Numa nota divulgada na página de Instagram da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), o organismo diz ter contactado a plataforma para que retirasse o jogo e “remeteu denúncia ao Ministério Público por comercialização de conteúdo potencialmente enquadrável na propagação de discurso de ódio contra as mulheres, apologia da violência sexual e incitamento à prática de crimes sexuais”.

A CIG aproveita para agradecer publicamente a todas as pessoas e instituições “que se mobilizaram no dia de ontem [quinta-feira] para denunciar a disponibilização e comercialização, em território nacional, do videojogo intitulado ‘No Mercy’, que promove a violência sexual contra as mulheres”.

“Foi graças à indignação manifestada por inúmeras mulheres e homens nas redes sociais e à atuação de todas as pessoas que acederam à plataforma Steam para denunciar o conteúdo de incitamento ao ódio presente no referido videojogo, que este foi, entretanto, removido e já não se encontra disponível em Portugal”, diz a CIG.

Movimento de Mulheres também vai apresentar queixa

O Movimento Democrático de Mulheres vai apresentar queixa ao Ministério Público e junto da Comissão para a Igualdade de Género contra os autores do jogo “No Mercy”, que desafia os utilizadores a tornarem-se no “pior pesadelo das mulheres”.

Em comunicado, o Movimento Democrático de Mulheres (MDM) defende que o videojogo “promove a violência sexual e misoginia” e exige, por isso, que as plataformas tecnológicas sejam responsabilizadas.

Nesse sentido, o MDM “avança com participação junto da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) e da Procuradoria-Geral da República, com vista à responsabilização dos autores e à salvaguarda dos direitos fundamentais das mulheres”.

Sustenta que o conteúdo do videojogo constitui “uma grave incitação à violência contra as mulheres, normalizando práticas de ódio e discriminação que violam princípios constitucionais e legais fundamentais”.

“A existência de jogos como “No Mercy”, recentemente disponível na plataforma “Steam”, é reveladora de uma cultura que alimenta e normaliza a violência sexual contra as mulheres e raparigas, e com ela lucra economicamente.

Na opinião do MDM, o mundo vive atualmente “num sistema económico que transforma tudo em lucro” e que “não hesita em disseminar conceções que objetificam, mercantilizam e violentam as mulheres, ignorando e violando valores e direitos humanos fundamentais”.

“O referido ‘jogo’, apesar de não usar a palavra ‘violação’ de forma explícita, constrói uma narrativa centrada na coação, na promoção da violação e na objetificação violenta das personagens femininas. Frases como ‘nunca aceites um não como resposta’ e ‘torna-te no pior pesadelo de qualquer mulher’ são suficientes para compreender a gravidade deste conteúdo profundamente misógino”, apontou o MDM.

A associação refere que não é caso único e que esta lógica de lucro através da promoção da violência sexual “alimenta o lucro de plataformas tecnológicas”, atacando a integridade, dignidade e segurança das mulheres.

“É preciso deixar de compactuar com os gigantes tecnológicos. Quem promove, aloja ou lucra com conteúdos que alimentam a violência contra as mulheres deve ser responsabilizado, sem exceções”, defende o MDM.

Acrescenta que só a indignação não basta e defende, por isso, que as entidades competentes tomem as medidas adequadas para interromper a proliferação de conteúdos que promovem e banalizam a violência contra as mulheres.

Querem também a responsabilização das plataformas digitais que alojam, divulgam e lucram com este tipo de conteúdos, e uma resposta institucional firme, que proteja as raparigas e mulheres.

O jogo ainda está disponível?

O jogo deixou de estar disponível na Steam Portugal a partir de hoje, depois de ter sido retirado pela Zerat Games.

O Centro Nacional de Exploração Sexual dos Estados Unidos (NCOSE) pediu na quarta-feira a retirada global do videojogo No Mercy devido a conteúdos “perturbadores”.

O jogo estava na quinta-feira disponível na plataforma portuguesa, por 11,79 euros.

O NCOSE instou a Steam a removê-lo da sua plataforma, alertando que “promove violência sexual explícita, incesto, chantagem e dominação masculina, incentivando explicitamente os jogadores a se envolverem em atos não consensuais e comportamento misógino”.

*Com Lusa