”O maior problema que nós temos no nosso planeta é exatamente a questão das alterações climáticas. E a espécie humana, que deveria estar unida a combater a ameaça climática, que é a maior ameaça existencial que pesa sobre todos nós, pelo contrário, desencadeia guerras, fragmenta-se geopoliticamente, entra num novo ciclo de rivalidades com a guerra no centro da Europa — e atenção que a Europa é o continente que foi fautor de duas guerras mundiais”, disse.
“Entre o início da primeira e o fim da segunda Guerra Mundial, morreram 150 milhões de pessoas na Europa. Estamos a falar de um caso seríssimo e, portanto, a racionalidade da espécie humana está aqui em causa. E é essa irracionalidade que também se pode considerar, quando consideramos a governação do planeta e a necessidade premente que temos de fazer face a esta ameaça climática”, acrescentou o ministro da Economia e do Mar.
António Costa Silva falava na terceira sessão dos Diálogos de Sustentabilidade “A Economia Azul”, uma parceria das marcas Global Media Group e Fundação Inatel, inserida no Fórum de Sustentabilidade e Sociedade, que incluiu uma conversa com o professor Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), no Inatel de Setúbal.
“Quando se fala de economia do mar, a saída do Reino Unido da União Europeia (na altura até escrevi um artigo a exprimir a minha profunda tristeza face à saída do Reino Unido) provoca uma espécie de `continentalização´ das políticas europeias. E as políticas europeias estão todas centradas exatamente no eixo à volta da Alemanha. E com os problemas da Alemanha”, disse o ministro, lembrando a importância da economia do mar no combate às alterações climáticas.
“Nós precisamos de um eixo atlântico para desenvolvermos a economia do mar. Vou dar só uma ideia dos projetos que em 2022 conseguimos atrair: conseguimos 47 novos projetos internacionais – cerca de 2,4 mil milhões de euros quando forem contratualizados – 19% dos quais vieram dos Estados Unidos, 15% vieram da Suíça e 15% do Reino Unido”, disse o ministro, lamentando a fraca participação dos países da União Europeia apesar do investimento da Alemanha, de cerca de 13%.
Para o ministro da Economia e do Mar, “Portugal, ao mesmo tempo que está dentro da União Europeia e se bate pelas suas políticas, não pode esquecer o eixo Atlântico e a ligação profunda com o Reino Unido e com os Estados Unidos, até para desenvolver a própria economia do mar”.
“Eu penso que isso é fazível e isso vai acontecer com maior ou menor dificuldade”, frisou.
Respondendo ao desafio do moderador, que, com ironia, fez questão de se certificar de que António Costa Silva continuava a integrar o Governo face às demissões de vários governantes nos últimos dias, o ministro da Economia enunciou um conjunto de objetivos no âmbito do desenvolvimento da economia do mar.
“Daqui a dois anos, se puder chegar aqui e dizer que o nosso grande centro de bioeconomia Azul que temos em Matosinhos está a funcionar, que já teve receitas, não ainda os quatro mil milhões de euros que eu acho que pode ter potencial para atingir, ou até mais, mas 500 ou 1.000 milhões de euros, seria absolutamente extraordinário”, disse António Costa Silva.
“Se daqui a dois anos pudesse chegar aqui e dizer que o grande projeto eólico ‘offshore’ já tem duas instalações, que estão em processo de desenvolver a sua produção e temos mais outras em desenvolvimento, seria extraordinário; se daqui a dois anos lhe puder dizer que os investimentos, que são de cerca de 20 mil milhões de euros, que estão previstos para o grande polígono de Sines, alguns deles já estão executados, e, sobretudo, a parte do hidrogénio verde, da amónia do metanol e da constituição de um `green shipping´, um polo de `shipping´ em Sines, será absolutamente decisivo”, acrescentou.
A par da concretização destes investimentos, o ministro da Economia e do Mar espera também que haja desenvolvimentos significativos na modernização e digitalização de muitas empresas do “polígono industrial do país, com o quadrilátero que é Braga, Guimarães, Famalicão, e Barcelos”, onde está concentrada grande parte da produção industrial, e que essas empresas continuem a ser competitivas, apesar do aumento de preço das matérias-primas.
António Costa referiu ainda que há agendas mobilizadoras para desenvolver outros setores importantes da economia, como a ferrovia e a indústria aeroespacial.
“Temos um grande centro de competências ferroviárias e há agendas mobilizadoras para voltarmos a produzir material circulante e até exportar”, disse o ministro, que apontou também para um desenvolvimento da indústria aeroespacial em Ponte de Sor, para a produção de aeronaves de pequena e média dimensão, nos próximos dois anos.
“É muito importante falarmos uns com os outros, construir plataformas colaborativas, mobilizar o país e galvanizá-lo. O meu papel aqui é galvanizar as empresas e penso que vamos conseguir”, concluiu o ministro da Economia e do Mar.
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