Redator de vários artigos de opinião, para o Washington Post em particular, Jamal Khashoggi, de 59 anos, não foi visto desde que entrou no consulado na terça-feira por volta das 13h00, hora portuguesa.
"Segundo a informação que temos, o indivíduo em questão, que é saudita, está no consulado", declarou Ibrahim Kalin, porta-voz do presidente Tayyp Erdogan, à imprensa.
Além disso, Kalin assinalou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a polícia turca "estão a acompanhar este caso" e que estão a fazer contactos entre as autoridades do seu país e os funcionários sauditas.
O desaparecimento de Khashoggi foi denunciado ainda esta quarta-feira pelo editor-chefe da coluna de opinião do Washington Post, Eli López. "Estamos a monitorizar a situação de perto e a tentar obter mais informação. Seria injusto e indigno se tiver sido detido pelo seu trabalho como jornalista e comentarista", disse em comunicado.
A namorada turca de Khashoggi tem estado acampada desde a manhã desta quarta diante do consulado saudita em Istambul para conseguir notícias suas. "Não tenho notícias suas desde as 13h00 de ontem, queremos saber onde ele está", declarou à AFP Hatice A., que não quis revelar o seu apelido.
"Queremos vê-lo sair são e salvo", acrescentou.
Um amigo de Khashoggi, Turan Kislakçi, diretor de uma associação turco-árabe de jornalistas, assinalou que entrou em contacto com as autoridades turcas e que lhe afirmaram que estão "a acompanhar o caso de perto".
"Estamos certos de que Jamal está detido no interior, a menos que o consulado tenha um túnel", afirmou à AFP.
O silêncio das autoridades turcas
Hatice A. solicitou ao ministro turco dos Negócios Estrangeiros que entre em contacto com o embaixador saudita na Turquia para saber do destino de Khashoggi, um jornalista veterano, que veio a tornar-se crítico do poder na Arábia Saudita nos últimos meses, volte-face à postura que vinha tendo de proximidade ao governo.
Segundo ela, Khashoggi tinha-se apresentado no consulado para respeitar trâmites administrativos para o seu casamento, mas não saiu. "Queria obter um documento saudita que certificasse que não é casado", explicou.
Ainda não obtiveram nenhuma reação sobre este desaparecimento por parte das autoridades turcas, ou do consulado e da embaixada da Arábia Saudita na Turquia.
Khashoggi tinha-se exilado nos Estados Unidos no ano passado por medo de uma possível detenção, após criticar algumas decisões do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman e a intervenção militar de Riade no Iémen.
O Departamento americano de Estado assinalou que está a investigar mais informações sobre o seu paradeiro.
No seu artigo para o Washington Post em setembro de 2017, Khashoggi escreveu: "Quando falo de medo, intimidação, detenções e acusações públicas a intelectuais e líderes religiosos que ousam dar a sua opinião (...) e lhe digo que venho da Arábia Saudita, você fica surpreendido?".
Modernização e repressão
Naquele mesmo mês, Khashoggi anunciou que havia sido proibido de colaborar com o jornal Al Hayat, propriedade do príncipe saudita Khaled bin Sultan al-Saud. Khashoggi admitiu ter defendido a Irmandade Muçulmana, o que parece não ter agradado o seu empregador.
As autoridades sauditas descreveram essa irmandade como uma "organização terrorista", mas a Turquia é considerada uma de suas principais apoiantes. A hashtag "kidnappingjamalkhoshoggi" é uma das mais compartilhadas no Twitter árabe desde terça-feira à noite.
A Arábia Saudita ocupa a 169ª posição entre 180 pontos no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Riade promoveu uma campanha de modernização desde que o príncipe Mohamed bin Salman foi designado herdeiro do trono em 2017. No entanto, a repressão contra os dissidentes continua, e Khashoggi é uma das poucas vozes sauditas que se têm levantado contra o poder.
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