"Consternado"com óbito de Eduardo dos Santos, MPLA suspende todas as atividades políticas até fim do luto nacional
"Neste momento já suspendemos toda a atividade política do partido. Não vamos realizar qualquer outro ato até que termine o luto nacional”, afirmou, em declarações à Lusa, o porta-voz do MPLA Rui Falcão.
Rui Falcão adiantou que o partido, " além de acompanhar o programa de Estado" irá ter um programa próprio de homenagem ao ex-presidente, sobre o qual disse não poder adiantar, para já, pormenores.
"O que lhe posso dizer é que é um momento de profunda consternação", concluiu.
UNITA lembra ex-Presidente angolano como “homem de fino trato"
A UNITA, maior partido da oposição angolana, lembrou o ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, como um “homem de fino trato, com quem se podia dialogar até nos momentos mais conturbados das disputas interpartidárias”.
Num comunicado, assinado pelo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior refere que foi com bastante pesar que recebeu a notícia do falecimento de José Eduardo dos Santos.
A nota realça que José Eduardo dos Santos foi o segundo Presidente da República da história de Angola, cossignatário dos múltiplos acordos de paz celebrados com a UNITA.
“A direção do partido verga-se perante a sua memória e lembra aos angolanos que o malogrado, enquanto no exercício do seu magistério, e presidindo um partido com visões opostas às da UNITA, se revelou como homem de fino trato, com quem se podia dialogar, até nos momentos mais conturbados das disputas interpartidárias”, lê-se no comunicado.
"Neste momento juntamo-nos à sua família condoída e a todos os angolanos, para que esta perda seja compreendida com a esperança do conforto de Deus", acrescenta Adalberto da Costa Júnior.
A direção do segundo maior partido de Angola avisa que durante os dias de luto nacional declarados pelo Governo angolano irá suspender todas as manifestações políticas de massas programadas para este período.
Filha escreve nas redes sociais que "os pais nunca morrem"
Tchizé dos Santos, filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos, escreveu hoje nas redes sociais que “os pais nunca morrem” e “vivem para sempre” nos filhos, minutos após o anúncio da morte do pai.
“Os pais nunca morrem porque são o amor mais verdadeiro que os filhos conhecem em toda a vida. Eles vivem para sempre dentro de nós”, escreveu Tchizé dos Santos na rede social Instagram, numa mensagem acompanhada por uma colagem de fotografias antigas da família.
Governo português apresenta condolências e lembra crescimento de Angola
O Governo português disse hoje que "lamenta a morte” do antigo Presidente da República de Angola e acrescenta que durante a sua presidência o país cresceu e consolidou-se internacionalmente, fortalecendo os laços com Portugal.
"O Governo Português lamenta a morte do antigo Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, e apresenta condolências à família e à Nação angolana neste momento de luto nacional", lê-se na nota.
"Durante a sua presidência, Angola trilhou um caminho de crescimento e consolidação, incluindo no panorama internacional e no espaço lusófono, ao mesmo tempo que se continuaram a fortalecer os laços entre Portugal e Angola", conclui o comunicado.
Marcelo fala em “protagonista decisivo” nas relações com Portugal
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou hoje as condolências ao seu homólogo de Angola, João Lourenço, pela morte do antigo chefe de Estado José Eduardo dos Santos, “protagonista decisivo” nas relações entre os dois países e povos.
“O Presidente José Eduardo dos Santos foi o interlocutor de todos os Presidentes Portugueses em Democracia, durante quatro décadas, constituindo um protagonista decisivo nas relações entre os Estados e os Povos Angolano e Português”, lê-se na mensagem oficial publicada na página da Presidência da República.
Nessa nota de três parágrafos, refere-se ainda que “Portugal testemunha o respeito devido a essa longa memória, em período determinante para o nascimento e o arranque da CPLP e do engrandecimento” das “relações bilaterais após a descolonização”.
Em declarações à SIC, minutos antes da divulgação da nota, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou precisamente a ideia de se tratar de “um protagonista decisivo em momentos mais diversos dessas décadas, desde o final dos anos 1970 até à substituição pelo Presidente João Lourenço em 2019”.
