Na cerimónia de abertura do Congresso Nacional dos Farmacêuticos, que este ano decorreu à distância (online) por causa da pandemia de covid-19, Ana Paula Martins sublinhou que a entrada de farmacêuticos é fundamental ao bom funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e propôs a sua contratação.
“Que de uma vez por todas tenhamos farmacêuticos nos centros de saúde, a trabalhar com as equipas dos cuidados de saúde primários, não para abrirem farmácias ao público (porque essa experiência já a tivemos com as farmácias de venda ao público nos hospitais), mas para fazerem uma importante função de qualificação da terapêutica, de articulação farmacoterapêutica com os farmacêuticos comunitários, como acontece na nossa vizinha Espanha”, afirmou.
Depois, a bastonária leu partes de algumas cartas que recebeu de farmacêuticos de todo o país, onde expressavam a sua desilusão, cansaço e desânimo com o estado atual da profissão.
Um deles, do interior do país, presidente de uma Instituição Particular de Solidariedade Social com uma creche e jardim infantil com cerca de 50 crianças, disse que vai mesmo avançar e fazer testes rápidos para ajudar a identificar a população infetada com o novo coronavírus.
“As pessoas estão mal informadas, não sabem se estão infetadas, relaxam e disseminam a pandemia. É urgente que a OF tome uma posição mais dura sobre o assunto. Porque o registo na ERS não tem opções para as farmácias, porque dizem ser preciso pessoal especializado...”, refere a carta lida pela bastonária.
Em resposta, Ana Paula Martins respondeu: “vá em frente e a sua Ordem estará ao seu lado, para o defender se for preciso, em nome da população que está a ajudar e a salvar, como o seu juramento ético obriga”.
“Chega de tanta lei que não tem aplicabilidade, normas e mais normas que não se conseguem decifrar, meses de espera por legislação para renovar a receita médica, por um modelo de dispensa em proximidade coerente, que respeite a intervenção farmacêutica na sua dimensão fundamental: a segurança”, acrescentou.
Dirigindo-se ao representante da ministra da Saúde neste congresso, o presidente do Infarmed, Rui Ivo, a bastonária convidou a governante a visitar, de forma anónima, os farmacêuticos comunitários, que disse estarem a ser “descompostos e ameaçados pelos utentes por não terem vacinas da gripe” e explicar-lhes porque não podem fazer testes ao SARS-Cov-2.
“Já são feitos um pouco por toda a parte, até nos ginásios”, afirmou, sublinhando de seguida: “mas aí a ERS [Entidade Reguladora da Saúde] e a inspeção não vão”.
Convidou ainda a ministra Marta Temido a visitar os serviços farmacêuticos hospitalares e a tentar perceber “como conseguem os laboratórios de proximidade sobreviver faturando um euro por cada domicílio aos seniores que já não se podem deslocar” e a “compreender em profundidade porque é tão bizarro imaginar que, de repente, a distribuição farmacêutica se pode concretizar através de carrinhas de hospitais ou das Forças Armadas”.
Rui Ivo, em representação da ministra da Saúde, considerou, por seu lado, os farmacêuticos como “um elemento essencial para informar e desmistificar mensagens menos corretas e comprometedoras da confiança no sistema regulamentar que tem sido desenvolvido com robustez nas últimas décadas”.
Sublinhou os seis contratos já assinados pela União Europeia para as vacinas da covid-19, sublinhando que estas vacinas serão disponibilizadas “após ser assegurada a sua qualidade, segurança e eficácia” pela Agência Europeia do Medicamento e acrescentando que, em paralelo, “será instituído um sistema específico de monitorização da segurança”.
O responsável, também ele farmacêutico, destacou o papel que os farmacêuticos têm tido na prevenção e promoção da saúde, no fomento do uso racional, seguro e eficaz do medicamento e na adesão dos utentes à terapêutica e sublinhando a intervenção das farmácias nas medidas aplicadas para distribuição de medicamentos hospitalares em proximidade por causa da pandemia.
“As medidas implementadas para lidar com a pandemia apenas terão sucesso através da ação conjunta dos cidadãos associada à colaboração das entidades que compõem o sistema de saúde, designadamente as farmácias”, disse Rui Ivo, considerando decisivo o papel dos serviços de saúde e das farmácias comunitárias.
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