Em frente ao teatro municipal de Tunis, uma multidão compacta reuniu-se, muito antes da hora prevista (11:00 GMT), agitando a bandeira tunisina e gritando slogans em defesa da Constituição de 2014.

“Constituição, liberdade e dignidade nacional”, “a legitimidade passa pelo voto”, “unidade, unidade nacional contra o populismo”, gritavam os manifestantes, dos quais uma grande parte homens, que entoavam ainda ‘slogans’ a apelar ao “fim do regime do Kais Saied”.

As forças de segurança foram destacadas em massa para a avenida Bourguiba, que atravessa o coração da capital, com carros blindados, carrinhas de polícia e barreiras metálicas para filtrar a passagem de uma zona para outra.

Na quarta-feira, o Presidente da Tunísia mandou publicar em Diário da República um texto que substitui vários capítulos da Constituição, contendo “medidas excecionais”. Estas medidas prolongam o congelamento do parlamento e permitem-lhe legislar por decreto, presidir ao Conselho de Ministros e promulgar leis em todas as áreas.

Kais Saied, que foi eleito no final de 2019, surpreendeu os tunisinos, a 25 de julho, ao anunciar que estava a demitir o Primeiro-Ministro, suspendendo as atividades do parlamento e chamando a si o poder judicial.

Após meses de impasse político e no meio da crise sanitária da Covid-19, que agravou ainda mais as dificuldades económicas e sociais do país, este golpe de força foi saudado por cenas de júbilo popular.

Hoje, os ‘slogans’ eram claramente hostis ao Presidente. Alguns gritaram “Saia, saia”, repetindo o ‘slogan’ das manifestações que começaram a 17 de dezembro de 2010 e culminaram com a demissão de Zine El Abidine Ben Ali, após 24 anos no poder, a 14 de janeiro de 2011. Outros manifestantes apelaram ao “fim do golpe” do Chefe de Estado.

“O povo quer, o povo quer… a partida do regime de Kais Saied”, cantava a multidão, parodiando o lema do Presidente, que justificava as suas decisões com “a vontade soberana do povo”, retomando o slogan da revolução tunisina.