Servir clientes e proteger funcionários. De portas abertas para vender bens essenciais, os supermercados têm o enorme desafio de adaptar a sua atividade para continuar a operar sem colocar em riscos desnecessários os seus profissionais. O covid-19 obrigou a várias mudanças — seja na frente de loja, seja nos armazéns de distribuição.

A SONAE, que abastece os supermercados Continente, instalou barreiras acrílicas de proteção nas zonas de pagamento e nos balcões de informação. A par, estão definidas nas lojas distâncias de segurança, de 2 metros, junto às caixas e outros balcões de atendimento. E quando se vai para pagar, incentiva-se o uso de métodos que evitem o contacto, seja por MBWay ou através das aplicações para telemóvel do Cartão Continente (Continente Pay e app Continente Siga).

Todos os dias, segundo comunicado da marca, são limpas e desinfetadas as lojas, como especial atenção a tudo o que sejam superfícies de maior contacto físico, como os carrinhos ou cestos que utilizamos para a recolha de produtos.

A entrada em loja também é controlada: quatro clientes por cada 100 m2, com prioridade para maiores de 70 anos, grávidas e acompanhantes de crianças de colo, portadores de deficiência, doentes crónicos ou oncológicos, profissionais de saúde e forças de segurança. Já sobre os horários, estes foram adaptados e podem ser consultados por loja aqui.

Mas o que acontece nos bastidores? A azáfama é grande no centro de distribuição da Sonae na Azambuja, distrito de Lisboa, relata a Lusa, que teve acesso ao local.

A estes 45.000 metros quadrados chegam diariamente milhares de produtos dos fornecedores, que depois são armazenados em estruturas com 12 metros de altura.

Num ciclo que se renova a cada dia, centenas de funcionários processam então as encomendas para todas as lojas do grupo (Continente, Continente Modelo, Continente Bom Dia e Meu Super) para as regiões Centro e Sul do país

“Nestas últimas três semanas tivemos um pico de atividade superior ao que temos no verão e no Natal de cerca de 20 por cento nas encomendas, mas em momento algum deixámos de fazer face à responsabilidade de assegurar o abastecimento alimentar e de ter produtos essenciais às nossas lojas”, explica Luís Cruz, diretor de operações de logística da Sonae MC, em entrevista à Lusa.

Há cinco anos a percorrer este espaço e os dos outros sete centros de distribuição do grupo, Luís Cruz reconhece o “momento excecional” imposto pelo novo coronavírus na rotina do país e os desafios que colocou aos supermercados.

Entre o aumento da procura criado pela quarentena e as restrições de acesso dos clientes, o diretor relativiza eventuais ruturas de ‘stocks’ e enfatiza o “abastecimento regular” das lojas.

“Globalmente, acho que a resposta da grande distribuição foi extremamente positiva, porque houve uma taxa de sucesso enorme no abastecimento a todo o retalho nacional. Relativamente à logística da Sonae MC e às nossas lojas alimentares, acho que conseguimos manter uma performance de abastecimento e níveis de ‘stock’ nas nossas lojas muito bons”, defende.

Por corredores sem fim, o trânsito de empilhadoras flui sem hesitações ou desorientações. Cerca de 700 funcionários de 20 nacionalidades diferentes operam neste centro (além da ajuda de alguns robôs), como se fossem abelhas numa colmeia. E tudo parece seguir o ritmo normal, a não ser as alterações introduzidas pela covid-19.

“Tivemos de garantir a confiança, a segurança e o bem-estar das nossas equipas nos seus locais de trabalho: informá-los muito bem sobre aquilo que é a covid-19 e qual o efeito da pandemia, assim como as medidas que podem reduzir esse risco – a nível pessoal, com as suas medidas de autoproteção, como também as medidas de proteção coletiva”, sublinha Luís Cruz.

De inúmeros recipientes de gel desinfetante a diversos pontos de informação bilingue (português e inglês) espalhados pela unidade, o alerta causado pelo coronavírus SARS-CoV-2 parece omnipresente.

