Sean Combs, também conhecido como Puff Daddy, ou P. Diddy, é um dos produtores de hip-hop mais influentes do mundo. Além disso, é também rapper e empresário, e foi responsável pela descoberta de artistas como Usher, The Notorious B.I.G e Mary J. Blige.

As acusações começaram a ganhar a atenção do público em 2023, quando a ex-namorada de Diddy, Cassie Ventura, instaurou um processo em tribunal contra o músico, alegando mais de uma década de abusos sexuais e agressões físicas.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Em 2024, a CNN divulgou um vídeo de uma câmara de vigilância do hotel InterContinental em Los Angeles, que mostrava Diddy a agredir violentamente a ex-namorada. O incidente remetia a março de 2016, e o cantor foi também acusado de tentar subornar os funcionários do hotel para que o vídeo não fosse divulgado.

Cassie acabou por assinar um acordo com Diddy, que a impediu de responder em tribunal. No entanto, desde que a história se tornou pública, várias pessoas decidiram falar e foram surgindo novos relatos de histórias de abusos.

A maioria dos casos ocorreu ao longo das últimas duas décadas mas o caso mais antigo remonta a 1990, quando Diddy ainda era estagiário na editora Uptown, em Nova Iorque. O cantor foi acusado de ter violado duas mulheres, juntamente com o cantor Aaron Hall, e de ter filmado o crime.

As acusações

Sean Combs enfrenta cinco acusações criminais - associação criminosa, duas acusações de tráfico sexual e duas acusações de lenocínio agravado.

Espera-se que quatro pessoas testemunhem em tribunal contra Diddy, mas três delas pediram que a identidade não fosse revelada à imprensa ou ao público.

Na acusação, consta que Diddy organizava “maratonas sexuais”, às quais chamava freak-offs, que eram filmadas e usadas para chantagear os participantes. Eram maioritariamente realizadas em hóteis de luxo e abundantes em drogas.

Cassie Ventura terá sido uma das vítimas coagida a ter relações sexuais com várias prostitutas, enquanto o rapper assistia. No vídeo divulgado pela CNN, Cassie estaria a abandonar uma destas festas, e uma prostituta estava alegadamente no quarto.

Os freak-offs

Segundos as vítimas, os freak-offs aconteciam regularmente e por vezes duravam vários dias. Diddy distribuía vários tipos de substâncias às vítimas para as mantê- obedientes às suas ordens.

A acusação diz que Diddy e várias pessoas que trabalhavam para si, usavam o poder do empresário para intimidar, ameaçar e atrair as vítimas.

Vários funcionários do músico ajudavam na organização dos freak-offs, ao reservarem as viagens e os quartos de hotel, que preenchiam com todos os materiais necessários, como óleo infantil, lubrificante, lençóis extra e iluminação. No final das maratonas, as vítimas eram sujeitas a terapia intravenosa para recuperar do esforço físico e abuso de drogas.

Durante as buscas às casas de Diddy, em Miami e Los Angeles, foram encontrados vários destes materiais, incluindo drogas e mais de mil frascos de óleo infantil e lubrificante.

Ainda segundo a acusação, através de violência física, emocional e verbal, Diddy conseguia que as vítimas participassem nos freak-offs, prometendo-lhes oportunidades de carreira, oferecendo apoio financeiro, que depois ameaçava cortar, rastreando a localização das vítimas, controlando os seus registos médicos e providenciando substâncias. Em várias ocasiões, recorreu também à intimidação com armas de fogo. Nas buscas à casa do artista, foram apreendidas armas e munições, incluindo três fuzis AR-15 sem número de série.

O julgamento

O julgamento tem início esta segunda-feira, com uma audiência no Tribunal Federal de Manhattan. Altura em que as duas últimas acusações foram adicionadas ao caso, no início de abril, a equipa de defesa de Diddy pediu ao tribunal um adiamento de dois meses, alegando que precisavam de mais tempo para preparar a defesa. No entanto, o juiz Arun Subramanian, que vai ouvir o caso, recusou o pedido, com a justificação de que foi feito demasiado próximo da data de início do julgamento.

Se a seleção do júri correr como planeado, as declarações iniciais estão marcadas para 11 de maio. Os advogados de Diddy pediram que fosse entregue aos potenciais júris um questionário sobre as suas opiniões no que toca a sexo, drogas, álcool e violência.

Além das acusações criminais feitas pelos procuradores, há ainda dezenas de “acções civis” contra P. Diddy. Nas ações constam acusações de abuso sexual a homens, mulheres e crianças  - a vítima mais nova tinha 10 anos no momento da alegada violação.

O que são ações civis?

Nos Estados Unidos, as acusações criminais são aquelas que são feitas pelos procuradores federais do Governo e que podem levar o arguido à prisão, se for considerado culpado.

Já as ações civis, são movidas por vítimas individuais e geralmente resultam em indemnizações financeiras. Diddy também será julgado por estas ações, mas em julgamentos separados. Nestes casos, não há prisão envolvida.

A lei civil serve para resolver disputas entre pessoas ou organizações, mas não lida com “crimes”, e sim com “responsabilidades”. Ou seja, mesmo que uma ação civil envolva um crime (como abuso sexual), a pena nunca será prisão mas sim, compensação financeira.

Se Diddy perder os processos civis, terá que pagar indemnizações. No entanto, só irá para a prisão se for condenado no julgamento criminal.

Possíveis sentenças

Quando Diddy foi acusado, a procuradoria do Distrito Sul de Nova Iorque anunciou detalhes de possíveis sentenças, mas afirmou que a decisão final seria determinada pelo juiz.

Os crimes de associação criminosa e tráfico sexual por força, fraude ou coerção têm prisão perpétua como pena máxima. O segundo crime tem ainda uma pena mínima de 15 anos na prisão. Já o crime de lenocínio agravado tem uma pena máxima de 10 anos na prisão.

Diddy permanece num centro de detenção em Brooklyn, Nova Iorque, depois de lhe ter sido negada a liberdade sob fiança enquanto aguarda julgamento.  O rapper declara-se inocente de todas as acusações.

Os advogados alegam ainda que o todos os encontros foram consensuais: “"Apesar de poderem chocar algumas pessoas, não envolveram força, fraude ou coerção", afirmaram em tribunal.

*Texto editado por Ana Maria Pimentel