Marcelo Rebelo de Sousa revelou já ter apresentado telefonicamente condolências ao Presidente de Angola, João Lourenço, e que “Portugal estará representado pelo Presidente da República e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros nas exéquias”.
“É evidente que é uma personalidade que marcou as relações num período particularmente sensível, que foi o período imediatamente subsequente à institucionalização pós-independência em Angola e também quando em Portugal estava a institucionalizar-se a primeira fase da democracia”, sustentou.
Santos Silva realça “contributo determinante” para construção da paz em Angola
O presidente da Assembleia da República realçou hoje o “contributo determinante” do ex-chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos para a construção da paz em Angola, e enviou sentidas condolências ao povo angolano e à Assembleia Nacional deste país.
“Na morte de José Eduardo Santos recordo o seu contributo determinante para a construção da paz em Angola. Transmito sentidas condolências à Assembleia Nacional e a todo o povo angolano”, escreveu o presidente da Assembleia da República.
João Gomes Cravinho destaca mandato "longo, difícil e complexo"
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, disse hoje que o antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que morreu hoje, tem um papel "indelével na história de Angola", num mandato presidencial "longo, complexo e difícil".
"Portugal lamenta profundamente a morte de José Eduardo dos Santos", afirma o ministro, num testemunho enviado à Lusa, em que salienta a figura "profundamente marcante, indelével da história de Angola independente" do antigo líder.
"O seu longo período no poder foi complexo e difícil, houve anos de guerra e de paz, e quero sublinhar essa capacidade que teve de, juntamente com a outra parte, encontrar o caminho para a paz, foram anos em que depois da guerra civil se conseguiu implementar um processo democrático e ao longo de todos os anos em que foi Presidente da República, Portugal nunca deixou de ser uma referência e houve sempre uma procura de proximidade de parte a parte, apesar das dificuldades, em parte elas próprias resultando da grande proximidade sentida entre os povos", conclui Gomes Cravinho.
Cavaco Silva recorda "artífice decisivo" na construção da paz
“No momento da morte do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, envio à sua família as mais sentidas condolências e ao povo amigo de Angola uma palavra de conforto pela partida de uma notável figura nacional”, dá conta uma nota do gabinete de Cavaco Silva enviada à Lusa.
O antigo Presidente português recorda Eduardo dos Santos como “um artífice decisivo na construção da paz e da reconciliação nacional da nação angolana”, com quem mantinha “uma duradoura relação de confiança, que permitiu ultrapassar as dificuldades que marcavam as relações” entre os dois países na década de 1980.
“Testemunhei o seu firme empenho pessoal e as decisões particularmente difíceis e complexas que tomou. Com José Eduardo dos Santos, de inteligência fina, convincente na argumentação, sereno e sábio no uso da palavra, foi possível reforçar a cooperação entre Portugal e Angola”, considerou o ex-chefe de Estado de Portugal.
Ao longo dos anos, prosseguiu Cavaco Silva, a relação entre Portugal e Angola passou “da desconfiança” à “amizade e isso deve-se, em grande medida, a José Eduardo dos Santos”.
“Neste momento de despedida, presto-lhe a minha homenagem”, finalizou.
PS evoca "agente decisivo" na construção da paz em Angola
O PS expressou hoje o seu pesar pela morte do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que considerou ter sido um "agente decisivo" na construção da paz em Angola.
"José Eduardo dos Santos desempenhou um papel relevante na consolidação das relações entre Portugal e Angola e afirmou-se como um agente decisivo para a construção dos pilares da paz neste país, com o qual é partilhada uma forte proximidade histórica, linguística e cultural", lê-se num comunicado da direção nacional do PS.
Os socialistas endereçam ainda as suas "sinceras condolências" aos familiares, amigos e ao povo angolano neste "momento de luto e tristeza".
PSD destaca papel na consolidação da independência e construção da paz
Numa curta nota enviada às redações, o PSD manifestou pesar pela morte de José Eduardo dos Santos.
“O PSD envia à família, ao Povo e ao Estado Angolano, as condolências pelo falecimento do ex-presidente José Eduardo dos Santos, evocando, nesta hora de luto, o seu papel na consolidação da independência e na construção dos alicerces da paz e da unidade nacional”, pode ler-se.
