“Estamos a falar, para o país todo, de meio milhão de utentes que ganham médico de família. Acho que isso é uma notícia muito boa para as pessoas”, adiantou hoje à agência Lusa o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Segundo Fernando Araújo, no caso de Lisboa e Vale do Tejo, a região do país com maior carência de clínicos desta especialidade, cerca de 200 mil pessoas vão ter médico de família nos próximos meses.
Do total de 314 médicos, foram colocados 113 em Lisboa e Vale do Tejo, correspondendo a 29% das colocações, seguindo-se o Norte com 109, o Centro com 73, o Algarve com 14 e o Alentejo com cinco.
Em 02 de maio, foram lançadas a concurso 978 vagas para medicina geral e familiar, correspondentes a todos os lugares em falta no país, para reter os recém-formados e para atrair especialistas que não estivessem no SNS, mas o Ministério da Saúde admitiu, na altura, como realista a contratação de 200 a 250 médicos de família.
Perante a colocação dos 314 médicos, 36 dos quais que estavam foram do SNS, Fernando Araújo salientou que esses resultados “claramente superam as expectativas” e que este foi o concurso “mais rápido que foi aberto desde sempre”, cerca de três meses mais cedo do que nos últimos anos, ou seja, uma semana após a homologação das notas dos exames de especialidade.
Na prática, o preenchimento destes 314 postos de trabalho corresponde a cerca de um terço das necessidades do SNS na área da medicina geral e familiar, tendo em conta que, em abril, quase 1,7 milhões de utentes não tinham médico de família, um aumento de 29% no período de ano.
Entre abril de 2022 e o mesmo mês deste ano, o número de utentes acompanhados por esses especialistas de medicina geral e familiar baixou de cerca de 9,1 milhões para pouco mais de 8,8 milhões.
Perante esses dados, o diretor executivo garantiu que pretende “manter este esforço” para captar todos os recém-especialistas e todos os médicos de medicina geral e familiar que saíram do SNS nos últimos anos.
Depois de reconhecer que “há muitos problemas” ainda por resolver nesta área, Fernando Araújo apontou medidas que têm sido tomadas, como a desburocratização das funções do médico de família, a melhoria das condições dos seus locais de trabalho e a generalização das Unidades de Saúde Familiar modelo B.
Segundo disse, o aumento de utentes sem médico de família deve-se a várias razões, como o elevado número de aposentações em 2022 e 2023 e que continuará no próximo ano, mas também ao facto de “muitos profissionais terem desistido do SNS”.
“Acho que estamos agora na altura certa de tentar dar-lhes uma nova visão, algo em que também possam acreditar”, afirmou Fernando Araújo, para quem a dificuldade em captar médicos para o serviço público não é exclusiva de Portugal, verificando-se também em países como Espanha, que tem “taxas de retenção muito baixas”.
De acordo com a direção executiva, estas 314 colocações representam o segundo maior número de médicos de família de sempre contratados para o SNS por concurso, depois de 2020, ano do início da pandemia da covid-19, quando entraram 319 especialistas.
“Acima de tudo, os médicos estão a dar um voto de confiança ao SNS. Estavam, de alguma forma, descrentes e estão a dar este voto de confiança no projeto, na estratégia e estão a aderir. Compete, do nosso lado, tentar responder aos anseios e aos desafios que os próprios colocam”, afirmou Fernando Araújo.
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