A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas, a chamada COP29, dec orre há quase duas semanas em Baku, capital do Azerbaijão, e devia terminar hoje com um acordo de financiamento da ação climática dos países em desenvolvimento pelos países desenvolvidos.

O bloco dos países ricos, principalmente a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, propuseram no último dia oficial da COP29 aumentar o compromisso de financiamento climático para os países mais pobres dos atuais 100 mil milhões de dólares por ano para 250 mil milhões de dólares até 2035.

Este valor foi considerado “inaceitável” pelos países africanos, tendo em conta as catástrofes de que são vítimas e as suas enormes necessidades energéticas. Os pequenos Estados insulares denunciaram o “desrespeito” pelas suas “populações vulneráveis”.

Os países em vias de desenvolvimento pedem entre 500 mil milhões e 1,3 biliões de dólares por ano, para os ajudar a abandonar os combustíveis fósseis e a adaptarem-se às alterações climáticas associadas ao aquecimento global.

Não é conhecido se os países ocidentais concordarão em aumentar o valor hoje proposto.

Qualquer acordo na COP29 deve ser adotado por consenso. O tempo está a esgotar-se, com muitas delegações a terem de deixar o Azerbaijão antes de domingo.

De acordo com um texto publicado pela presidência da COP29, o novo compromisso dos países ricos poderá ser financiado “por uma grande variedade de fontes, públicas e privadas, bilaterais e multilaterais, incluindo fontes alternativas”.

Com o estádio de Baku, onde se realiza a COP29, a começar a ficar vazio, a presidência retomou esta noite a maratona de consultas, procurando forjar um compromisso final, na esperança de o fazer adotar na sessão plenária de encerramento, que não será antes das 10:00 de sábado (06:00 em Portugal continental), segundo os organizadores.

Sobre a proposta de 250 mil milhões de hoje as organizações não-governamentais (ONG) foram extremamente críticas.

“O mundo está a arder, não podemos esperar 11 anos por amendoins e dar a impressão de que estamos a fazer uma pausa nos combustíveis fósseis”, disse Friederike Roder, da ONG Global Citizen.

Do lado ocidental, os europeus não têm escondido que estão sob pressão orçamental e política. A Europa quer “assumir as suas responsabilidades, mas tem de fazer promessas que possa cumprir”, disse a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock em Baku.

E os Estados Unidos também já advertiram que 250 mil milhões por ano representariam um esforço “extraordinário” em relação ao compromisso atual.

Em Baku a UE trava também outra batalha, a negociação de uma maior ambição para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, tendo como opositores os produtores de petróleo liderados pelo grupo árabe.

“Houve um esforço extraordinário dos sauditas para que não conseguíssemos nada”, referiu um negociador europeu.

Para já assinala-se o sucesso de que uma das componentes do projeto de acordo menciona explicitamente a transição para o abandono dos combustíveis fósseis, uma formulação arrancada à COP28 no ano passado, ainda que não se saiba se vai manter-se no acordo final.

A China traçou uma linha vermelha em Baku: Não quer quaisquer obrigações financeiras. Está fora de questão renegociar a regra da ONU de 1992, que estipula que os países desenvolvidos são responsáveis pelo financiamento do clima.

Em Baku, onde a COP29 já devia ter terminado, negociadores e ONG criticam também a organização da conferência, que decorreu num ambiente pesado.

O Presidente, Ilham Aliev atacou, da tribuna, a França, aliada da sua inimiga Arménia, e os dois países convocaram os respetivos embaixadores. Manifestações em Baku são sujeitas a grandes restrições e ativistas ambientais azeris foram detidos.

(Notícia atualizada às 19h37)