Chega: "Hoje também não podemos esquecer o ditador"
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, André Ventura apresentou os seus "sentimentos à família de José Eduardo dos Santos e também ao povo angolano" pela morte de José Eduardo dos Santos, aos 79 anos, após doença prolongada.
"Acompanhamos nesse sentido o luto da família e do povo angolano, que saudamos", afirmou.
O líder do Chega criticou, no entanto, o ex-Presidente da República, considerando que "que usou o poder do Estado angolano para se prolongar e perpetuar no poder, às vezes com recurso a violência, à morte e à intimidação".
"Reconhecendo a dor familiar e a dor de muitos cidadãos angolanos, hoje também não podemos esquecer o ditador, o homem que apesar das promessas de democratização, verdadeiramente nunca o conseguiu concretizar", salientou.
Ventura defendeu igualmente que José Eduardo dos Santos "aglomerou toda a família como uma verdadeira elite de poder, uma cleptocracia, com tiques de nepotismo muito, muito profundos, e que o Estado angolano ainda hoje está a pagar e que a nova presidência angolana ainda hoje está a pagar".
"José Eduardo dos Santos, se hoje certamente alguns sofrem com a sua perda, é um dos principais responsáveis pelo enorme empobrecimento do povo angolano e a sua morte não apagará isso, por muito que a dor da sua família seja para nós um dado a respeitar e de alguma parte do povo angolano", declarou.
O líder do partido português de extrema-direita indicou que não é possível esquecer "o mal que foi feito ao povo angolano, o mal que às vezes foi feito nas relações entre Angola e Portugal, cuja deterioração também pontual foi levada a cabo por José Eduardo dos Santos e, sobretudo, o péssimo exemplo de nepotismo e cleptocracia que José Eduardo dos Santos deixa para o futuro e deixa para o continente africano".
BE diz-se contra limpar história manchada por “triste realidade"
O BE afirmou hoje que José Eduardo dos Santos liderou Angola “em função dos seus interesses” e “contra o povo”, num “regime autocrático e cleptocrático”, defendendo que a sua morte não pode “limpar uma história” manchada pela “triste realidade”.
Numa curta declaração aos jornalistas nos Passos Perdidos da Assembleia da República, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, reagiu à morte de José Eduardo dos Santos. “O Bloco de Esquerda gostava de realçar que estamos a falar de uma pessoa que foi líder de um país que governou em funções dos seus interesses, dos interesses da sua família e de uma pequena elite, contra todo um povo”, começou por criticar.
Segundo o dirigente do BE, José Eduardo dos Santos “esteve à frente de um regime autocrático, cleptocrático, responsável pelo assassinato de centenas de pessoas”.
“Neste momento que ficará também marcado para a história não podemos deixar que ele sirva para limpar uma história que é manchada por esta triste realidade”, enfatizou.
PCP recorda homem que venceu "sobre domínio colonial português"
Em comunicado, o PCP “transmite ao Movimento Popular para a Libertação de Angola [MPLA] e ao povo angolano as sentidas condolências” pela morte de José Eduardo dos Santos.
Os comunistas recordam Eduardo dos Santos como um homem “que conduziu o povo angolano à vitória sobre o domínio colonial português” enquanto presidente do MPLA e que depois de ser eleito Presidente da República travou “duríssimos combates, com dificuldades e complexidades”, pela defesa e consolidação da independência do país, e “contra a agressão imperialista e racista”.
“Recordando a contribuição de José Eduardo dos Santos para o desenvolvimento das tradicionais relações de amizade e solidariedade entre o PCP e o MPLA, assim como para as relações entre o povo português e o povo angolano, o PCP reitera ao MPLA o seu sentido pesar e a sua solidariedade”, lê-se no comunicado.
PAN repudia "regime de terror, medo e perseguição"
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou hoje que o legado de José Eduardo dos Santos fica marcado por uma "asfixia democrática" e por um "regime de terror, medo e perseguição".
"Não podemos por isso deixar de repudiar o regime de terror, medo e perseguição que promoveu, senão veja-se o caso de ativistas como Luaty Beirão, que procurou fazer despertar a comunidade internacional para o que se passava em Angola", defendeu a deputada do PAN numa nota enviada aos jornalistas a propósito da morte do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos.
