De acordo com o balanço do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) o aumento do custo de vida representou 36% das causas de dificuldade financeira das famílias que contactaram aquele gabinete, com os dados a mostrarem que a tendência se está a agravar em 2023.
“Em 2022 as famílias foram muito confrontadas e muito penalizadas pelo aumento do custo de vida, sobretudo no que concerne à fatura do supermercado, dos serviços essenciais, mas também ao aumento da prestação do crédito de habitação por via do aumento da Euribor”, disse a coordenadora do GPF, Natália Nunes, à Lusa, precisando ter sido este o motivo das dificuldades financeiras invocado por mais de um terço dos 31.500 que pediram ajuda.
Em relação ao primeiro trimestre deste ano, período em que o número de pedidos de ajuda somou já 7.500, aumentou para 44% os que invocaram aquele motivo.
Para Natália Nunes, estes resultados são “reveladores daquilo que são hoje as dificuldades financeiras das famílias, que continuam confrontadas com o aumento do custo, sobretudo da alimentação e da prestação da casa”.
Os dados anuais do GPF indicam que dos 31.500 pedidos de ajuda em 2022 — que representam uma subida homóloga de cerca de 5% – a maior parte (59%) partiram de famílias que moram nos distritos de Lisboa e do Porto, dois dos locais onde o aumento do preço e da renda das casas mais se tem feito sentir.
Por outro lado, 42% dos pedidos partiram de pessoas casadas ou em união de facto, enquanto 31% foram efetuados por solteiros, 22% por separados e 5% por viúvos, com esta distribuição a manter-se idêntica nos primeiros três meses de 2023.
De acordo com os mesmos dados, 51% das pessoas que pediram apoio em 2022 eram trabalhadores do setor privado (37% no primeiro trimestre de 2023), sendo que os desempregados representaram 16% (17% nos primeiros três meses deste ano).
Além de ter mudado a principal causa para os pedidos de ajuda, Natália Nunes refere estar também a notar-se mais da parte das pessoas um comportamento preventivo face a futuras dificuldades financeiras.
“Aquilo que temos verificado em 2022 e 2023 é as famílias, de forma muito preventiva”, recorrerem ao GPF para “pedirem aconselhamento sobre o que fazer antes de serem confrontadas com situações de ruturas dos orçamentos” ou situações de incumprimento.
Em 2022 e 2021 mais de metade (52%) dos pedidos foram pedir aconselhamento sobre reestruturação, percentagem que aumentou para os 64% no primeiro trimestre deste ano, uma realidade “completamente diferente” daquilo que se verificava até 2012, em que os pedidos de ajuda chegavam quando já “não havia qualquer viabilidade de ajudar as famílias a recuperar a situação financeira”.
“Portanto [na atual conjuntura], temos famílias que têm rendimentos”, mas em que “os rendimentos são baixos para fazer face às despesas e ao aumento das mesmas”.
Dos 31.500 pedidos de ajuda, o GPF abriu processos de intervenção em 2.700 casos, com Natália Nunes a observar que se trata de pessoas com um rendimento médio de 1.200 euros mensais e um encargo mensal com prestações de créditos a rondar os 850 euros.
Em média, a taxa de esforço com os créditos ronda os 69%, um valor bastante acima do limite recomendável de 35%, mas que, ainda assim, tem vindo a reduzir-se ao longo dos anos.
Relativamente ao primeiro trimestre, os dados indicam que dos 7.500 pedidos, foram abertos 640 processos de pessoas cujo rendimento médio mensal é de 1.100 euros e cuja fatura com os créditos ronda os 700 euros.
O número de créditos médio por família era em 2022 de cinco (um de habitação, dois pessoais e dois de cartões de crédito), valor que se manteve na entrada deste ano.
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