Com curadoria de Bruno Marchand, programador de artes visuais da Culturgest, “Hápax” permite “conhecer os grandes eixos de produção” que Mattia Denisse “desenvolveu nos últimos quinze anos, através dos quais se desvenda um universo tão singular na sua identidade quanto múltiplo nos seus interesses”, lê-se no texto de apresentação da mostra.

Nascido em Blois, França, em 1967, Mattia Denisse vive em Lisboa, desde 1999, e “faz parte de uma linhagem de artistas cuja obra transita, sem constrangimentos, entre a literatura e as artes visuais”, como indica a folha de sala da exposição.

“O absurdo da condição humana é uma das fontes de estímulo mais importantes para Mattia Denisse”, prossegue a apresentação do artista. “Do mesmo modo, interessa-lhe sobremaneira tudo o que existe e para o qual não há uma explicação cabal”, “não só porque as contradições e os mistérios da existência lhe aguçam a curiosidade, mas, sobretudo, porque a ausência de explicações lhe dá a oportunidade de infetar a versão racional da vida com os vírus da imaginação e da conjetura”.

Para Denisse, “texto e imagem têm exatamente o mesmo valor e o mesmo estatuto, enquanto elementos que colaboram no desvendar do seu universo artístico particular”, deste modo, “tudo o que é da ordem da realidade, mas também da surrealidade, do sonho, do fantasma, do espanto e dos fenómenos subtis, tem cabimento”, na expressão do artista, a par de “um certo apreço pelo estudo e pelos métodos científicos”.

“Hápax”, o título da mostra, remete para a expressão grega “hápaks legómenon”, “o que foi dito uma vez”, expandindo-se o uso corrente para lá da escrita ou da expressão oral, o que permite a Denisse expandir o conceito ao que “pode ser a exceção à regra, a oportunidade única, a perda da inocência, o nascimento, a morte, ou a utilização da palavra arte”, explica o texto da exposição.

Ao longo dos diferentes núcleos da mostra, encontra-se assim “um conjunto alargado de desenhos, serigrafias e monotipias, através dos quais Mattia Denisse perscruta, com humor e generosidade, várias das questões transversais à condição humana”.

“Monte Análogo”, o título do romance inacabado do francês René Daumal, publicado postumamente na década de 1950, a referência à “Morfologia do Conto”, ensaio do académico russo Vladimir Propp, da década de 1920, um velho volume de uma enciclopédia francesa, a possível vida de Adão e Eva antes do pecado original, o romance “2666”, do chileno Roberto Bolaño, o apelo a anagramas e a figuras de retórica, como as antonomásias, servem a construção de séries de Mattia Denisse, definindo um universo próprio, que quer sem limites.

Em cada uma, como em “Duplo Vê”, em que se encontra a referência às “Mitológicas”, de Claude Levi-Strauss, “o seu objetivo […] é criar as condições para que seja possível encontrar a verdade por acaso”.

Cada um dos sete núcleos da “Hápax” são complementadas pelos textos de “Cata Log Cata Strofe”, livro que acompanha a mostra.

Desde que se fixou em Lisboa, Mattia Denisse fez também da cidade ponto de partida para lugares na Europa, África e América do Sul, onde desenvolveu projetos como “Paisagem Inacabada”, que expôs em Mindelo, Cabo Verde, e “O Detalhe Imenso”, “24 Frames por Segundo de Substância Absolutamente Infinita” e “Apontamento Intempestivo”, que levou às cidades de Recife, São Paulo e Fortaleza, no Brasil.

Mattia Denisse tem sido também presença regular em galerias portuguesas, como a ZDB (“Tercenas”, “O Contra Céu – Ensaio sobre o Hiato”), Graça Brandão (“As Ilhas Desertas”) e Bessa Pereira (“Histórias Assímptotas do Homem sem Cabeça, da Mulher Geométrica, do Macaco e da Morte”).

Na Casa das Histórias Paula Rego expôs “Duplo Vê”, em 2016.

“Câmara de Descompressão”, “Logo depois da Vírgula”, “Quem Procura Acha” e “História Fantástica do Mergulho” são alguns dos seus livros.

Mattia Denisse foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2011.

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