No final dos mês de março, Luis Montenegro anunciou que não iria debater com todos os partidos, e o Livre foi um dos escolhidos para ficar de fora, a par do Bloco de Esquerda e do PAN. Para o substituir elegeu Nuno Melo, que se estreou hoje, numa discussão que acabou por se reduzir a "caricaturas" e provocações.

O essencial do debate em 5 pontos 

Quem ganhou em termos de presença / clareza?

Isabel Mendes Lopes deixou clara a posição do Livre em relação aos temas debatidos.

Nuno Melo tentou justificar a queda do Governo e pecou por não apresentar os novos planos da AD.

Houve frases/momentos que se vão tornar virais? Quais?

Nuno Melo foi colando o Livre a uma esquerda pouco democrática, desde as posições na NATO às acusações de estalinismo:

"O Livre está totalmente a leste porque tem um problema de principio, que é doutrinário, que o faz confundir um aliado [os EUA] de sempre com uma administração que é necessariamente transitória".

Que temas dominaram (e quais ficaram de fora)?

Defesa foi o tema central da discussão, Habitação e IRS Jovem foram os outros assuntos abordados.

Quem esteve mais à vontade  e quem esteve mais pressionado?

Nuno Melo pareceu mais pressionado para justificar a ausência de Luis Montenegro e a importância do CDS para a coligação candidata às eleições legislativas. Isabel Mendes Lopes, de um partido igualmente pequeno, teve mais calma, o que deixou o adversário mais nervoso

Que impacto pode ter nas sondagens?

Para os eleitores do PSD que ainda estão em dúvida, a representação de Nuno Melo pode não ter sido a mais convincente. No entanto, não foi um debate decisivo, que altere resultados.

Os primeiro minutos são concedidos pela jornalista para ambos os porta-vozes justificarem a ausência dos candidatos a primeiro-ministro dos respetivos partidos, ao que o deputado Nuno Melo responde que "em democracia não há candidatos a primeiro-ministro, e compete a cada partido escolher a sua estratégia".

Isabel Mendes Lopes, também em substituição nestes debates, explica que o partido decidiu que "se Montenegro não viesse, Rui Tavares, a figura candidata a primeiro-ministro do Livre, também não estaria presente", colocando assim a discussão "em pé de igualdade". Critica a postura de Montenegro, que "distorce as regras em seu favor" e "escolhe com quem quer debater, sem apresentar nenhum critério".

Entre provocações, os deputados começam por comparar os dois partidos, questionando qual o mais representativo: se por um lado "o CDS é um partido antigo, enquanto o Livre tem dez anos, e governa sozinho seis autarquias", afirma Nuno Melo, por outro, "o CDS quando se candidatou sozinho para a Assembleia da República não foi eleito", lembrou Isabel Mendes Lopes.

A expectativa sobre a postura do líder do CDS-PP era alta e, de facto, não ficou atrás do que seria esperado. Passando pela Defesa, e pela Habitação, Nuno Melo tentou justificar o incumprimento das medidas em 11 meses de mandato e acusou o Livre de "dar a mão à esquerda e à extrema direita" para causar a queda do Governo.

Isabel Mendes Lopes, também numa estreia, responde com calma aos ataques do adversário, que culpa por não permitir que Portugal escolha "um governo progressista que garanta a igualdade". Além disso, garante que a queda do Governo resultou da opçaõ de Luis Montenegro de "arrastar o seu problema pessoal para estas eleições", e a culpa não é da oposição.

Defesa

A defesa ocupou mais de metade do tempo de debate, e o principal motivo de discórdia foi a aproximação de Portugal aos Estados Unidos (EUA) e a presença de Donald Trump na NATO. Apesar de o CDS defender a importância dos americanos na NATO, o Livre recusa qualquer ingerência do presidente dos EUA na política internacional.

Nuno Melo acusa o Livre de ser "irresponsável tendo em conta o atual contexto geopolítico", por "querer acabar com a NATO e meter os americanos do lado de fora da coisa", e defende o investimento "no pilar de defesa na NATO".

