificação avançada pelo responsável do MPLA para explicar o facto de os filhos mais velhos do ex-Presidente se terem hoje queixado de não terem sido avisados de que o tribunal tinha dado autorização para a transladação do corpo de José Eduardo dos Santos, que morreu a 8 de julho em Barcelona, para Luanda.
“As filhas andaram distraídas (…) estavam na praia, estavam a fazer desfiles de moda, etc.”, comentou o dirigente, indicando que vão ser feitos os “atos públicos que se impõem”, tal como o velório realizado em junho, agora na presença do corpo.
Questionado sobre se as filhas, nomeadamente Isabel dos Santos, a braços com a justiça angolana poderão vir ao funeral, replicou: “se não devem nada ao Estado, por que não? Se têm algum problema com a justiça, elas que o resolvam, nós temos de tratar o ex-Presidente da República como ele merece.
Rui Falcão falava aos jornalistas após um enorme comício — o último do candidato do MPLA, João Lourenço, para mobilizar os seus apoiantes e convencer o eleitorado que “a força do povo” continua a estar com o partido que governa Angola desde a independência, em 1975.
“Temos eleições no dia 24 de agosto e o MPLA vai vencê-las, isso para nós é o mais importante. Depois das eleições vamos fazer o ato que ele merece”, declarou com visível satisfação.
Sobre a chegada do corpo hoje, data que em que o atual Presidente da República, Joao Lourenço, que se recandidata a um novo mandato fez o comício de encerramento da campanha, sublinhou que o partido não dita o calendário da justiça espanhola.
“A justiça espanhola decidiu neste quadro e nós tivemos de tomar a decisão de Estado que se impunha, por isso o corpo vai chegar daqui a pouco”, afirmou.
Admitiu que o funeral será “provavelmente” no dia 28 de agosto, rejeitando aproveitamento político da situação.
“Se quiséssemos fazer aproveitamento político faríamos agora, esta mole humana que está aqui respeita o Jose Eduardo dos Santos como sempre respeitou”, frisou o porta-voz do MPLA, apontando a multidão de militantes que hoje se deslocaram ao recinto do Camama para ouvir João Lourenço que, optou no seu discurso, por não fazer qualquer referência ao seu antecessor no cargo.
“Quem não respeita é a família”, acrescentou Rui Falcão.
O corpo de Jose Eduardo dos Santos foi disputado em tribunal por duas fações da família: uma, da viúva Ana Paula dos Santos e dos filhos mais novos, favoráveis a um funeral de Estado em Luanda, apoiada pelo regime angolano; outra, dos filhos mais velhos, nomeadamente Tchizé dos Santos, contrária à entrega dos restos mortais à viúva e à realização de exéquias em Luanda, já que há vários anos residem fora da capital angolana e dizem ser perseguidos pelo governo de João Lourenço.
“Vamos fazer os atos de Estado que se impõem para a figura que ele era, vamos respeitar o que sempre fizemos. Fizemos com Agostinho Neo e vamos fazer com José Eduardo”, reforçou o dirigente do MPLA.
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