Com a música a ecoar de altifalantes colocados na Sociedade Harmonia Eborense (SHE), desde o final da tarde, os participantes na concentração promovida por um grupo de cidadãos de Évora, sob o lema “pela liberdade”, foram-se juntando aos poucos e “afinaram” as vozes com gritos e palavras de ordem até à hora da chegada da marcha de apoiantes do partido Chega.

Pouco depois das 20:00, perto das barreiras antimotim colocadas pela PSP, já estavam reunidas algumas centenas de pessoas na iniciativa, várias delas da Frente Unitária Antifascista, mas muitas cidadãos anónimos, não só da cidade, mas de fora.

Mal avistaram, do outro lado da praça, os primeiros apoiantes do partido liderado por André Ventura começaram os gritos de “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”.

A canção “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, que ecoou a partir da varanda da SHE, tomou “conta” da Praça do Giraldo, com palmas dos manifestantes “pela liberdade” e assobios do lado dos apoiantes do Chega.

Os cravos vermelhos de papel foram “levantados” pelos participantes, que, a seguir à música, gritaram outras frases como “somos todos antifascistas”.

Perante a presença da PSP, a formar cordões de ambos os lados da barricada, mantendo à distância de cerca de 150 metros os dois grupos, não houve incidentes, apesar das provocações mútuas.

Este “encontro” na praça terminou pouco depois das 21;00, quando os últimos apoiantes do Chega deixaram o local e, do outro lado, os participantes “liberdade” também acabaram por desmobilizar.

“Eles [Chega] decidiram vir a Évora provocar, porque o Alentejo é uma região marcadamente de esquerda e vieram fazer um teste”, afirmou à agência Lusa Luís Guimarães, um dos elementos da concentração, de máscara na cara e de autocolante com a cara de Catarina Eufémia no casaco.

O mesmo participante disse ter aderido à iniciativa por considerar que é preciso “reagir nas ruas” e “mostrar que Évora pode ser um exemplo para as outras cidades porque o que eles [Chega] defendem é perigoso”.

O casal Beatriz e Hugo, igualmente com máscaras, também afiançaram que tinham de marcar presença: “Seria um cúmulo, com tanta terra, ele [André Ventura] vir fazer uma coisa destas no Alentejo. Não podemos deixar passar sem nos manifestarmos contra”, argumentou à Lusa Hugo.

Ao longo das várias horas de concentração no “seu” lado da praça, “enfeitada” com os cravos vermelhos no chão e onde acederam depois de serem revistados pela PSP, os participantes mostraram vários cartazes, como “Não passarão”, “Giraldo ‘sem medo’ era moçárabe”, “O campo precisa de cooperação, racismo não” ou “Zeca obrigaram-me a vir para a rua”, entre outros.