Por serem considerados "trabalhos de prestígio", áreas como as finanças, consultoria, medicina ou direito são incutidos desde cedo nas Universidades, conta Molly Johnson-Jones, jovem recém-licenciada na Universidade de Oxford, à BBC. É por isso que, embora não sentisse grande afinidade à área do investimento bancário, permaneceu lá durante dois anos.

Também Andrew Roth, de 24 anos, diz que quando estudava na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee, EUA, sentia pressão para seguir a área de finanças e consultoria, e que o facto de ser um caminho já percorrido por muitos, tornava a decisão de também ele o percorrer mais fácil.

Mas a perspetiva da "Geração Z" — jovens a acabar a faculdade e a entrar no mercado de trabalho — parece estar a mudar. Embora estes setores continuem a ser socialmente bem-vistos, a noção dos jovens do que é "prestígio" está a mudar — a expandir-se ou a tornar-se menos relevante. O dinheiro continua a ser associado a estatuto, principalmente com o custo de vida a disparar, e continuam a acreditar que certas empresas ou indústrias potenciam o crescimento de uma carreira, mas vão muito além disso: priorizam a flexibilidade horária, a autonomia e liberdade laboral, e estarem ou não a trabalhar numa área com a qual se identificam, e que os apaixone.

Danielle Farage, de 24 anos, explica também à BBC que, embora muitos recém-licenciados à sua volta ainda optem pelas indústrias tradicionalmente associadas a prestígio", querendo "trabalhar numa grande consultora" ou "estagiar num grande banco", muitos jovens estão a redefinir prioridades. Para alguns, é importante trabalhar num sítio que lhes permita ter o estilo de vida que desejam e equilibrar a vida profissional com a pessoal. Para outros, mais importante do que seguir o caminho "tradicional", é seguir a sua paixão. "Para mim, isso é que é prestígio", conta Danielle.

Se olharmos para o Reino Unido, vemos que muitas empresas estão, precisamente, a tentar atrair os trabalhadores da Geração Z com um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, explica a Bloomberg.

O portal de empregos online Adzuna registou, inclusivamente, um grande aumento de ofertas com dias mais curtos de trabalho à sexta-feira, para que os trabalhadores possam começar o fim de semana um pouco mais cedo. Em março, 1.426 anúncios referiam a possibilidade de "terminar a sexta-feira mais cedo", em comparação com apenas 583 no mesmo mês, há cinco anos, antes de a pandemia afetar a vida profissional.

"Para um candidato, se uma empresa oferece um horário reduzido à sexta-feira, significa que é flexível e que se preocupa com o bem-estar dos funcionários", explicou à Bloomberg Andrew Hunter, co-fundador da Adzuna, acrescentando que os funcionários estão a "exigir mais" desde a pandemia.

Outra medida a ser testada pelas empresas é a semana de quatro dias, que também já está a surgir no mercado de trabalho português, impulsionada pelo projeto-piloto do Governo, que acredita que esta pode ser uma forma de reter talento em Portugal.

“Isso hoje é uma exigência, nomeadamente dos trabalhadores mais novos, que têm uma exigência muito clara de querer trabalhar de forma diferente do que nós trabalhámos no passado e isso é fundamental para atrair talento, para o reter, seja à escala de país, seja à escala de organizações”, defendeu o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, em declarações à comunicação social após a apresentação do balanço da primeira fase do programa, no dia 24 de março.

Segundo Miguel Fontes, o programa “não é um capricho” ou uma “questão menor”, mas sim importante para a promoção de novas formas de organização de trabalho que motivem e comprometam os trabalhadores. Sublinha, assim, a importância de "ambientes de trabalho onde as pessoas se sintam mais valorizadas, mais reconhecidas e onde tenham condições para conciliar melhor a dimensão profissional com a dimensão pessoal e familiar".

*Com Lusa

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Alexandra Antunes

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