A vila de Medjugorje ficou mundialmente conhecida em 1981, com “aparições” marianas regulares a seis crianças nascidas nos arredores da localidade.
Na ocasião, Nossa Senhora ter-se-á apresentado como “rainha da paz" e, desde então, terá aparecido sucessivas vezes aos seis videntes, um fenómeno que se repete, pelo menos, todos os meses.
Portugueses procuram presença de Maria na Bósnia
Maria Helena Fernandes, de 72 anos, já foi três vezes a Medjugorje, depois de "há cerca de 15 anos" o marido ter encontrado, num alfarrabista, um livro sobre a localidade que atrai cerca de um milhão de peregrinos por ano e onde se acredita que a Virgem "aparece" regularmente, desde 1981, a seis pessoas.
"Nós vemos muita fé aqui. Muita. Somos portugueses, temos a nossa Fátima, que é nossa, mas a nossa Fátima aconteceu há 100 anos. Aqui nós temos a presença de Maria junto de nós. Nós já tivemos a felicidade de estar em duas aparições ali junto dela", afirmou a portuguesa de Viseu.
Enquanto esperava para se confessar, em português, num dos cerca de 50 confessionários no exterior da igreja de Santiago, Maria Helena Fernandes contou que acredita nas "aparições" e na "presença de Maria" na localidade porque "ao fim de 30 e tal anos os videntes" não se contradisseram: "Se acredito que Maria esteve em Fátima, porque é que não ia acreditar que Maria está aqui?", resumiu.
Para o padre Carlos Macedo, que vai a Medjugorje desde 2002 e que tem acompanhado vários peregrinos, "o especial deste lugar é realmente a presença de Maria que se sente" e "é um lugar de fé, de muita fé", explicando que o Vaticano não pode reconhecer Medjugorje como santuário enquanto houver "aparições".
"Depois de uma aprovação [do Vaticano], claro que vão aumentar as peregrinações. No entanto, esta vinda aqui dos peregrinos, mesmo sem a aprovação, continuará", afirmou o padre, junto à cruz branca do monte Kricevac, "o monte da cruz", após ter acompanhado, às 5h30 da madrugada, um grupo de 50 portugueses pela via-sacra de uma colina íngreme e rochosa que culmina a 500 metros de altitude.
O autor do livro "Medjugorje: O Lugar do Amor - Onde o Céu Toca a Terra" sublinhou que "a Igreja vai acompanhando" e que houve "muitos bispos a favor", como "um dos grandes apoiantes dos videntes" Frane Franic, antigo bispo da arquidiocese croata de Split, "a única cidade que, como Medjugorje, não foi tocada pela guerra" de 1992 a 1995 "porque realmente acreditavam nesta vinda de Maria e nesta continuação de Fátima".
Daniel Almeida, de 33 anos, também subiu, a pé, a via-sacra do monte "Kri?evac" e, diante da cruz branca de 8,50 metros que orna o topo da colina, argumentou que Medjugorje é um local onde "se sente a presença de Maria" que "está a reunir os seus filhos para que o seu imaculado coração triunfe como foi anunciado em Fátima".
"Este lugar é bastante especial como qualquer outro santuário mariano, como Fátima, Lourdes, La Salette, por exemplo. Quando eu comecei a ouvir falar disto, pesquisei seriamente e quando me apercebi do que isto era, pelos testemunhos, pelos frutos, vi que o que está a acontecer neste momento é mesmo real: testemunhos, experiências de vida, curas, conversões", disse o jovem de Mira que foi a Medjugorje pela segunda vez porque sentiu "um chamamento".
António Leal, de 58 anos, também afirmou ter sentido "um chamamento", considerando que "Medjugorje é a porta do céu" e que foi viver "um retiro espiritual e um momento de encontro com Deus e Maria".
"Este é um lugar de reconciliação com Deus, é um lugar muito importante. Ninguém sai daqui defraudado. A mãe Maria não nos deixa ir de mala vazia para casa", afirmou o empresário de Arruda dos Vinhos, no distrito de Lisboa, que foi a Medjugorje pela primeira vez e que gostaria que o Vaticano reconhecesse a localidade.
Júlia Liberal, de 57 anos, tem uma agência de viagens que organiza peregrinações a Medjugorje há cinco anos e visitou a localidade dez vezes não só como "técnica da organização" mas como "peregrina com muita fé" que ali se converteu e viu "muita cura, muito milagre".
"Tenho tido muitos peregrinos que gostariam de ficar aqui, dizem-me 'Gostava de aqui viver' porque é uma paz que não se encontra em lado nenhum, é uma paz que só pode vir do céu. É mesmo o lugar onde o céu toca a terra, onde Maria aparece e é muito especial", afirmou Júlia Liberal, avisando que "outros desdenham porque nunca vieram".
Medjugorje é uma "continuação de Fátima"
A comunidade religiosa de Medjugorje, no sul da Bósnia-Herzegovina, assim como vários residentes e peregrinos, acreditam que há uma ligação entre Fátima e as "aparições da Virgem Maria" que seis pessoas dizem ter há 36 anos nesse local.
