“Ciente do seu serviço ao Evangelho através da promoção da igualdade racial e da reconciliação na sua África do Sul natal, Sua Santidade confia a sua alma à misericórdia de Deus Todo-Poderoso”, pode ler-se num telegrama enviado hoje pelo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin.
Também o Dalai Lama recordou Desmond Tutu como um homem que “se dedicou inteiramente a servir os seus irmãos e irmãs pelo bem comum”, dizendo que ele foi “um verdadeiro humanista e um defensor comprometido dos direitos humanos”.
“A amizade e o vínculo espiritual entre nós era uma coisa que valorizávamos”, disse o chefe de Estado e líder espiritual do Tibete sobre o seu amigo de longa data.
O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, expressou a “sua profunda tristeza” pela morte deste “inigualável patriota”, dizendo que a morte de Desmond Tutu “é um novo capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de sul-africanos excecionais, que nos deixou um país libertado”.
“Um homem de inteligência extraordinária, justo e invencível contra as forças do ‘apartheid’, também era terno e vulnerável na sua compaixão por aqueles que sofriam (…) sob o regime do ‘apartheid’, e pelos oprimidos de todo o mundo,” lembrou Ramaphosa.
Também o Congresso Nacional Africano, partido que governa na África do Sul, emitiu uma nota dizendo que o país e “o movimento democrático de massas perderam uma torre de consciência moral e um epítome de sabedoria”.
O Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, considerou que “a morte do arcebispo Desmond Tutu é um golpe não só para a República da África do Sul (…) mas também para todo o continente africano, onde é profundamente respeitado e festejado como pacificador”.
“O arcebispo Tutu inspirou uma geração de líderes africanos que adotaram as suas abordagens não violentas na luta de libertação”, disse Kennyatta.
O antigo primeiro-ministro e atual líder da oposição no Uganda, Bobi Wine, usou a sua conta na rede social Twitter para escrever que, com a morte de Tutu, “caiu um gigante”.
“Agradecemos a Deus pela sua vida — uma vida plena, vivida verdadeiramente ao serviço da humanidade”, disse Wine.
Também na mesma rede social, Benice King, filha do falecido e carismático líder dos movimentos pelos direitos civis nos EUA Martin Luther King, escreveu que “nós somos hoje melhores, porque Desmond esteve entre nós”.
O grupo Sábios — uma organização criada em 2007 pelo falecido líder sul-africano Nelson Mandela e que reúne figuras públicas que trabalham nos principais problemas mundiais – prestou homenagem ao arcebispo, dizendo que ele foi uma “inspiração” para o mundo, mantendo um “compromisso com a paz, amor e igualdade”.
“Os Sábios perderam um querido amigo, cujo riso contagiante e travesso senso de humor os deliciaram e encantaram a todos”, reagiu, numa nota, o grupo, que tem nas suas fileiras figuras como o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon ou o ex-Presidente norte-americano Jimmy Carter.
O ex-vice-Presidente do Egito e vencedor do prémio Nobel da Paz, Mohamed El-Baradei, referiu-se a Desmond Tutu como “uma voz poderosa e corajosa a favor da não violência, da reconciliação e da paz”.
O músico britânico Boy George, que conviveu e trabalhou em várias iniciativas ao lado de Desmond Tutu, disse sentir-se “feliz” por ter conhecido o arcebispo, que retratou como “uma bela alma” e “um homem incrível, com uma energia poderosa”.
Desmond Tutu, arcebispo emérito sul-africano e vencedor do Prémio Nobel da Paz de 1984 pelo seu ativismo contra o regime de segregação racista do Apartheid, morreu hoje aos 90 anos, anunciou o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
O arcebispo anglicano estava debilitado há vários meses, durante os quais não falou em público, mas ainda cumprimentava os jornalistas que acompanhavam cada uma das suas saídas recentes, como quando foi tomar a sua vacina contra a covid-19 num hospital ou quando celebrou os seus 90 anos em outubro.
Desmond Tutu ganhou notoriedade durante as piores horas do regime racista na África do Sul, quando organizava marchas pacíficas contra a segregação, enquanto sacerdote, pedindo sanções internacionais contra o regime branco em Pretória.
Com o advento da democracia, 10 anos depois, o homem que deu à África do Sul o nome de “nação arco-íris” presidiu à Comissão de Verdade e Reconciliação criada com o objetivo de virar a página sobre o ódio racial, mas as suas esperanças foram rapidamente frustradas. A maioria negra adquiriu o direito de voto, mas continua em grande parte pobre.
Depois do combate ao apartheid, Tutu empenhou-se na reconciliação do seu país e na defesa dos direitos humanos.
Contra a hierarquia da igreja anglicana, defendeu os homossexuais e o direito ao aborto, tendo nos últimos anos aberto como nova frente de combate o direito ao suicídio assistido.
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