Quando Harvey Weinstein, um premiado e poderoso produtor de cinema, foi acusado de ter assediado várias mulheres ao longo da carreira em Hollywood, estávamos apenas no início de uma série de denúncias. Políticos, músicos, atores, realizadores. Os nomes dos grandes homens da sociedade norte-americana surgiam em queixas, desabafos e confissões de mulheres, colegas ou raparigas à procura de realizar sonhos.

Eles, aproveitaram-se. Agora chegam as denúncias. De ídolos da música pop dos anos 1990 a senadores e candidatos a altos cargos públicos, muitos são os nomes acusados. Porém, a real dimensão do problema pode ser dissimulada, entre as acusações sem substância e as denúncias que o medo eventualmente cala.

Nos casos que têm vindo a público, muitas acusações são diminuídas. É a palavra de uma mulher contra a de um homem poderoso e respeitado. É a palavra de dezenas de mulheres contra a de dezenas de homens admirados, que durante anos não foram denunciados e agora se veem envolvidos nas denúncias sucessivas.

Algumas estão sob investigação judicial. Outras não têm provas. É a palavra delas contra a deles.


Em Portugal, ainda não se conhecem denúncias semelhantes. Há semanas, um ex-assessor de Pedro Passos Coelho foi acusado de ter enviado mensagens obscenas a uma jornalista norte-americana a cobrir os Balcãs (Europa de Leste). Porém, mais tarde a mulher disse que não levava a sério as mensagens.

Resiste em Portugal, porém, uma cultura patriarcal. Pelo menos, é isso que defende a UMAR - União de Mulheres Alternativas e Resposta.

É preciso “mudar uma cultura que ainda é patriarcal, de um machismo que ainda dita que numa relação de conjugalidade ou de intimidade a mulher é quase uma pertença do homem”, explica a diretora da área de violência da UMAR, Elisabete Brasil.

“É preciso mudar esta mentalidade e dizer que homens e mulheres são iguais e igualmente capazes de decidir a sua vida” e que têm de respeitar o outro quando diz ‘sim’, mas também quando diz ‘não’, sustentou a responsável, que falava à agência Lusa sobre a violência contra as mulheres, que este ano já fez dezoito vítimas mortais (o número mais baixo dos últimos 14 anos) em Portugal.

Para Elisabete Brasil, é preciso responsabilizar o agressor pelo seu comportamento de violência, um “sinal que ainda não foi dado em Portugal”.

“Muitas vezes são as vítimas que têm a responsabilidade da sua proteção e da sua segurança e o agressor fica impune a aguardar que uma justiça se faça, mas sem que haja uma repercussão direta na sua esfera jurídica, pessoal, social, laboral, enquanto que as vítimas têm de fugir para se proteger e adaptar-se a um sistema de proteção”, salientou.

Também acontece muitas vezes as denúncias terminarem em arquivo e algumas em suspensão provisória de processo. Há outras que seguem para julgamento e que são condenatórias, mas “terminam com penas suspensas”, o que “acaba por ser uma certa impunidade quer aos olhos da sociedade quer aos olhos das próprias vítimas”, conclui a responsável.

Segundo o Eurobarómetro de 2016, 15% dos europeus ainda consideram a violência doméstica como uma questão privada, mas as coisas começaram a mudar nos últimos tempos e as mulheres estão a denunciar mais.

As recentes alegações de assédio sexual em Hollywood levaram à campanha mundial #MeToo que pretende quebrar o silêncio sobre o assédio sexual e a violência contra as mulheres.

[Cronologia atualizada a 30 de novembro de 2017 - acrescentado o nome de Russell Simmons]

[Infografia e edição: Pedro Soares Botelho]