Em Portugal, existem cerca 400 médicos de saúde pública, mas, segundo Ricardo Mexia, esta é “uma força de trabalho muito envelhecida”.
“Agora, temos também muitos jovens a chegar à especialidade. O problema é que entre os 35 e os 55 anos temos de facto uma grande escassez de profissionais e essa é uma das dificuldades que temos neste momento”, disse o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
Contudo, os médicos estão “a fazer das tripas coração e estão num esforço tremendo para responder a todas as solicitações, do ponto de vista da validação dos casos, da vigilância ativa, e estão a montar os sistemas para dar resposta a este aumento da procura”.
“Estamos todos a enfrentar uma situação difícil e, portanto, há um esforço muito relevante por parte dos profissionais que continuam a trabalhar de forma consecutiva, dias consecutivos, sem ter a possibilidade de descansar bastante”, contou.
Sobre a possibilidade de outros profissionais de saúde, nomeadamente médicos de família, poderem ajudar os de saúde pública, Ricardo Mexia disse que “a ideia é contar com a colaboração de todos aqueles que o possam fazer”.
Em alguns serviços, por exemplo, já estão internos do ano comum a colaborar na realização da vigilância ativa. “Neste momento, todos os braços são bem-vindos para poder colaborar”, mas é preciso haver uma orientação, ressalvou.
“As coisas não podem funcionar de forma descoordenada, mas é importante ganhar força de trabalho para conseguir responder às solicitações que são, de facto, muitas”, defendeu.
Apesar de estes médicos reclamarem há vários anos um sistema de informação da saúde pública, “infelizmente” ainda não existe e “tem havido uma necessidade muito clara de criar sistemas para responder a esta tarefa tremenda de acompanhar tantos milhares de cidadãos em vigilância ativa”.
A ministra da Saúde, Marta Temido, e a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, saudaram hoje o trabalho dos profissionais de saúde na conferência de imprensa diária sobre a infeção pelo novo coronavírus.
Graça Freitas destacou “o trabalho incrível e extraordinário” realizado pelas equipas de saúde pública, para conseguirem detetar os contactos dos doentes. “É muito importante” manter esses contactos isolados para não propagar a doença.
“Nós estamos a isolar os doentes, a tratar, mas também estamos a detetar os seus contactos”, disse a diretora-geral da Saúde, adiantando que estão a “agir em várias frentes”.
A Ministra da Saúde também deixou “uma palavra de agradecimento a todos os profissionais que continuam nos seus postos de trabalho a lutar para tratar doentes, encaminhar doentes”, como os médicos que fazem registos na plataforma nacional de vigilância epidemiológica.
“É muito importante o vosso trabalho de registo, da data do sintoma, da confirmação laboratorial, dos dados referentes aos doentes para que possamos ter cada vez mais dados epidemiológicos fiáveis para prever aquilo que é a evolução das curvas deste surto em Portugal”, sublinhou Marta Temido.
Graça Freitas também fez uma referência aos médicos da Linha de Atendimento ao Médico, que têm assegurado que as pessoas cheguem referenciadas aos hospitais, impedindo que vão diretamente às urgências.
“Este circuito foi muito importante na nossa resposta até à data”, rematou.
Portugal tem 14 mortes associadas ao vírus da covid-19 confirmadas, mais duas do que no sábado, e 1.600 pessoas infetadas, segundo o boletim de hoje da Direção-Geral da Saúde (DGS).
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