António Costa definiu o PS como “o partido da concórdia nacional” no discurso que proferiu no encerramento de um comício na Escola Profissional de Faro, após uma intervenção da cabeça de lista socialista por este círculo eleitoral, a dirigente e ex-secretária de Estado da Saúde Jamila Madeira.

Numa intervenção com críticas indiretas ao Bloco de Esquerda e ao PCP, e com ataques diretos ao PSD sobre políticas fiscal e de saúde, o líder socialista voltou a defender que só com maioria absoluta o país pode ter estabilidade nos próximos quatro anos.

“Que não haja papões, toda a gente me conhece. Toda a gente sabe que sou uma pessoa de consensos, de compromisso e de diálogo”, começou por dizer, invocando aqui a sua experiência como presidente da Câmara de Lisboa, em que parte desse tempo – seis anos – teve maioria absoluta.

“Não foi pelo facto de ter maioria absoluta que deixei de dialogar com todos”, reforçou, antes de avançar com o argumento sobre o papel do PS na História da democracia portuguesa.

“Somos o partido do equilíbrio, do bom senso, da responsabilidade, do diálogo, somos o partido da concórdia nacional. Somos o partido que no PREC (Processo Revolucionário em Curso) evitou a confrontação e fomos o partido que na pandemia [da covid-19] soube unir todo o país para enfrentar essa pandemia”, declarou, recebendo palmas dos apoiantes socialistas.

Na sua intervenção, o secretário-geral do PS procurou traçar sobretudo duas linhas de demarcação face ao PSD: nas matérias de política fiscal e na saúde.

Na questão fiscal, António Costa disse que Rui Rio apenas admite descer o IRS das pessoas em 2025 ou 2026, enquanto com o PS, num novo Governo, “o IRS baixa já este ano para a classe média, para os jovens e para as famílias com filhos”.

“E baixa já porque vamos aprovar o Orçamento do Estado para 2022”, frisou.

Ainda no domínio fiscal, o líder socialista referiu que o PSD pretende reduzir o IRC para todas as empresas, independentemente das suas práticas de gestão, enquanto o PS será mais seletivo.

De acordo com António Costa, com os socialistas no Governo, o IRC baixa para as empresas que investirem, que apostarem na inovação, na modernização, que tenham contratos coletivos de trabalho e que tenham boas políticas salariais.

Depois, o secretário-geral do PS voltou a acusar o presidente do PSD de querer pôr “a classe média a pagar a saúde”, dizendo que a prova disso é o projeto de revisão constitucional que esteve em preparação por parte dos sociais-democratas, no qual se previa o fim do princípio “de um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito”.

Dirigente socialista acusa PSD de querer “mercantilizar” saúde e de promover austeridade

A dirigente socialista Jamila Madeira acusou o PSD de querer “mercantilizar” a saúde e de só ponderar o aumento dos salários e das pensões sob certas condições, promovendo a austeridade caso estas não se concretizem.

“O líder do PSD é o homem dos ‘se’: sobe o salário mínimo, se… Sobe o salário médio, se… Sobre as pensões, se… E se o ‘se’ não se verificar, o que fará? Eu julgo que os portugueses têm isso absolutamente claro: promoverá a austeridade, promoverá aquilo que já sabemos que o PSD promove quando não tem o mundo ideal que a sua mão livre que defende promove”, afirmou.

A cabeça de lista do PS pelo círculo de Faro falava na Escola Profissional de Turismo, na capital de distrito algarvia, pouco antes de o secretário-geral do PS, António Costa, discursar.

Numa sala preenchida bem acima da lotação, com vários militantes a assistirem aos discursos de pé nos corredores laterais, Jamila Madeira acusou o Governo de Pedro Passos Coelho, entre 2011 e 2015, de ter decretado um “país sem futuro” onde os portugueses tinham que “empobrecer ou então emigrar”.

“Não havia futuro nem para os jovens, nem para os profissionais qualificados. Teriam que sair porque cá a única solução era um país de modelo de desenvolvimento de mão de obra barata e não qualificada”, frisou.

Segundo a dirigente socialista, “as portuguesas e os portugueses disseram ‘não’ a este caminho”, tendo o PS provado que era “possível diferente: era possível convergir com a Europa, era possível recuperar rendimento, era possível ter ambições e futuro com uma política de solidariedade e um esforço coletivo como país”.

A ex-secretária de Estado da Saúde entre 2019 e 2020 acusou ainda Rui Rio de querer “mercantilizar” o SNS e de propor “uma saúde para os indigentes, e uma saúde para os que querem pagar”.

“O líder do PSD procurou, de uma forma mais ou menos encoberta – eu chamar-lhe-ia mais despudorada – atirar areia para os olhos dos portugueses, quando alega que o seu programa eleitoral apenas pretende reescrever, retirando o princípio do tendencialmente gratuito, para uma forma mais limpinha e escorreita. Ora, é importante que isto se clarifique: o doutor Rui Rio está a faltar à verdade e sabe que está a faltar à verdade”, afirmou.

A dirigente socialista recorreu a “algumas passagens históricas” que disse demonstrarem o “amargo de boca” que o PSD tem sobre o SNS, alegando que, em 1981, o antigo ministro dos Assuntos Sociais, Carlos Macedo, que na altura tinha a pasta da saúde, afirmou que os sociais-democratas defendiam um sistema de saúde, “mas um sistema de saúde que considera que a saúde é para todos, e que a gratuitidade é para todos - tenham muito pouco ou não tenham nada – é um sistema injusto e inviável”.

Em contraponto, Jamila Madeira afirmou que, “hoje, como no passado, o PS opõe-se a essa visão mercantilista e diariamente trabalha para um caminho de resiliência do SNS”.

“O PS, nos últimos seis anos e ao longo das anteriores passagens pelo Governo reforçou sempre, financeiramente, tecnicamente e humanamente, o SNS. Este SNS, sim este SNS, feito de homens e mulheres que diariamente se superam, e sim têm dificuldades, mas sempre se superam para assegurar que nada falta”, afirmou.