Colchões, estrados, quadros, cadeiras, partes de sofás, cobertores, sacos-cama e almofadas iam sendo, pelas 15:30, retirados das tendas e amontoados em pilhas.

À medida que os bens iam sendo retirados, as equipas da Polícia Municipal do Porto, da PSP, do ambiente e da ação social iam falando com os que há já algum tempo ocupam parte daquele jardim, localizado nas proximidades do bairro da Pasteleira.

Em redor das tendas, as pratas iam reluzindo à luz do dia e várias malas de viagem ganhando forma e volume.

Vários eram os toxicodependentes que, a todo o custo, tentavam colocar todos os seus pertences no interior das malas para, de imediato, descer a encosta do jardim e atravessar a estrada em direção ao bairro da Pasteleira.

Enquanto isso, sacodiam as sapatilhas para colocar na mala, prendiam o gato com a trela e colocavam a roda e o selim, outrora retirados, na bicicleta.

Com a roupa e outros pertences em sacos de plástico, ouviam-se queixumes entre os que desciam em direção ao bairro.

"Está pesado", disse uma das mulheres, imediatamente interpelada por quem a acompanhava: “Pois está, mas tem de ser”.

No muro, que divide aquela realidade da Escola Básica das Condominhas, lia-se: "Aqui o negócio é cocaína".

De acordo com a informação partilhada com os jornalistas pelo presidente da Câmara do Porto, diariamente os professores daquela escola têm de "limpar objetos com sangue" do recreio.

Rui Moreira adiantou também que uma das tendas servia "exclusivamente para o chuto".

"Era uma sala de consumo proporcionada pelo tráfico e pelos traficantes que estão lá ao fundo a ver", disse.

Da ação hoje realizada resultou o desmantelamento de 18 tendas e a identificação de 26 pessoas, a maioria das quais naturais de concelhos vizinhos ao Porto.

Entre os que foram identificados, seis manifestaram interesse em ser encaminhados para o antigo hospital Joaquim Urbano.

Naquele jardim, onde ninguém passeia as crianças ou os animais porque "o chão está permanentemente impregnado de coisas com sangue humano ou seringas", a solução que mais interessa à autarquia não é vedar, mas "se for preciso" é o que fará, garantiu o presidente da Câmara.