António Costa falava à agência Lusa e à RTP no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, momentos antes de se reunir por videoconferência com o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.
Questionado sobre o grupo de empresários da restauração e da animação noturna que se encontra em greve de fome em frente à Assembleia da República, exigindo ser recebidos pelo primeiro-ministro ou pelo ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, António Costa pediu para que seja "ultrapassado o impasse criado".
"Apelo para que não se prolongue esta situação de impasse, que não nos vai levar a lado nenhum. Os problemas resolvem-se dialogando e encontrado soluções, sendo que as soluções não são o infinito. São as que são possíveis em cada momento", advertiu o primeiro-ministro, antes de recusar a tese de que este protesto resulta da ausência de diálogo por parte do seu executivo.
"Isso não corresponde à realidade, porque ainda no passado dia 18 houve uma reunião em que esteve o senhor José Gouveia", que é presidente da Associação Nacional de Discotecas - "e outra reunião já tinha acontecido em julho", reagiu.
António Costa contestou também que estes setores não estejam a ser alvo de medidas de medidas de apoio por parte do seu Governo, dizendo que esses auxílios "totalizam já 1100 milhões de euros, metade dos quais a fundo perdido".
Com o novo programa "Apoiar", de acordo com o primeiro-ministro, o Governo já recebeu 26 mil candidaturas, com os auxílios financeiros a atingirem os 750 milhões de euros a fundo perdido.
"Ouço o senhor José Gouveia dizer que quer isenção de TSU (Taxa Social Única), mas o setor da animação noturna, que não pode trabalhar por força da lei, tem a possibilidade de se manter ao abrigo do regime de lay-off simplificado - e nesse caso tem isenção total de TSU. Por outro lado, o Governo está a dialogar e continua a dialogar", defendeu.
Neste contexto, o líder do executivo referiu então que o ministro da Economia vai reunir-se hoje mesmo com as confederações representativas destes setores [Comércio e Turismo] e os secretários de Estado do Comércio e do Turismo enviaram na terça-feira um e-mail a José Gouveia a manifestar disponibilidade para o diálogo na próxima quinta-feira".
Ou seja, para António Costa, o Governo tem as portas abertas ao diálogo e está a fazer um esforço para apoiar a realidade da economia.
No entanto, em relação às reivindicações que têm sido feitas por estes empresários, o primeiro-ministro traçou duas "linhas vermelhas": Uma no plano da saúde pública no combate à covid-19, outra ao nível das condições para a concessão de apoios por parte do Estado.
"Quando nos pedem o fim das restrições, respondemos que não podemos colocar em causa a saúde das pessoas. E quando nos dizem que esses apoios devem ser concedidos independentemente de estarem regularizadas situações perante o fisco e a Segurança Social, isso obviamente não é aceitável, porque o esforço de solidariedade deve ser de todos para com todos", frisou.
Neste ponto, António Costa afirmou que os empresários com as respetivas contribuições em atraso podem regularizar a situação.
"Mas não podem dizem simplesmente para darem cá o apoio e não se regulariza nada. Isso não é aceitável", insistiu.
Interrogado se aceita falar com os manifestantes em greve de fome, o líder do executivo comentou que, entre o grupo que protesta, o cidadão que tem visto mais vezes falar nas televisões "é o senhor José Gouveia", que ainda no passado dia 18 esteve numa reunião com os secretários de Estado do Turismo e do Comércio.
"Mas o Governo tem de reunir-se com as associações representativas, porque se cada pessoa que neste momento está a sofrer - e são muitas - resolver fazer um protesto e dizer que quer falar com o primeiro-ministro ou com o Presidente da República, obviamente isso não é possível", disse.
Nestas suas declarações, o primeiro-ministro disse ainda que o Governo está a analisar com as confederações patronais "um conjunto de medidas relativas às rendas".
"Os grandes custos fixos das empresas, sobretudo nestas áreas da restauração e da animação noturna, são os do trabalho, que medidas como lay-off simplificado ou de retoma progressiva apoiam fortemente, e a dimensão das rendas. Há uma moratória que se esgota no final deste ano e estamos a trabalhar com as confederações para termos um regime duradouro, estável", acrescentou.
[Atualizada às 11:08]
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