Joanaz de Melo, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), disse, em comunicado, que o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET) é “uma fraude” e acusou o Governo “de laxismo”.
Isto porque, segundo o responsável, quando em abril do ano passado se reavaliou o Programa Nacional de Barragens, por obrigação do acordo que suporta o governo entre o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) e o PS, “recusaram-se a olhar para o que ia ser feito no Tâmega”.
“As obras ainda não tinham começado, de facto, e o acordo referia explicitamente este projeto. Havia alguns acessos, um túnel técnico e nada mais. O PS ignorou o acordo, o PEV deixou que fosse ignorado e o Governo fez de porteiro da Iberdrola, deixando-a entrar à vontade para destruir um rio que é ganha-pão de centenas de famílias – na produção agrícola, no vinho verde, nos desportos de águas bravas”, salientou o dirigente.
A espanhola Iberdrola fez hoje, em Ribeira de Pena, uma apresentação pública do projeto, que inclui a construção de três barragens que, segundo a empresa, a partir de 2023 podem produzir anualmente “1.760 gigawatts hora (GWh), ou seja, 0,6% do consumo elétrico do país”.
O GEOTA, que desde o início se opôs à construção deste empreendimento, disse que fez “as contas” e contestou o valor anunciado pela empresa “quanto à real produção destas obras”.
“O SET contribuirá apenas com 0,1% da energia nacional e 0,6% da eletricidade produzida. A diferença explica-se com o critério de avaliação: a Iberdrola invoca a produção bruta e o GEOTA defende que o que deve ser avaliado é a produção líquida. Isto é, a eletricidade efetivamente injetada na rede nacional e pronta a ser consumida”, referiu a organização.
Para Marlene Marques, presidente do GEOTA, “a criação de emprego é uma falácia, pois são postos de trabalho temporários”.
Durante a construção das barragens de Daivões, Gouvães e do Alto Tâmega, a Iberdrola disse que vão ser criados 13.500 empregos diretos e indiretos
“Por via da destruição dos solos férteis e do último rio com um grande troço livre em Portugal, destroem-se postos de trabalho locais na agricultura e turismo de natureza”, acrescentou Marlene Marques.
Defendeu ainda que “o retorno real das novas barragens do Tâmega é insignificante face aos impactes sociais, ambientais, culturais e económicos do projeto” e que com a evolução esperada das alterações climáticas na região mediterrânica, “tenderá a reduzir-se ainda mais nas próximas décadas”.
As novas barragens do Tâmega, em conjunto com Foz Tua (concessionada à EDP), fazem parte do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico e, segundo o GEOTA, beneficiam de um “subsídio direto do Estado de 21,6 milhões de euros, por ano, durante 10 anos”.
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