Em 20 de fevereiro de 2005, o CDS-PP ficou ‘órfão’ do seu líder de sete anos, depois de Paulo Portas anunciar a demissão na noite das legislativas, em que o partido obteve pouco mais de 7% e 12 deputados.
Passaram-se então dois meses sem que surgisse qualquer candidato à liderança - Telmo Correia chegou a negar por duas vezes ter essa intenção - e apenas na semana anterior ao congresso o antigo líder parlamentar centrista deu os primeiros sinais de que iria avançar, confirmando a candidatura na véspera, numa entrevista televisiva.
O então candidato natural à sucessão de Portas - reunia os apoios dos principais rostos da sua direção e das duas principais moções ao congresso - justificou o seu ‘timing’ não com falta de vontade de liderar o CDS, mas com a surpresa pela saída do presidente.
A estratégia de José Ribeiro e Castro foi diferente: escreveu uma moção intitulada “2009” em cima do prazo limite e a sua candidatura foi primeiro sugerida pelo dirigente Luís Nobre Guedes, que entrou no Congresso ao lado de Telmo Correia, mas acabaria a apoiar o então eurodeputado.
Num tempo em que as eleições diretas ainda não tinham chegado à vida partidária - o CDS já as eliminou novamente -, foi num longo congresso em Lisboa que tudo se decidiu.
A surpresa do XX Congresso do CDS começou com o primeiro discurso de Ribeiro e Castro, que inflamou os delegados e em que garantiu que avançaria para a liderança se a sua moção fosse a mais votada.
Nesse congresso, enquanto Telmo Correia defendeu uma abertura a novos temas e novos eleitorados que permitissem ao partido crescer, Ribeiro e Castro inovou ao garantir que introduziria a eleição direta pelos militantes dos presidentes do CDS - o que concretizou - e teve um discurso mais marcadamente ideológico e centrado nos valores tradicionais da democracia-cristã, como a defesa da vida.
Às 06:00 da manhã de domingo, o Congresso acabaria mesmo por aprovar a moção de Ribeiro e Castro, com uma maioria confortável de mais de cem votos sobre o documento em que Telmo Correia se apoiava para disputar a liderança.
Do lado do ex-ministro do Turismo, estava a maior parte do “núcleo duro” do líder cessante: o então vice-presidente António Pires de Lima e o na altura líder parlamentar Nuno Melo, bem como, a título pessoal, João Almeida, que então presidia à Juventude Popular.
Além de Luís Nobre Guedes, apoiaram Ribeiro e Castro notáveis como António Lobo Xavier e Maria José Nogueira Pinto.
Portas despediu-se do partido dizendo aos democratas-cristãos para não terem medo do novo ciclo, mas alertando para os riscos de o partido se tornar marginal e se eternizar na oposição.
No discurso de encerramento, Ribeiro e Castro disse não temer ser um líder de transição, que acabaria por ser, já que, menos de dois anos depois, Paulo Portas quis regressar à liderança do CDS e derrotou-o no método que criou, de eleições diretas, voltando a presidir ao partido entre 2007 e 2016.
Novos líderes depois de desaires eleitoriais
O CDS-PP saiu das crises causadas pelos dois piores resultados em eleições legislativas e autárquicas, em 1991 e 1998, com a eleição de novos líderes, Manuel Monteiro e Paulo Portas, e com mudanças profundas de estratégia.
As crises internas dos centristas demoraram a ultrapassar, duraram vários anos. E cada líder teve destinos diferentes - Manuel Monteiro foi eurodeputado e nunca esteve no Governo, Paulo Portas também foi eleito para o Parlamento Europeu, mas foi ministro e vice-primeiro-ministro de executivos com o PSD.
Depois do fim da Aliança Democrática, com o PSD, em 1983, e com a crise de 1987/1991, os anos do partido “do táxi”, o CDS fez uma travessia do deserto de 22 anos.
E a segunda crise, que se seguiu a um novo governo com o PSD, com Durão Barroso como primeiro-ministro e Paulo Portas como ministro da Defesa, de 2002 a 2005, os centristas, novamente com Portas na liderança, só voltaram a conseguir partilhar o poder em 2011, mais uma vez com o PSD, num executivo liderado por Pedro Passos Coelho, após seis anos de oposição.
Olhando a história do partido, às crises sucederam-se mudanças de estratégia política.
As várias gerações
Com apenas 29 anos, Manuel Monteiro assumiu, em 1992, uma linha de rutura de uma nova geração de dirigentes, vincou um projeto de refundação do partido que se assumiu como claramente de direita.
A mudança foi tal que, no congresso de 1993, passou a denominar-se CDS-Partido Popular. Devido às posições eurocéticas de Manuel Monteiro, o CDS-PP foi até expulso do Partido Popular Europeu (PPE), a que voltou anos depois, em 2004, e onde está hoje, ao lado do PSD.
Para a história ficaram os cartazes contra “os tachos” e os discursos do Partido Popular, na Assembleia da República, contra os “políticos sanguessuga”, o que valeu a Monteiro e ao partido o rótulo de populista.
Em 1991, o CDS teve o seu pior resultado de sempre e ficou conhecido como o “partido do táxi” – quatro deputados para um resultado de 4,3% - nas legislativas que deram a segunda maioria absoluta ao PSD.
Nesse ano, Freitas do Amaral era presidente do partido, sucedendo a Adriano Moreira, que deixara a liderança depois de um resultado igualmente baixo – cinco deputados e 4,4% dos votos. Foi nas legislativas de 1987, ano em que os sociais-democratas e Cavaco Silva tiveram a primeira maioria absoluta da história da democracia portuguesa.
Passaram os anos e, em 1997, Manuel Monteiro continuava a ser presidente do partido. O CDS volta a perder eleições, desta vez autárquicas, o que precipita uma crise de liderança.
Paulo Portas, que aderiu ao partido em 1995 e já se candidatara a deputado como independente, é eleito, em 1999, presidente do partido no congresso de Braga, com uma estratégia de aproximação ao PSD, então liderado por Marcelo Rebelo de Sousa, hoje Presidente da República, para uma Alternativa Democrática (AD), a mesma sigla da Aliança Democrática de Sá Carneiro e Amaro da Costa, de final da década de 1970.
Em 1999, os dois partidos desentenderam-se: Marcelo Rebelo de Sousa deixou a liderança do PSD e Paulo Portas ficou à frente do CDS. A nova AD já nem foi às europeias de junho.
Em maio de 1999, entrou Durão Barroso para a liderança dos sociais-democratas, que perdem as eleições para o PS - António Guterres ganhou com maioria relativa.
O segundo Governo do PS durou até 2002 e nas eleições seguintes, apesar das más relações com Portas, Durão forma uma coligação pós-eleitoral, depois de os dois partidos do centro-direita terem conseguido a maioria absoluta no parlamento.
A história repete-se em 2011, mais uma vez com PSD, agora liderado por Pedro Passos Coelho, e tendo Paulo Portas como líder do CDS, que, nos períodos em que esteve na oposição, disputou politicamente o terreno aos sociais-democratas.
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