A trabalhar há 15 anos neste centro de distribuição, Mário Correia assume que os “primeiros dias foram muito assustadores” e que “custou bastante” alterar hábitos de sempre, mas garante seguir “à risca” as orientações da empresa e da Direção-Geral da Saúde.

“O primeiro sentimento é de preocupação: ‘O que é que me vai acontecer em mais um dia de trabalho?’ Mas, ao mesmo tempo, quando chegamos aqui, eu, no meu caso, sinto-me seguro, preparado e determinado a cumprir a minha missão. Não podemos parar e temos de fazer com que os portugueses tenham os bens essenciais em casa. Enquanto estiver seguro no meu local de trabalho, vou estar tranquilo”, declara.

Uma tranquilidade partilhada pela colega Paula Faria, colaboradora neste centro de distribuição há já 19 anos, e que vê esta pandemia como “apenas mais uma prova de fogo”.

Sem ver “necessidade de estar em pânico” ou de ir a correr às prateleiras dos supermercados, a trabalhadora admite ter interiorizado rapidamente a importância de contrariar o apelo nacional para ficar em casa.

“Tenho um filho adolescente que está naquela idade em que já pergunta tudo, mas ao mesmo tempo compreende tudo. Vê as notícias, sabe o que se passa e compreende que existem pessoas que têm de estar na linha da frente para que não falte nada. Para ele poder ter comida na mesa todos os dias, alguém tem de lá estar para fazer chegar às lojas e a mãe é uma dessas pessoas”, resume Paula Faria.

Até agora, segundo Luís Cruz, “nenhum funcionário está contaminado” com a covid-19 entre os colaboradores da logística, embora alguns se encontrem em quarentena “por precaução”, devido a casos entre familiares ou amigos.

A uma crise inédita de saúde pública neste século seguir-se-á mais uma crise económica, algo que o diretor de operações da Sonae MC já vislumbra, sem perder o otimismo.

“Os efeitos económicos começam a ser visíveis agora e no futuro serão ainda mais visíveis. Não sabendo ainda, concretamente, o efeito final dessa crise económica, antevejo – como em todas as crises anteriores – que nós, enquanto organização e enquanto país, iremos encontrar as melhores formas de ultrapassar as repercussões daquilo que estamos a viver”.

créditos: JOSÉ COELHO/LUSA

Não vale andar a "passear" pelo supermercado

Se entrar para fazer compras de bens essenciais numa loja Pingo Doce ou Recheio, da Jerónimo Martins, é provável que encontre um cenário parecido com o descrito nas lojas do grupo SONAE. Aplicam-se as mesmas regras: também aqui se aplicam as regras do atendimento prioritário; só são permitidos quatro clientes por casa 100m2; dois metros de distância de segurança e é ainda proibido consumir produtos dentro da loja ou ficar mais tempo do que o estritamente necessário para fazer as compras, ou seja, nada de andar a passear nos corredores do supermercado.

E para que seja "cirúrgico", na hora de fazer as compras a DGS dá uma ajuda com este guia de bens essenciais quando o tema é alimentação.

Já sobre horários, também eles sofreram alterações e devem ser consultados por loja aqui.

Em comunicado, a empresa explica ainda que "no âmbito dos esforços para conter a propagação do vírus", "cada loja tem a sua equipa dividida em grupos, possibilitando a rotação das equipas a cada 15 dias. Assim, teremos sempre profissionais em prontidão e os nossos colaboradores podem, rotativamente, resguardar-se em casa. Uma equipa de médicos e enfermeiros acompanha e aconselha, em alinhamento com os serviços públicos de saúde, os nossos Colaboradores. Reforçámos a desinfecção diária das lojas e de todos os equipamentos, como carrinhos e cestos, e implementámos a obrigatoriedade de todos os Colaboradores higienizarem as mãos a cada 30 minutos".

Passado o "susto" do início de março provocado pelo anúncio da chegada do novo coronavírus, o Centro de Distribuição (CD) do Norte da Jerónimo Martins, em Valongo, reorganizou-se e tem normalizado o abastecimento das lojas Pingo Doce e Recheio, relata a Lusa.