Inês Sousa Real afirmou que, "ainda que se trate da perda de uma vida, o que é, por si, sempre algo a lamentar", não é possível esquecer o "legado que o ex-Presidente angolano deixou em termos sociais e económicos para o país e para o seu povo".
"Desde logo, não esquecemos que durante a sua governação se verificou uma asfixia democrática, marcada também por perseguição e prisão de opositores políticos e diversos condicionamentos à liberdade de expressão e de associação", criticou, apontando que, "mesmo com os sinais de abertura dos últimos anos, o país continua a sentir os seus efeitos, inclusive ao nível financeiro, cuja dívida é equivalente à sua fortuna pessoal".
A líder do PAN destacou também "a ausência de políticas que promovessem o desenvolvimento sustentável do país e o combate à fome e à pobreza e a outras formas de desigualdade social, algo que em muito se ficou a dever a um sistema cleptocrático - em que dinheiros públicos eram usados em benefícios de altos quadros políticos e empresariais - e de que José Eduardo dos Santos era o responsável máximo e relativamente ao qual diversos responsáveis políticos sempre mantiveram um inexplicável silêncio".
Mira Amaral recorda "comportamento sereno e frio" de antigo Presidente
O antigo ministro e líder do Banco BIC, Luís Mira Amaral, recordou o antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que morreu hoje, como uma pessoa com um “comportamento bastante sereno e frio”.
Contactado pela Lusa, Mira Amaral respondeu que apenas esteve com José Eduardo dos Santos uma vez: “Apenas o cumprimentei uma vez, quando ele veio em visita oficial a Portugal, numa receção no Palácio da Ajuda [Lisboa] a convite do então Presidente da República, Cavaco Silva, (…), mas nunca conheci o senhor”.
No entanto, o economista recordou a “longa duração” do mandato do antigo chefe de Estado angolano e reconheceu-lhe um “comportamento bastante sereno e frio”.
“Acho que teve um comportamento bastante sereno e frio quando o líder da UNITA [Jonas Savimbi] desapareceu. Ele foi bastante frio na gestão das coisas em nome da paz. Teve esse comportamento bastante positivo nessa fase”, disse.
Ana Gomes lamenta opção pelo "esquema cleptocrático"
“José Eduardo dos Santos chegou a ser uma promessa de transição para a democracia e tornar uma Angola mais desenvolvida e mais justa, mas essa promessa esboroou rapidamente”, disse à Lusa a ex-candidata à Presidência da República Portuguesa.
Ana Gomes afirmou que essa promessa ocorreu com o fim da guerra em 2002, “mas sob o regime do todo-poderoso José Eduardo dos Santos, ele optou por aquilo a que eles justificavam como uma acumulação primitiva de capital e pelo desenvolvimento de uma cleptocracia em favor de uma elite que inclui a sua família e os seus mais próximos contra o povo deixado na miséria”.
A antiga deputada socialista lamentou também que esse processo “de suposta transição para a democracia que se esboroou” tenha tido “a cumplicidade de muitos responsáveis políticos portugueses, que ajudaram a contribuir para essa farsa, ao mesmo tempo que beneficiavam dos efeitos económicos de prestar” Portugal “a tornar-se na principal lavandaria para essa cleptocracia angolana”.
“Também Portugal acabou por ser contaminado por esse esquema cleptocrático, que começou desde logo por controlar os grupos de ‘media' portugueses porque sabiam da sua importância para a informação que é passada para Angola”, precisou.
A ex-embaixadora sublinhou que, apesar de momentos de grande dureza, as relações entre o povo angolano e português “são intensas e de irmandade”.
Ana Gomes sustentou igualmente que “o que José Eduardo dos Santos instaurou em Angola impediu” que este país tenha desenvolvido o seu potencial.
“É um país que podia ser uma força estabilizadora geopoliticamente para a África, mas é um gigante com peso de barro, não desenvolveu a agricultura, a pesca, a base industrial e ficou tudo dependente da maldição do petróleo que é obviamente a fonte da renda que alimenta a cleptocracia”, frisou.
Ana Gomes disse ainda esperar que a morte de José Eduardo dos Santos “traga paz a Angola” e que “não cause mais tensão num período em que as tensões naturalmente se acumulam, visto que em agosto haverá as chamadas eleições”.
