O capítulo surge no livro “Sexual Misconduct in Academia - Informing an Ethics of Care in the University (Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade)” e é assinado por três investigadoras: a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom, que estiveram no CES como, respetivamente, investigadora de pós-doutoramento (com uma bolsa Marie Curie) e estudantes de doutoramento.
“Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento”, afirma Boaventura de Sousa Santos na carta enviada a todos os membros daquele centro de investigação de Coimbra.
Para o diretor emérito, “o CES é uma grande instituição, que granjeou merecidamente prestígio tanto nacional como internacionalmente”.
“Os seus investigadores e as suas investigadoras continuarão a lutar por merecer esse prestígio, corrigindo erros, sendo rigorosos e transparentes para com todos os atos de violação de ética profissional e denunciando aqueles e aquelas que, ao ultrapassarem os limites da verdade e da reclamação justa, nos pretendem distrair da nossa missão maior, a de contribuir para a ciência cidadã”, diz, no final de uma carta de sete páginas, escrita a partir do Chile, onde se encontra, de momento.
O sociólogo classifica o artigo assinado pelas três investigadoras como “uma difamação anónima, vergonhosa e vil”.
Boaventura de Sousa Santos vinca que, apesar de o artigo estar centrado na sua atuação, nunca teve reuniões com duas das autoras (Miye Tom e Catarina Laranjeiro) e que com Lieselotte Viaene apenas teve duas reuniões, “uma como seu supervisor do estágio Marie Curie quando chegou ao CES e outra como diretor estratégico do CES, a pedido do diretor executivo, para tentar resolver os problemas do comportamento incorreto e indisciplinado do ponto de vista institucional”.
O sociólogo sublinha que o comportamento dessa investigadora belga “foi de tal ordem insolente e incorreto que o CES acabou por lhe abrir um processo disciplinar e não aceitou que ela indicasse o CES como instituição de acolhimento num projeto de candidatura ao European Research Council [ERC]”.
O comportamento terá levado a um processo disciplinar que resultou no despedimento de Lieselotte Viaene, em junho de 2018, nota.
Para Boaventura de Sousa Santos, o capítulo, no que respeita à principal autora, “é um ato miserável de vingança institucional e pessoal”. A informação “caluniosa” que diz respeito ao sociólogo “é anónima e assente em boatos, ou seja, em ‘factos’ para os quais não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela”, critica.
O capítulo assinado pelas três autoras “é um texto que tem uma mistura entre um quadro teórico sólido, retirado da literatura que foi produzida no seguimento do movimento ‘#MeToo’, à qual se sobrepõe uma informação empírica assente em referências anónimas, boatos e incidentes não identificados e não provados de maneira a poderem ser contestados”, vinca.
Boaventura Sousa Santos reconhece que possa ter desiludido a investigadora belga quanto ao pouco tempo dedicado à orientação do seu estágio, mas salienta que “nada dito justifica esta diatribe contra uma instituição e ainda por cima tão personalizada contra alguém que no máximo foi absentista na sua orientação”.
“No que respeita às insinuações que me são feitas, quero afirmar que confrontarei qualquer suposta vítima com serenidade e sentido de responsabilidade”, frisa Boaventura de Sousa Santos.
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