Após a conferência “Inundações em Lisboa: a solução”, realizada esta manhã na Universidade Lusófona, o coordenador do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL), José Silva Ferreira, estimou à Lusa que, com a construção dos dois túneis previstos no âmbito do PGDL, “passamos a obter resultados de 70 a 80%” na mitigação do problema das inundações, enquanto os restantes 20 a 30% devem ser evitados pelas bacias de contenção construídas.
O engenheiro classificou os túneis de “autoestradas”, pela capacidade que vão ter de escoar a água.
“A função principal delas é transportar a água da chuva quando há mais em determinados sítios”, afirmou José Silva Ferreira, acrescentando que existirá uma “tubagem” nos túneis por onde vai circular “água reciclada das ETAR” de forma a “poder vir à superfície” e ser usada na rega de jardins e lavagem de ruas, por exemplo.
Durante a sessão, em que especialistas discutiram o trabalho que tem sido feito para enfrentar o problema na cidade, foram exibidos mapas que mostram como os túneis, ambos com 5,5 metros de diâmetro, vão estar ligados aos coletores espalhados por Lisboa, rede essa com cerca de 1.450 quilómetros e uma idade média entre 65 e 70 anos, e ainda às estações de tratamento de águas residuais (ETAR) de Alcântara e de Chelas.
A ideia de um plano de drenagem para Lisboa remonta a 2002, ano em que o então vice-presidente do município, António Carmona Rodrigues (independente, apoiado pelo PSD), assumiu estar a ser preparado um plano para minimizar os efeitos das cheias na capital.
Em 2008, o plano previa a construção de sete reservatórios espalhados por Lisboa, mas a sua capacidade limitada e a dificuldade em edificá-los em locais com construções subterrâneas levaram a uma mudança no projeto, descreveu José Silva Ferreira.
Sete anos depois, foi apresentado o mais recente Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL), com o período de execução 2016-2030, e que contempla dois túneis subterrâneos: o primeiro, com cinco quilómetros, entre Monsanto e Santa Apolónia, e o segundo, com um quilómetro, entre Chelas e Beato.
O autor deste plano, José Saldanha Matos, salientou, durante a sessão, que o documento “não é só os túneis”, referindo serem preferíveis “soluções de base natural”, com “controlo na origem” e uma aposta em trincheiras filtrantes, pavimentos drenantes e bacias de retenção, por exemplo, antes de avançar com infraestruturas artificiais.
“Lisboa é uma cidade complicada”, reconheceu, ao assinalar os declives da capital e a existência de 14 bacias hidrográficas principais.
Já a investigadora-coordenadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Rafaela Matos, que estudou, nas décadas de 80 e 90, zonas sensíveis a cheias em Lisboa, como a Baixa e Alcântara, pediu que se reabilite “de uma forma antecipada e estratégica” os coletores da cidade de forma a “prolongar a vida útil das nossas instalações”.
“Não podemos tirar os olhos dos coletores, temos de os vistoriar”, avisou, chamando a atenção para os “montes de areia” resultantes de obras: “Estes inertes vão todos para os coletores. Não tenham dúvidas”.
O fim da construção dos dois túneis de drenagem está previsto para 2025, sendo que os trabalhos do primeiro já decorrem e vão levar à instalação de vários estaleiros na cidade.
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