“Em matéria comercial, nós aguardamos o que o Presidente Trump irá propor. Sabemos que os Estados Unidos têm uma preocupação que é legítima, nós temos um défice comercial grande”, afirmou hoje, numa entrevista à RTP em Bruxelas.
A UE “não procura o conflito” e tem “uma postura dialogante”, sublinhou o ex-primeiro-ministro português, que disse que os 27 esperam que “toda a dinâmica da relação comercial com os Estados Unidos possa ser resolvida numa base negocial”.
“Quando os Estados Unidos entenderem que devem colocar à União Europeia qualquer problema, nós fazemos aquilo que fazemos com qualquer entidade e, por maioria de razão, com um aliado e um amigo: olhamos para o problema e vemos como é que podemos resolver”, comentou.
“Naturalmente, temos também os nossos próprios instrumentos de defesa e não deixaremos de utilizar os instrumentos de defesa para defender a nossa economia”, salientou Costa.
Esta semana, Trump disse que os países europeus vão ser sujeitos a tarifas aduaneiras, “a única forma” de os Estados Unidos “serem tratados como devem ser”, argumentando que a UE “é muito má” para os EUA.
Sobre como poderá a UE posicionar-se perante a nova administração norte-americana, o líder do Conselho Europeu recordou que as relações entre a Europa e os EUA “têm 200 anos” e “são independentes na sua durabilidade de quem está em cada momento no poder”.
“Todos nós já tivemos experiência de conviver com o Presidente Trump no seu primeiro mandato e, portanto, há uma dimensão que não é surpreendente”, comentou.
Questionado sobre a intenção de Donald Trump de dialogar com o Presidente russo, Vladimir Putin, sobre uma solução para o conflito na Ucrânia, desencadeado em fevereiro de 2022 pela invasão da Rússia, Costa sublinhou que quer Kiev quer a UE têm de estar presentes nessas conversações.
“A Ucrânia é um Estado soberano e, portanto, não há negociações sobre a paz na Ucrânia que não envolvam a Ucrânia”, salientou.
Por outro lado, esta discussão “implica também a negociação sobre a segurança na Europa e não é possível haver uma discussão sobre a segurança na Europa sem a União Europeia”, destacou.
Costa assinalou que “a questão é não a paz, mas que paz” se procura para aquele conflito no leste europeu.
“Se a paz é simplesmente um pequeno intervalo na guerra para dar oportunidade à Rússia para se reforçar e voltar a atacar com mais força, isso então não é uma paz, é um erro. Nós não podemos cometer erros e temos que trabalhar para que haja uma paz justa e duradoura”, considerou.
Questionado sobre declarações de Trump, que admite controlar a Gronelândia ou o Canadá pela força, Costa destacou o primado do Direito internacional.
“A União é consistente e previsível e defende e promove uma ordem internacional baseada em regras”, nomeadamente na Carta Internacional das Nações Unidas, disse, que preconiza “o princípio da soberania, da integridade do território, da estabilidade das fronteiras”.
“É um princípio que é essencial na Ucrânia, na República Democrática do Congo, no Panamá, Canadá, na Gronelândia. É um princípio que para nós é universal. (…) Esta é a lei internacional e o mundo sem lei é um mundo onde a lei do mais forte prevalece”, sublinhou, acrescentando: “É por isso que é fundamental assegurar que o mundo continua a ser regulado pela lei internacional. É um dos maiores desenvolvimentos civilizacionais que o século XX nos legou e que nós temos obrigação de preservar e defender”.
Sobre o multimilionário norte-americano Elon Musk, próximo de Trump e proprietário da rede social X, onde tem atacado governos europeus e apoiado forças contrárias à UE, como a extrema-direita alemã, António Costa salientou que “a independência do poder político relativamente ao poder económico é uma regra fundamental das democracias liberais”.
“Só nas oligarquias é que o poder político é dominado pelo poder económico. Nós temos que proteger as democracias liberais e combater as oligarquias”, sustentou.
A UE, recordou, tem “um quadro jurídico robusto para regular o novo espaço digital” e é por isso que “algumas dessas grandes companhias tecnológicas não gostam da União Europeia, que ainda recentemente aplicou multas pesadas em matéria de política de concorrência”.
Costa referiu que a Comissão Europeia abriu uma investigação à rede X “para saber se está ou não está a cumprir as regras” em matéria de serviços digitais.
“Se estiver a cumprir as regras, ótimo, se não estiver as cumprir as regras, as consequências da aplicação da lei terão que existir, porque a lei é igual para todos, e também para as grandes”, comentou.
Comentários