Durão Barroso evoca o estadista que ficará na História de África
"Recordo alguém de excecional inteligência, que foi capaz de garantir a unidade nacional angolana num contexto geopolítico extraordinariamente difícil, que ficará indelevelmente na História de Angola, de África e também das relações de Angola com Portugal", escreveu o ex-presidente da Comissão Europeia e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português, numa declaração enviada à agência Lusa.
José Manuel Durão Barroso, que antes de chefiar o Governo foi mediador, em representação de Portugal, dos Acordos de Paz para Angola, lembrou "com saudade" José Eduardo dos Santos.
"Não posso deixar de lembrar com saudade o patriota angolano e o estadista, com quem tive a honra de trabalhar para a paz e a reconciliação nacional em Angola. Recordo sobretudo que este foi o processo que conduziu às primeiras eleições livres e democráticas em Angola, e como tal reconhecidas pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional", sublinha no texto.
Durão Barroso assinala que "este momento fúnebre e triste não é o adequado para fazer um balanço completo da ação de José Eduardo dos Santos, e das muito complexas situações que Angola teve de enfrentar durante a sua presidência".
No entanto, o ex-presidente da Comissão Europeia fez questão de "lembrar e reconhecer as palavras amigas" que Eduardo dos Santos "sempre teve em relação a Portugal e a importância que sinceramente dava às relações entre os dois países".
"À família, aos amigos mais próximos, às autoridades angolanas e a todos aqueles que na nação amiga angolana hoje lamentam o seu desaparecimento, apresento as minhas mais sentidas condolências", escreve ainda o antigo primeiro-ministro, que antes desempenhou os cargos de ministro dos Negócios Estrangeiros e de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal.
Cabo Verde “perdeu um grande amigo” e está “de luto”
“Cabo Verde perde um grande amigo e um líder africano que sempre contribuiu para o crescimento económico e espiritual destas ilhas, de modo que também estaremos de luto pela morte do Presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou o chefe de Estado cabo-verdiano.
José Maria Neves foi primeiro-ministro de Cabo Verde de 2001 a 2016, período em que José Eduardo dos Santos, enquanto Presidente de Angola (1979 a 2017), chefiava igualmente o executivo angolano.
Agualusa diz que lutas dos filhos tornam "indigno" o fim de vida
“É muito triste a forma como decorreram estes últimos dias com os filhos lutando uns com os outros e em particular uma das filhas fazendo acusações absurdas contra o Presidente atual”, disse o escritor luso-angolano em declarações à Lusa por telefone.
“Tudo isto me parece muito triste. Acho que, enfim, de alguma forma, veio tornar um pouco indigno todo este processo, que podia ser um processo, um drama íntimo da família”, acrescentou.
Agualusa disse não acreditar que a morte de José Eduardo dos Santos possa “provocar grandes sobressaltos em Angola”, uma vez que o que o antigo presidente já estava “há bastante tempo (…) totalmente afastado da vida política e social” do país.
Sobre o legado do ex-presidente, o escritor disse ser “difícil esquecer que o Presidente José Eduardo dos Santos foi o principal responsável pelo início da grande corrupção em Angola”.
Mas considerou ser “de justiça reconhecer” que, imediatamente após chegar ao poder, Dos Santos “tratou de pôr um ponto final no processo de perseguição e de crimes de Estado que Presidente anterior, Agostinho Neto, iniciou logo após a Independência” de Angola.
“José Eduardo dos Santos tratou de libertar a maioria dos presos políticos, sobretudo aqueles presos ligados ao processo de organização comunista de Angola e os chamados ‘nitistas’ e mais tarde acabou com a pena de morte. Então é justo reconhecer isso”, afirmou.
E concluiu: “Não me parece que o José Eduardo dos Santos fosse um homem que gostasse de violência, mas a verdade é que ele esteve quase 40 anos no poder, um poder quase total. E durante esse tempo foram cometidos crimes muito graves, portanto, é impossível esquecer esse passado e essa herança”.
