“A maior pressão, atualmente, é nos cuidados intensivos. Já esgotamos a nossa capacidade. Temos 28 camas [dedicadas à covid-19] e 24 para não covid que temos de manter. Nessas não tocamos. Para covid podemos ir às 32, mas isto já é com sacrifício de um bloco operatório de otorrinolaringologia e estomatologia”, referiu o diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) que inclui o Hospital de Santo António.
À data de hoje, neste hospital do Porto estão 115 doentes internados com infeção pelo novo coronavírus em enfermaria, três dos quais crianças internadas no Centro Materno Infantil do Norte, unidade que faz parte do CHUP.
Somam-se 28 doentes covid-19 em cuidados intensivos.
“A situação do Hospital de Santo António é preocupante (…). É uma progressão rápida. Todos os dias temos mais doentes do que no dia anterior e a nossa angústia é não sabermos onde isto vai parar. Estamos muito perto de atingir a capacidade [máxima em enfermaria]”, disse o médico.
Especialidades como infecciologia, pneumologia, medicina interna, gastroenterologia e cirurgia geral “já tiveram de sacrificar camas”, mas admitindo que “não há recursos humanos para tudo isto”, José Barros sublinhou que “os hospitais não estão apenas a cuidar covid”.
“Às vezes passa a ideia de que os hospitais só estão dedicados à covid. Isso não é verdade. Os cirurgiões estão disponíveis. Mas podemos não ter anestesistas. E os blocos operatórios podem estar convertidos em unidades de cuidados intensivos. Isso é que limita a atividade cirúrgica”, explicou o diretor clínico.
Ainda sobre a capacidade para internamentos em enfermaria, José Barros adiantou que com a “reconfiguração de espaços” poderá “chegar a 125 [camas] este fim de semana e a 163 segunda ou terça-feira”.
O diretor clínico do Hospital de Santo António alertou ainda que “o perfil de doente que o hospital está agora a receber é diferente [face à primeira vaga]”, uma vez que antes foram internados doentes “praticamente assintomáticos” e “agora só são internados doentes com insuficiência respiratória”.
“O número de doentes é agora muito maior. Se fossemos a internar com os critérios da primeira vaga, teríamos centenas internados”, referiu, aproveitando para “desmistificar algumas mensagens que podem estar a criar confusões”.
“Ao contrário do que se diz, temos [internados] de todas as faixas etárias. Admito que se possam encontrar mais jovens porque se testa mais (…). Nesta segunda vaga, neste hospital, a mortalidade é inferior à que foi na primeira. E os doentes têm alta mais rapidamente também porque os critérios de alta foram aligeirados”, analisou.
O diretor clínico do CHUP também descreveu que o “serviço de urgência está reconfigurado de uma forma que nunca esteve antes”, o que “gasta muitos mais recursos”.
Em causa está a existência de três áreas: para admissões de doentes com teste positivo à covid-19, área respiratória e ala para doente que não é doente covid ou não tem sintomatologia respiratória.
“Portanto um especialista que antes se movimentava em todas as áreas e dava uma opinião aqui e outra ali, agora não pode. Para o fazer tem de equipar, desequipar.
Obriga a mais pessoas e mais recursos. Já temos o reforço de pessoas que antes, pela natureza da sua especialidade, estavam isentas de fazer serviço de urgência”, contou o médico.
Comentários