Para o deputado, o investimento em defesa "não é vender uma ilusão [que corte no investimento social], é uma obrigação" e incentiva "o investimento na Europa, e nas empresas portuguesas", o que significa "um grande retorno para a economia".  Na sua opinião, o aumento do investimento em defesa só é possível "assegurando os equilíbrios orçamentais, o bom comportamento da economia e certeza do Estado para assegurar as despesas sociais", e, assim, a AD conseguiu "crescer 1,9%", aponta.

Do outro, Isabel Mendes Lopes refuta as críticas e esclarece que "o Livre não quer que Portugal saia da NATO", mas receia a presença instável de Donald Trump, que é "um perigo para os Estados Unidos, para o mundo e para a Europa". Em última instância, priveligia "a organização da comunidade europeia de defesa, e a cooperação entre os países europeus", porque  "uma Europa unida é uma Europa livre".

Sobre a presença dos americanos, o porta-voz do CDS diz que o Livre "está totalmente a leste porque tem um problema de principio, que é doutrinário, que o faz confundir um aliado de sempre com uma administração que é necessariamente transitória". Concordando com a presença dos EUA na NATO, convida Rui Tavares a "despir o fatinho de esquerdista e a vestir o fatinho de historiador", para perceber que os americanos são quem fortalece a organização.

Isabel Mendes Lopes responde que "um país que ameaça sair da NATO e não cumpre o artigo de defesa dos países parceiros, que cobiça as terras de outros membros da NATO, como a Dinamarca e até a Ucrânia", não pode fazer parte da instituição. Defende, ainda, que "é preciso investir nos vários setores da economia para investir nas empresas portuguesa, e não só nos grandes países".

Em contrapartida, Nuno Melo lembra que os investimento de 52 milhões de euros da AD na construção de drones, numa parceria com o Reino Unido, "são para serem fabricados em Portugal".

Em relação ao serviço militar obrigatório, ambos concordam que a aposta deverá ser feita na carreia militares dos profissionais portugueses. No entanto, Isabel Mendes Lopes lembra que o CDS "não votou a favor quando se votou reforçar a comunidade europeia de defesa", com que o Livre está comprometido.

Habitação

"Temos pessoas que não têm casa para viver, voltámos a ter habitação auto-construídas, o que é inadmissível, e este governo não tem tido vontade de o resolver com urgência", começa por referir Isabel Mendes Lopes. Menciona a proposta do Livre, aprovada em Assembleia da República, de criar um "fundo de emergência para a habitação, que vai buscar 25% do imposto de selo de todas as transações imobiliárias", respondendo com cerca de 100 mil milhões de euros por ano.

Um ano depois, o fundo ainda não entrou em vigor, "falta apenas regulamentar e aplicar", problema para o qual não encontra justificação. Nuno Melo também não consegue responder, critica antes os partidos da oposição por deixar cair o Governo "e não permitir que se cumpram as metas".

Nã considera justo culpar o governo por não ter conseguido, em onze meses, acabar o que propôs no início de mandato, e sem responder à pergunta, acusa o Livre de ser um dos culpados deste desfecho. A nova meta estabelecia prevê a construção de 130 mil casas, que, se for eleita, a AD "espera poder cumprir".

IRS Jovem

Quando questionada em relação à influência da garantia pública de 15% para jovens na compra de habitação no aumento dos preços das casas, a AD confirma que "é para manter e as previsões do governo e os impactos serão comprovados". Além dessa medida, Nuno Melo destaca o fim "da contribuição extraordinária e do arrendamento forçado no alojamento local e do IMT no imposto do selo de jovens até 35 anos".

Volta a dirigir-se a Isabel Mendes Lopes para acusar o partido Livre de viabilizar "quase todas as decisões do chega", inclusive "contra a descida do IRS, o IRS Jovem, contra a descida do IRS das empresas e contra o orçamento".

Em resposta, a deputada refuta a ideia que o CDS "está do lado das famílias", lembrando que "esteve contra o aumento da licença parental". Em relação ao IRS Jovem, "o Livre votou contra um orçamento que agravava a desigualdade e apoia quem tem mais".