João Soares lamenta morte do "chefe da nomenclatura" angolana
“Teve os melhores cuidados médicos, sobretudo fora de Angola, porque infelizmente a Angola que ele e o João Lourenço deixam, eles são inseparáveis apesar do drama ‘shakespeariano’ entre eles, é uma Angola onde ninguém pode ter um tratamento médico decente, nem sequer a nomenclatura cleptocrática que governa Angola há 48 anos”, disse à agência Lusa João Soares.
Segundo o socialista, José Eduardo dos Santos foi “o chefe desta nomenclatura durante muitos anos” que passou o poder a João Lourenço, atual Presidente, uma vez que “nunca houve eleições livres em Angola”.
João Soares criticou também a educação em Angola ao considerar que “é uma desgraça” e lamentar que “a maior parte da nomenclatura” venha estudar para o estrangeiro, nomeadamente para Portugal.
O antigo ministro da Cultura disse igualmente que “não há o mínimo de segurança social em Angola”, frisando que “basta lá ir por uma semana para perceber o desastre de país que é”, apesar de ter “todas as condições para ser um dos mais produtivos”.
“Eles [José Eduardo dos Santos e João Lourenço] são o poder de uma cleptocracia há 50 anos, eles vão ultrapassar o tempo que durou a ditadura do Estado novo em Portugal e foi uma conjugação de métodos entre aquilo que foram os métodos de Salazar e do Marcelo Caetano e os métodos dos países comunistas”, precisou.
João Soares recordou ainda que José Eduardo dos Santos e João Lourenço foram educados “pela escola salazarista no tempo em que eram mais jovens, e pela escola comunista, quando foram para o exílio”.
Martins da Cruz realça transformação de Angola em “potência regional”
“José Eduardo dos Santos foi um grande presidente angolano e africano, porque ganhou a longa guerra civil - de 1975 até 2002 -, mas a seguir soube ganhar a paz, ou seja, integrar os generais e oficiais da Unita nas Forças Armadas de Angola e chamar vários membros da Unita para o seu próprio governo. Transformou Angola numa potência regional e marcou o tempo angolano e o tempo africano”, afirmou.
Em declarações à Lusa, o antigo diplomata assinalou que José Eduardo dos Santos “soube construir uma democracia” e que Angola pode ser “um exemplo” para outras nações africanas.
Enfatizando a criação de “um sistema partidário que funciona” e “eleições que são fiscalizadas por observadores internacionais”, Martins da Cruz recordou as “dezenas de vezes” que esteve com o antigo chefe de Estado angolano, destacando ainda ter sido “o único português convidado para o último aniversário” celebrado durante a sua presidência.
“Tinha um enorme respeito por Portugal. Sabia exatamente qual era o papel que tínhamos desempenhado para a paz em Angola durante as negociações de paz e respeitava muito as relações com Portugal. Soube sair como presidente e saiu de Angola para não se meter no dia a dia da governação. O atual presidente, João Lourenço, foi o seu último ministro da Defesa e creio que até aí teve um papel para preservar o equilíbrio político e a paz”, acrescentou.
José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos em Barcelona, após doença prolongada, anunciou a Presidência da República de Angola.
O antigo Presidente da Angola estava há duas semanas internado nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona.
Em comunicado, o executivo angolano apresenta "profundos sentimentos de pesar" à família e apela "à serenidade de todos neste momento de dor e consternação”.
Guterres destaca papel de ex-PR no multilateralismo
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou hoje a importância de José Eduardo dos Santos a favor do multilateralismo e destacou a assinatura do acordo de paz que terminou a guerra civil em Angola.
De acordo com uma nota do porta-voz, "o secretário-geral das Nações Unidas afirmou que está triste com a notícia da morte do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos", que faleceu hoje em Barcelona.
O também antigo primeiro-ministro português "salientou ainda que sob a liderança de José Eduardo dos Santos, o país assinou o acordo de paz, de 2002, que colocou fim à guerra civil, que eclodiu após a independência", lê-se ainda na nota, que o antigo chefe de Estado transformou Angola num "importante parceiro regional e do multilateralismo".
Na nota, "António Guterres lembrou que como presidente angolano, José Eduardo dos Santos levou a nação a tornar-se um importante parceiro regional e internacional e salientou o legado de dos Santos para o multilateralismo", lê-se ainda na nota.
José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola em 1979 e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, sendo era regularmente acusado por organizações internacionais de corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.
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