Convocados pela União de Jovens Comunistas (UJC), os participantes na caravana “pela paz, o amor e a solidariedade” percorreram a emblemática avenida marítima num percurso de sete quilómetros com diversos meios de locomoção, de patins a motos e automóveis.
O percurso terminou no parque 13 de maio, onde dezenas exibiram cartazes com mensagens de apoio ao Governo e contra o “bloqueio” (embargo) dos Estados Unidos, para além de terem ecoado as tradicionais palavras de ordem revolucionárias e elogios ao falecido líder Fidel Castro, indicou a agência noticiosa Efe.
A caravana celebrou o aniversário do “Maleconazo” de 5 de agosto de 1994, quando centenas de pessoas descontentes saíram às ruas de Havana em protesto, e Castro se deslocou pessoalmente ao local para dialogar com alguns dos presentes frente ao conhecido hotel Deauville.
A marcha de hoje deteve-se alguns minutos frente a este hotel, onde um painel de grandes dimensões recordava os dirigentes do país desde a Revolução de 1959.
A apenas um quilómetro de distância, o Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reuniu-se frente à Universidade de Havana com cerca de 100 jovens estudantes e trabalhadores, e exortou-os a apresentarem propostas profissionais ou sugestões de políticas públicas, indicaram os ‘media’ estatais.
Este desfile foi interpretado como uma tentativa do Governo presidido por Díaz-Canel de demonstrar que possui o apoio da população, num momento em que se têm multiplicado as vozes críticas com a sua gestão e após mais de 60 anos de Governo do Partido Comunista como única força política legal.
Milhares de cubanos saíram às ruas em protesto no dia 11 de julho, em diversas cidades, reclamando mudanças e liberdade de expressão, e quando Cuba atravessa um período de extrema escassez de alimentos, produtos básicos e medicamentos, as longas filas, os cortes de eletricidade ou a proliferação de estabelecimentos que apenas aceitam divisas inacessíveis para parte da população.
Diversos manifestantes do 11-J, quando também se registaram distúrbios, foram detidos e hoje centenas permanecem sob detenção ou em prisão domiciliária, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
Este desfile decorreu em plena crise sanitária. Com 1.159 casos por cada 100.000 habitantes, Cuba é atualmente o país com maior incidência de covid-19 no continente americano e um dos primeiros do mundo, apenas atrás das ilhas Fiji, segundo os dados oficiais.
A ilha está submetida a fortes medidas restritivas, incluindo o uso obrigatório de máscara, recolher obrigatório noturno, bares, restaurantes e praias encerrados, proibição de viagens e limitação de horários e de reuniões.
As autoridades cubanas insistiram na necessidade de manter as medidas de proteção e o distanciamento no desfile de hoje, que originou diversas críticas nas redes sociais, algumas provenientes de profissionais do setor da saúde.
Em resposta as estas críticas, a recém-designada primeira secretária da UJC, Aylín Álvarez, justificou a iniciativa por decorrer “num momento de máxima agressividade e tentativas de desestabilização interna e invasão estrangeira”.
Alvarez argumentou ainda que neste “momento duro e difícil” para o país, os cubanos podem “morrer de covid, mas também de uma bomba ou uma pedrada na cabeça”, e sublinhou que “devemos cuidar-nos e defender-nos”.
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