Ultrapassada a preocupação gerada pelo açambarcamento de bens após o anúncio da epidemia do novo coronavírus em Portugal, no CD a casa está arrumada e a reposição dos ‘stocks' das lojas Pingo Doce e Recheio asseguradas, garantiu à Lusa o diretor de logística da área Norte, Rui Matos.

Na semana e meia após 09 de março, dia em que a Direção-Geral da Saúde comunicou a ‘chegada' da covid-19 a Portugal, o responsável disse terem vivido "um grande pico nas lojas, que se refletiu no volume dos armazéns, que tiveram de responder". Com a procura hoje em níveis "mais inferiores", são os "produtos alimentares, higiene do lar e pessoal e bebidas os mais procurados", conta.

Contudo, as preferências dos clientes nos últimos dias fizeram assomar um novo produto, respondendo Rui Matos com um sorriso quando questionado se algum artigo tinha sido alvo de procura inusitada: "Há e achei muita piada, é o ‘make up', vernizes, pincéis, colorantes de cabelo, completamente inusitado".

As normas de segurança instaladas no perímetro do CD implicam que a temperatura das cerca de 220 pessoas que diariamente ali trabalham seja medida assim que chegam e, "caso ultrapasse os 37,8 graus, não são autorizados a entrar", informou o responsável. "Até ver, apenas um motorista, de fora, acusou 38,5 graus", observou Rui Matos.

No CD inaugurado em setembro de 2017 depois de um investimento de 75 milhões de euros, por força da covid-19, foi criada "uma sala de isolamento" e nas "áreas comuns há delimitação de espaços entre pessoas", num conjunto de medidas que também abriu "todas as portas de acesso aos armazéns" para, assim, "evitar que se coloquem as mãos".

As ações de sensibilização, a cargo dos "enfermeiros e médicos que colaboram diariamente com a empresa", acrescentou o diretor, completaram a mensagem importante a passar aos colaboradores, a quem a administração quis, também, assegurar tranquilidade salarial.

"As pessoas foram para casa em circunstâncias normais, como se estivessem a trabalhar. Recebem a 100%, prémios e horas noturnas, exatamente como se estivessem a trabalhar. Esta foi a garantia e a normalidade que se achou neste processo", enfatizou à Lusa Rui Matos.

As alterações verificadas na operação versaram três momentos: "a primeira, para as pessoas consideradas de risco, cerca de 12, com doenças crónicas e diabetes, que foram as primeiras a ir para casa".

"A segunda, após o Governo decretar o fecho das escolas e das creches, com 30 pessoas a terem de dar apoio aos filhos e, por isso, obrigadas a ausentarem-se, e, a terceira, na divisão das restantes em 50%, ficando metade em casa duas semanas e a outra metade a trabalhar, revezando-se no final desse período", explicou o responsável.

Em face disto, acrescentou, a fim de se manterem os três turnos, foi "diminuída a carga de operação e de pessoas", o que permitiu "manter a cadência de abastecimentos".

Miguel Pinto, operador, reconheceu o "impacto no nível de trabalho para quem ficou a substituir quem foi para casa", contando que houve um "redobrar do esforço" para que se conseguisse "manter os bens essenciais para as lojas do Pingo Doce e do Recheio".

Das normas de segurança adotadas "desde o anúncio do primeiro caso positivo [do novo coronavírus] no Hospital São João", o funcionário destacou as palestras que ajudaram a "consciencializar para o problema e a tranquilizar os colaboradores", depois de num primeiro momento a situação lhes ter provocado "pânico".

"Susto" foi também a palavra utilizada pelo colaborador para abordar o "açambarcamento", antes de assegurar que, face às normas aplicadas, se sente "tranquilo" a trabalhar num CD onde não se vislumbrou ninguém a usar máscara.

