A relação entre álcool e cancro é conhecida desde a década de 1980, e há cada vez mais evidências que a reforçam, lembrou o cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy. Mas essa informação não se reflete nos rótulos de advertência obrigatórios.
"O álcool é uma causa de cancro bem estabelecida e evitável, responsável por cerca de 100.000 casos de cancro e 20.000 mortes por cancro por ano nos Estados Unidos", afirmou Murthy em comunicado.
Esse número supera as aproximadamente 13.500 mortes anuais em acidentes de trânsito relacionados com o consumo de álcool.
"No entanto, a maioria dos americanos não está ciente deste risco", acrescentou, enfatizando a necessidade urgente de educação pública.
Introduzido em 1988, o rótulo atual de advertência apenas indica que "as mulheres não devem consumir bebidas alcoólicas durante a gravidez por risco de malformações congénitas" e que "o consumo de bebidas alcoólicas reduz a capacidade de conduzir um automóvel ou operar máquinas e pode causar problemas de saúde".
Murthy pediu ao Congresso que modernize esses rótulos para incluir o risco de cancro, como já fizeram países como Coreia do Sul e Irlanda.
O consumo de álcool aumenta o risco de pelo menos sete tipos de cancro: mama, colorretal, fígado, boca, garganta, esófago e laringe. No que diz respeito ao cancro de mama, o álcool é responsável por 16,4% de todos os casos.
A consciencialização pública sobre o tema está muito atrasada. Uma sondagem de 2019 revelou que apenas 45% dos americanos identificaram o álcool como um fator de risco para o cancro, em comparação com 91% dos perigos da radiação, 89% do tabaco, 81% da exposição ao amianto e 53% da obesidade.
O novo relatório também questiona as diretrizes alimentares dos Estados Unidos, que recomendam um limite diário de duas doses de bebida alcoólica para homens e uma para mulheres.
É alarmante que 17% das mortes por cancro relacionadas com álcool ocorram entre pessoas que permanecem dentro desses limites, sugerindo a necessidade de reavaliação.
Os profissionais de saúde também têm um papel fundamental em informar os pacientes sobre os riscos do álcool, destaca a recomendação.
O álcool contribui para o cancro sobretudo através de quatro mecanismos: é metabolizado em acetaldeído, que afeta o DNA; induz stress oxidativo, danificando o DNA, proteínas e células; altera os níveis hormonais, incluindo os estrogénios; eleva a absorção de carcinógenos, incluindo os presentes no tabaco.
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