“As necessidades são muitas”, disse Maria Mónica Moreira da Rocha, da Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima e responsável pela Casa do Imaculado Coração de Maria, em Lichinga.
Apesar de se localizar a cerca de 400 quilómetros de Cabo Delgado, zona afetada por ataques armados de insurgentes, Lichinga recebeu famílias inteiras que fugiram da violência, segundo o relato da freira, hoje divulgado pela Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre).
Segundo a irmã Mónica da Rocha, é preciso fazer chegar ajuda a estas populações, pois nos campos de deslocados de Lichinga há muitas carências.
“As necessidades são muitas e as ajudas são poucas, nomeadamente do Governo e de outras entidades”, disse a religiosa portuguesa, alertando que, com o aproximar da época das chuvas, “as condições vão piorar” nos bairros onde precariamente os deslocados estão a viver.
A freira explicou que, “neste momento, só na Paróquia da Cerâmica, em Lichinga (…), vivem 161 deslocados oriundos de Cabo Delgado e que estão espalhados por três bairros em casas de habitantes locais que cederam provisoriamente [o alojamento].”
Mónica da Rocha, por outro lado, reconheceu que, apesar das recentes vitórias militares no combate aos insurgentes e que permitiram a libertação, por exemplo, da vila de Mocímboa da Praia, o regresso dos deslocados a casa não parece ser ainda uma possibilidade em consideração.
“A insegurança ainda não permite equacionar essa hipótese”, segundo a freira.
“Pedimos por eles, para que todos os que de alguma forma puderem ajudar que ajudem, porque realmente as necessidades são muitas e os apoios são poucos e neste momento voltar a Cabo Delgado é algo muito incerto e muito inseguro”, acrescentou.
Na semana passada, também o administrador apostólico de Pemba, Moçambique, António Juliasse, considerara que ainda não estão criadas as condições para que os padres e as religiosas regressem às missões de origem na província de Cabo Delgado.
O também bispo auxiliar de Maputo, que há sete meses substituiu o antigo bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, disse, em declarações também divulgadas pela Fundação AIS, que “a questão da segurança ainda é precária”.
“A primeira coisa que temos realmente de garantir é que o povo pode voltar em segurança e retomar a sua vida em segurança (…). Mas eu penso que ainda precisamos [de tempo]. Na medida em que o povo regressar, então nós também equacionaremos a possibilidade de os missionários retornarem para lá. Mas, para nós, o termómetro será compreendermos efetivamente no terreno de que existe segurança”, acrescentou.
A luta contra os insurgentes em Cabo Delgado ganhou um novo impulso quando, em 08 de agosto, forças conjuntas de Moçambique e do Ruanda reconquistaram a estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia, que estava nas mãos dos rebeldes há mais de um ano.
Os ataques armados por insurgentes desde 2017 em distritos do norte de Cabo Delgado provocaram mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
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