O supervisor Luís Ramos reconheceu também alarme pelo avanço do novo coronavírus, que "não se pensava que tivesse uma propagação tão grande e rápida", e reiterou os apelos para que "os cuidados se mantenham também quando se chega a casa", para que depois "nada falhe na hora de voltar ao trabalho".

créditos: PAULO NOVAIS/LUSA

30 minutos exclusivos para profissionais de saúde, bombeiros e polícias

Dos supermercados alemães,Lidl, ALDI, E.leclerc, e aos quais se junta o El Córte Inglés, vem a iniciativa de criar horários diferenciados para os profissionais de saúde, forças de segurança e pessoas com mais de 65 anos.

A partir do dia 20 de março, o Lidl implementou uma hora de acesso privilegiado para polícias, bombeiros, proteção civil, médicos e enfermeiros: 30 minutos antes do horário de abertura e 30 minutos após o horário de fecho.

Também aqui há limitação de entradas em loja e foram reforçadas as medidas de segurança com reforço do gel desinfetante, reforço da limpeza de materiais e equipamentos, a instalação de uma estrutura acrílica nas caixas de pagamento e a colocação de marcas no chão, assinalando a distância de segurança, na linha de caixa. Os clientes são incentivados a pagar por meios meios que não impliquem contactos ou trocas de dinheiro, ou seja, por MB Way ou Contacless (aqueles cartões que basta encostar no ATM para efetivar a compra, sem necessidade de digitar o código).

Para dar resposta ao aumento de procura dos seus serviços, o Lidl anunciou que vai reforçar as suas equipas nas lojas e entrepostos, de norte a sul, com a contratação de 500 colaboradores.

Já a cadeia El Corte Inglês também anunciou a criação de horários exclusivos para profissionais de saúde, bombeiros e forças de segurança e atendimento privilegiado para maiores de 65 anos.

Os supermercados deste grupo estão abertos ao público em geral entre as 10:00 e as 19:00, mas os grandes armazéns de Lisboa e Gaia estão parcialmente encerrados, mantendo-se apenas em funcionamento as áreas de informática, telecomunicações e alimentação para animais, além dos supermercados e dos espaços saúde.

Uma hora antes da abertura ao público os supermercados atendem em exclusivo profissionais da área de saúde, forças de segurança, proteção civil e pessoas de idade superior a 65 anos ou de especial vulnerabilidade.

Por outro lado, adianta o El Corte Inglês, serão assegurados os seus serviços de entregas ao domicílio e de recolhas no parque como é o caso do 'Click & Car', sendo possível as compras através da loja online.

A cadeia de supermercados Aldi, decidiu que os profissionais de saúde, bombeiros e forças de segurança poderiam fazer as suas compras entre as 9:00 e as 10:00, todos os dias, mediante a apresentação de um comprovativo profissional.

Os hipermercados E.leclerc anunciaram, em comunicado, que devido à crise gerada pela Covid-19 estão abertos entre as 8:00 e as 9:00 em exclusivo para atender elementos das forças de segurança, bombeiros e profissionais de saúde, que têm ao seus dispor as caixas de pagamento automático.

20% do salário líquido. Um incentivo da Auchan aos funcionários

A cadeia de supermercados anunciou Auchan vai entregar prémios de 20% do salário líquido de março aos funcionários em Portugal.

Este "bónus de incentivo" foi a solução encontrada pela Auchan Retail Portugal para "reconhecer o esforço diário dos seus colaboradores" neste período marcado pelo surto do novo coronavírus.

Com cerca de 9.000 funcionários, distribuídos por 64 lojas físicas e 29 gasolineiras em território nacional, a retalhista tomou esta medida depois de, em França, país onde está sediada a Auchan, ter-se decidido entregar um prémio de 1.000 euros a cada trabalhador que continuasse a exercer as suas funções - são cerca de 65.000, no total.

Esse bónus de 1.000 euros surgiu depois da isenção de impostos decretada pelo ministro da Economia de França, Bruno Le Maire, tendo sido aplicado por outras cadeias de supermercados no país, como a Carrefour, o Intermarché e a Kingfisher, avançou a Efe na segunda-feira.

Tais incentivos, referiu ainda a agência de notícias espanhola, vão também ser aplicados pela multinacional em Espanha, na Roménia, na Hungria e no Luxemburgo, com valores definidos "em função da legislação e das condições sociais" de cada país.

*Com agência Lusa