Este requerimento, dirigido ao presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, surge na sequência de denúncias da prática de atos de censura no Teatro Municipal do Porto, cuja direção foi acusada de censurar um texto da dramaturga Regina Guimarães.
Em causa uma nota de rodapé, escrita para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, na qual a escritora critica a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.
Num comunicado, o Bloco de Esquerda enumera as “10 perguntas a que Rui Moreira - que é também o vereador da Cultura e se tem remetido ao silêncio - não pode deixar de responder”.
Sem assento na vereação, o grupo municipal do BE questiona se foi dado ao autarca “prévio conhecimento do conteúdo de uma folha de sala de um espetáculo”, se esta é uma prática habitual e que outros conteúdos artísticos são submetidos à opinião do presidente do município antes de serem apresentados.
O BE quer também saber se “é prática corrente elementos do executivo assistirem aos ensaios de imprensa, como aconteceu com a peça ‘Turismo’” e se Rui Moreira teve conhecimento dos factos relatados pela atriz Sara Barros Leitão ao jornal Público sobre a intervenção no projeto Salão dos Recusados, que não chegou a acontecer por alegada ingerência do Teatro Municipal do Porto.
O Bloco pergunta a Rui Moreira se considera existirem razões para proibir a utilização da palavra “recusados” nos textos autorais ou das palavras “vende-se”, “aluga-se” e “trespassa-se” como intervenção artística durante a duração de um projeto.
Entre outras questões que quer ver respondidas, aquele grupo municipal interroga-se como será garantido que a liberdade artística não será mais colocada em causa e se o Teatro Municipal está disponível para reprogramar a peça da companhia A Turma, com a distribuição da respetiva folha de sala e venda do livro proibido ou retomar a iniciativa do Salão dos Recusados.
Por último, o BE pergunta se a vereação da Cultura está em “condições de garantir que os artistas que assumiram posições críticas sobre a autarquia ou sobre a direção do Teatro não sofrerão quaisquer represálias e não deixarão de fazer coproduções ou de dispor do espaço do Teatro Municipal para se apresentarem”.
No comunicado, o Bloco defende que “é à cidade que Moreira deve explicações, não apenas aos partidos, à porta fechada e longe do escrutínio público”.
O presidente da Câmara do Porto reiterou hoje a sua total confiança no diretor do Teatro Municipal do Porto, acusado de censurar um texto de Regina Guimarães, sublinhando que sempre entendeu que o texto devia ter sido publicado.
O voto de confiança de Rui Moreira, que acumula o pelouro da Cultura desde que Paulo Cunha e Silva morreu, foi anunciado no início da reunião desta manhã do executivo municipal, depois de um encontro informal e privado no foi ouvido o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes.
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