A Medalha Zeldovich, atribuída de dois em dois anos pela Academia Russa de Ciências e pela Commission for Space Research (COSPAR), foi criada em 1990 em memória do astrofísico russo Yakov B. Zeldovich, e será entregue a Frederico Francisco durante a 42.ª Assembleia Científica da COSPAR, de 14 a 22 de julho, na Califórnia (Estados Unidos).
Esta distinção deve-se aos trabalhos que o investigador do Centro de Física do Porto (CFP) do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade (FCUP) vem desenvolvendo desde o doutoramento e a cuja tese – premiada em 2015 pela editora alemã Springer Verlag – dedicou ao tema “Anomalias de Trajetória em Sondas Interplanetárias”.
“A determinação rigorosa das trajetórias de sondas que se deslocam para as regiões exteriores do sistema solar – para lá da cintura de asteroides que existem entre as órbitas de Marte e Júpiter – é uma das formas que existem para testar experimentalmente a Teoria da Relatividade Geral (RG), de Einstein”, disse à Lusa o cientista de 31 anos, doutorado em Física pelo Instituto Superior Técnico (IST), de Lisboa.
A RG “continua válida para explicar a gravidade, uma das quatro interações fundamentais da natureza, ao passo que as três restantes [eletromagnetismo, força nuclear fraca e força nuclear fraca] são explicadas pela mecânica quântica”, explicou Frederico Francisco.
Segundo indicou, apesar de a teoria de Einstein ter sido confirmada em todas as experiências realizadas até hoje, muitos físicos defendem que esta “não deve ser a teoria mais fundamental para a gravidade”, podendo existir “uma teoria quântica que unifique as quatro forças fundamentais, já que a gravidade explicada pela RG não é compatível com a mecânica quântica”.
“Quando falamos de anomalias de trajetória, estamos a falar de possíveis contradições à teoria gravitacional de Einstein”, esclareceu, referindo que o caso mais conhecido dos últimos 20 anos foi a “anomalia das Pioneer”, um desvio de trajetória detetado nas sondas Pioneer 10 e 11.
De acordo com o investigador, o seu trabalho demonstrou que essa anomalia era explicada pela aceleração gerada pelas emissões de calor da própria sonda, o que permitiu confirmar, “mais uma vez, a RG de Einstein”.
“A conquista deste prémio, além da satisfação pelo reconhecimento do meu trabalho, dá um importante alento para continuar a vencer os obstáculos que existem na atividade científica em Portugal”, indicou.
Frederico Francisco apontou os constrangimentos no financiamento, o acesso às carreiras e a imprevisibilidade das regras e dos calendários, algo “que se vive há já vários anos”, como alguns dos obstáculos que os investigadores enfrentam.
“A conquista deste prémio motiva-me a continuar a fazer ciência”, frisou.
Continuando o trabalho sobre as anomalias de trajectória de sondas, em 2017, Frederico Francisco utilizou os mesmos métodos aplicados nas sondas Pioneer para fazer uma previsão da aceleração de origem térmica na sonda New Horizons, que visitou recentemente Plutão.
Nos últimos meses, o investigador tem estado a desenvolver, entre outros projetos, uma ferramenta para micro e nano satélites e os seus sistemas de energia.
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