O ciclone Remal deverá atingir hoje à noite a costa sul e partes da vizinha Índia, com o Departamento Meteorológico do Bangladesh a prever ventos fortes com rajadas de até 130 quilómetros (km) por hora.

Nas últimas décadas, os ciclones mataram centenas de milhares de pessoas no Bangladesh e o número dos que atingem a costa, baixa e densamente povoada, aumentou acentuadamente de um para três por ano, devido às alterações climáticas.

“O ciclone poderá desencadear uma tempestade de até quatro metros acima da maré normal, o que é potencialmente perigoso”, disse à AFP Muhammad Abul Kalam Mallik, um alto funcionário da meteorologia.

A maioria das zonas costeiras do Bangladesh situa-se a um ou dois metros acima do nível do mar.

As autoridades bengalis elevaram o nível de alerta do ciclone para o máximo, avisando os pescadores para não saírem para o mar e acionando uma ordem de retirada para os que se encontram em zonas vulneráveis.

“Estamos aterrorizados”, disse Yusuf Fakir, um pescador de 35 anos de Kuakata, uma cidade no extremo sul do Bangladesh, mesmo no caminho previsto para a tempestade. Mandou a mulher e os filhos para casa de um familiar no interior, enquanto ele fica a proteger os seus pertences.

“A nossa vida quotidiana está a ser perturbada”, disse ele, recordando a destruição causada por ciclones anteriores.

Enquanto as pessoas fugiam, a polícia anunciou que um ferry que transportava mais de 50 passageiros – o dobro da sua capacidade – se tinha afundado perto de Mongla, um porto na trajetória prevista da tempestade.

“Pelo menos 13 pessoas ficaram feridas e foram levadas para o hospital”, disse à AFP o chefe da polícia local, Mushfiqur Rahman Tushar, acrescentando que outros barcos tinham levado os restantes passageiros para um local seguro.

O secretário governamental para a gestão de catástrofes, Kamrul Hasan, disse à AFP que tinham sido dadas ordens para retirar as pessoas que viviam em “casas perigosas e vulneráveis” para um local seguro.

“Pelo menos 800.000 pessoas foram transferidas para abrigos contra o ciclone”, acrescentou, salientando que as autoridades mobilizaram dezenas de milhares de voluntários para alertar a população para o perigo.

De acordo com o Departamento Meteorológico bengali, o ciclone, que já obrigou ao encerramento do aeroporto de Calcutá, no sudeste da Índia e próximo da fronteira com o Bangladesh, deverá atingir hoje a costa entre as 18:00 e as 24:00 locais (entre as 12:00 e as 18:00 em Lisboa).

Segundo Hassan, foram preparados cerca de 4.000 abrigos para ciclones ao longo da costa do país na Baía de Bengala, e espera-se que o ciclone varra uma extensão de 220 quilómetros desde a ilha indiana de Sagar até Khepupara, no Bangladesh.

A marinha indiana anunciou hoje que tinha preparado dois navios equipados com material médico para “mobilização imediata, a fim de garantir a segurança e o bem-estar da população afetada”.

Embora os cientistas afirmem que as alterações climáticas estão a provocar mais tempestades, uma melhor previsão e um planeamento mais eficaz da evacuação reduziram significativamente o número de mortos.

Durante o Grande Ciclone Bhola, em novembro de 1970, estima-se que tenham morrido meio milhão de pessoas, a maioria das quais afogadas pela tempestade.

Em maio do ano passado, o ciclone Mocha provocou a tempestade mais poderosa a atingir o Bangladesh desde o ciclone Sidr, em novembro de 2007, que matou mais de 3.000 pessoas e causou prejuízos de milhares de milhões de dólares.

Em outubro passado, pelo menos duas pessoas morreram e quase 300.000 fugiram das suas casas para se refugiarem em abrigos quando o ciclone Hamoon atingiu a costa sudeste do país.