A decorrer entre fevereiro e julho de 2025, em Lisboa, Alentejo e São Miguel, nos Açores, esta edição do PACAP, projeto que terá conceito de Meg Stuart, intitula-se “Mystery School of Choreography (MyS)”, indica um comunicado da organização.
O programa vai ser “um lugar onde o fascínio pelo metafísico se entrelaça com a composição, a coreografia e a criação artística”, segundo as palavras da criadora norte-americana, citada pelo Forum Dança.
Coreógrafa, realizadora e bailarina, Meg Stuart vive e trabalha entre Berlim e Bruxelas, onde fundou a companhia Damaged Goods, em 1994, criando, desde então, mais de trinta produções, entre solos e duetos, peças de grupo, trabalhos de vídeo, criações ‘site-specific’ (“para espaços específicos”, em tradução livre) e projetos de improvisação.
Recebeu diversos prémios pelo seu trabalho, nomeadamente o Leão de Ouro de Carreira na Bienal de Veneza de 2018, e foi agraciada com a Guggenheim Fellowship em 2023.
O PACAP é um programa de formação e criação destinado a profissionais e estudantes das artes performativas que pretendem investir num período de experimentação avançada, conciliando a investigação, a criação e a apresentação ao público.
Os participantes poderão pesquisar e compor em vários formatos e ambientes no âmbito da “Mystery School of Choreography”, que vai decorrer em residência e com apresentações em espaços dos seus coprodutores que são o Teatro do Bairro Alto e a Culturgest, em Lisboa, a bienal Walk&Talk, em São Miguel, nos Açores, e O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, Alentejo.
Cada edição do programa funciona em mentoria e o formato varia, dependendo da proposta de cada curador convidado, ao qual é dada carta branca, mas com um conjunto de pressupostos de base: “Ativar os recursos das pessoas participantes, alimentar os seus processos, viabilizar-lhes uma oportunidade para testar métodos e descobrir paradigmas, formas de colaboração e de apresentação que configurem um esboço de prática pessoal no campo das artes performativas.”
Nesta 8.ª edição, Meg Stuart propõe uma escola simbolicamente relacionada com o “mistério”, que “alia metafísica, composição coreográfica e criação artística”, e conta com a assessoria artística da curadora, coreógrafa e dramaturga Ana Rocha, habitual colaboradora da criadora norte-americana em Portugal.
Na linha do trabalho desenvolvido por Stuart — que em 2019 apresentou, na Culturgest, a coreografia “Until Our Hearts Stop” – o programa PACAP8/MyS vai ser concebido “como uma viagem transformadora”, na qual os participantes vão trabalhar “tornarem-se ambientalmente conscientes, socialmente empenhados, passando pelo acesso metafísico para transformar a aprendizagem profunda num ato político.”
O programa MyS comporta encontros com diversos artistas que partilharão a sua cosmologia pessoal, experiência e o seu processo criativo, nomeadamnete Benoît Lachambre, Doug Weiss, Gaya de Medeiros, Isabela Santana, Keith Hennessy, Márcio Kerber Canabarro, Mariana Tengner Barros, Mayfield Brooks, Mieko Suzuki, Odete, Renan Martins, Sigal Zouk e Xullaji.
Meg Stuart – 59 anos, nascida em Nova Orleães, nos Estados Unidos – vai propor que os participantes desta edição “partam de uma posição de não-saber, e que cultivem uma atitude de principiantes”.
“Partindo do que nos fascina, estamos também a praticar um sentido de encantamento, como se vivêssemos um sonho lúcido em conjunto”, sublinha a criadora cujo trabalho se move entre os géneros da dança, teatro e artes visuais, impulsionado por um diálogo contínuo com artistas de diferentes disciplinas.
A improvisação tem sido uma parte importante da sua prática artística, como estratégia para se mover a partir de estados físicos e emocionais ou da sua memória.
Em 2019, em entrevista à agência Lusa, Meg Stuart falou numa “boa relação” com Portugal, um país onde mantém contactos com alguns coreógrafos e bailarinos, como Vera Mantero e Francisco Camacho.
Quando trabalha, a coreógrafa e bailarina tem sempre em mente “a celebração do corpo”: “Trabalho sempre com o corpo, com a nossa parte carnal, de onde emerge esta questão das fronteiras das relações, que é importante para mim.”
Ainda sobre o processo criativo, disse que trabalhar com os bailarinos da própria companhia é uma parte muito importante: “Eles puxam por mim. Improvisamos muito, trazendo vários elementos para a peça e trabalhando-os até obter algo que faça sentido.”
“No início, é assoberbante a quantidade de informação, emoções e sentimentos. Há muitos fragmentos que gradualmente se vão ajustando”, comentou, na altura, à Lusa.
Entre mais de três dezenas de criações de Meg Stuart, figuram “Disfigure Study” (1991), “Splayed Mind Out” (1997), “Snapshots” (1999), “Private Room” (2000), “Henry IV” (2002), “Forgeries, Love and Other Matters” (2004), “Signs of Affection” (2010), “An evening of solo works” (2013) e “Celestial Sorrow” (2018).
Segundo o Forum Dança, as inscrições para o programa PACAP 8/MyS estão a decorrer até ao fim de maio e o processo de seleção terminará em finais de setembro.
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