Nos jardins da "Aldeia da Mãe", uma instituição de assistência social e de ensino infantil, o padre franciscano Dragan Rucic explicou à Lusa que os locais de "aparições" "são todos muito semelhantes" devido ao teor das mensagens marianas.
"Há parecenças entre todos estes lugares de aparições. São lugares de onde vem esta mensagem de penitência, de conversão, de uma maneira de viver mais intensamente o nosso caminho para Jesus Cristo", afirmou o padre que preside a instituição que também acolhe uma associação de ajuda aos pobres, idosos e doentes e outra de ajuda aos dependentes de drogas, álcool e jogos.
Tomislav Pervan, antigo pároco de Medjugorje, respondeu à Lusa, por escrito, que "todas as apariações marianas são semelhantes" porque "há sempre um apelo à conversão", seja em La Salette, em Lourdes ou em Fátima.
"Menos de 40 dias após o atentado ao papa, a 13 de maio de 1981, aconteceu a primeira aparição de Medjugorje, a 24 de junho de 1981, o dia da festa de São João Batista. Tudo o que foi iniciado em Fátima tem um ponto final em Medjugorje. Maria quis reunir o Oriente e o Ocidente em Medjugorje e os seus pedidos unem-se aqui", considerou o padre franciscano.
A freira Marie Emmanuelle Adam, que vive há cerca de oito anos em Medjugorje, é "apaixonada por Fátima" e costuma receber os peregrinos na capela da "Communauté des Béatitudes" ("Comunidade das Bem-Aventuranças"), onde lhes mostra uma fotografia dos três pastorinhos de Fátima.
"Comparamos Medjugorje a Fátima porque foi a própria Virgem que nas mensagens que deixou falou num único local de aparições e esse local é Fátima", afirmou a freira, folheando o livro "Mensagens de Maria em Medjugorje", editado pelo Centro de Informação da Paróquia.
Também o padre Carlos Macedo, que vai a Medjugorje regularmente com grupos de peregrinos portugueses, acredita na ligação entre Fátima e a localidade bósnia, citando a mesma mensagem que a freira belga.
"Na mensagem de 25 de agosto de 1991, ela diz: 'Vou terminar aquilo que comecei em Fátima'. É a única terra do mundo que ela fala", afirmou o padre português, explicando que em Portugal a Virgem prometera que "o seu imaculado coração ia trinfar".
Marinko Ivankovic, de 76 anos, afirmou à Lusa ter sido "testemunha dos primeiros dias de aparições", em junho de 1981, nos quais já se ouvia falar de Fátima, e a sua interpretação é que em Fátima "ela pediu para se rezar o rosário para a conversão da Rússia" e "agora, espera que o mundo inteiro se converta", apontando "o que se passa no mundo" como o recente atentado em Londres.
"Penso que foi ao terceiro dia que os "videntes" nos disseram o que a Virgem lhes tinha dito que o seu plano não se tinha realizado em Fátima e que ela veio aqui para terminar esse plano", afirmou o antigo mecânico, que há 36 anos foi o primeiro a informar o padre franciscano sobre as "aparições" a seis crianças e adolescentes.
Milona Von Habsburg, descendente da família imperial austro-húngara dos Habsburgos, está desde 1984 em Medjugorje, onde se converteu, e conhece Fátima de perto, considerando que entre o santuário português e o local bósnio "é a mesma mensagem" que "o senhor manda para ajudar este mundo que não está muito bem".
"Depois de virem aqui a Medjugorje, [os peregrinos] vão para Fátima porque querem conhecer Fátima porque ela falou de Fátima aqui também. É o único lugar do qual ela falou. Ela disse que o que começou com os segredos em Fátima quer realizar [em Medjugorje]. Ela quer novenas de sacrifícios aqui também para ajudar o seu coração imaculado a triunfar", afirmou, em português.
Patrick Latta e Nancy Latta trocaram Vancouver, no Canadá, por Medjugorje, há 24 anos, tendo vendido o que tinham para construir um castelo de estilo medieval nas imediações da localidade para serem "vizinhos da Virgem" e para acolher padres, freiras e peregrinos.
"Em Medjugorje, ela disse: Medjugorje é a continuação de Fátima. É por isso que nos sentimos muito próximos de Fátima porque é a mesma mãe. Sentimo-nos próximos de todos os santuários onde a Nossa Senhora esteve porque é a mesma mãe", descreveu Nancy Latta que também visitou o santuário português.
Davor Ljubic, proprietário de uma agência de viagens há 28 anos em Medjugorje, visitou Fátima "mais de 15 vezes" em trabalho, contando levar este ano um total de 1200 peregrinos ao santuário português e explicando que a 13 de maio vai haver uma missa, em Medjugorje, dedicada a Nossa Senhora de Fátima.
"A diferença fundamental com Fátima é que Medjugorje está viva porque os videntes estão vivos e nunca se viu fé como aqui", comentou o agente turístico que fez recentemente uma viagem na qual uma estátua de Nossa Senhora de Fátima foi "abençoada" em vários santuários até Medjugorje e "vai ser levada de igreja em igreja na arquidiocese de Sarajevo".
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