“Há atividade do ‘Hezbollah’ na região. Isso é um dado da realidade”, confirmou à Lusa Otávio Brandelli, chefe do Itamaraty, palácio da diplomacia brasileira.
Brandelli participou em Buenos Aires da Segunda Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo em substituição ao ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, quem se deslocou a Cabo Verde para uma reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
“O Brasil juntou-se à declaração da Conferência na qual se reconhece que há atividades do Hezbollah na América do Sul. Não queremos que o hemisfério seja um espaço para ação de logística, de financiamento ou de atividades operacionais de qualquer grupo terrorista”, explicou Brandelli.
Durante o encontro, Brasil, Argentina e Paraguai, com o apoio dos Estados Unidos, estabeleceram um mecanismo de segurança regional para a coordenação dos esforços na luta contra as atividades ilícitas na região e contra as suas vinculações com o crime transnacional e financiamento do terrorismo.
O mecanismo prevê reuniões semestrais, sendo a primeira, antes do final deste ano, em Assunção no Paraguai.
“É um mecanismo de cooperação no modelo 3 + 1. Ou seja: Brasil, Argentina e Paraguai + Estados Unidos. O mecanismo já existia, mas não se reunia mais. Agora foi relançado”, anunciou Brandelli.
Autoridades dos Estados Unidos afirmam que o Hezbollah opera na Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, onde uma economia ilícita em torno do contrabando e dos tráficos de drogas e de armas financiaria operações do movimento xiita noutras partes do mundo.
A reunião em Buenos Aires aconteceu em sintonia com a decisão argentina de declarar a organização xiita pró-iraniana Hezbollah como grupo terrorista, um pedido dos Estados Unidos e de Israel, países com os quais a Argentina tem interesses estratégicos, assim como o Brasil.
O Governo argentino ordenou o congelamento de ativos do Hezbollah. A estratégia de asfixiar o grupo pelo lado do financiamento é consequência da criação, um dia antes, de um registo público de pessoas e de entidades vinculadas com o terrorismo.
Até então, a Argentina, assim como os demais países do Mercosul (Brasil, Uruguai e Paraguai), regia-se pela listagem da ONU na qual o Hezbollah não aparece como terrorista.
Durante a conferência, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, pediu aos países da região que sigam “o bom exemplo da Argentina” e declarem o Hezbollah como organização terrorista.
“Formalmente, o Brasil segue a lista de organizações terroristas das Nações Unidas, mas essa lista é dinâmica. Pode-se trabalhar pela inclusão de outros grupos. Nós não temos uma lista separada da lista da ONU”, diferenciou-se Brandelli.
O chefe do Itamaraty também negou que o Brasil estude declarar o Hezbollah como grupo terrorista.
“O Brasil tem o seu serviço de inteligência e, no momento oportuno, no foro apropriado, o Brasil se pronunciará”, esquivou-se.
No entanto, o MNE brasileiro, Ernesto Araújo, durante a Cimeira do Mercosul nesta semana disse que o governo brasileiro “está a considerar” a possibilidade de declarar o Hezbollah como grupo terrorista.
“O pedido não nos foi feito diretamente. É uma proposta que estamos a examinar. Depende de várias áreas do Governo”, disse em resposta a uma pergunta da Lusa.
Nesta Segunda Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo em Buenos Aires, o Brasil participou como delegado junto a outros 16 países das Américas.
Na primeira edição da Conferência em dezembro passado, em Washington, o Brasil tinha participado apenas como observador. A próxima reunião será em 17 de janeiro em Bogotá, na Colômbia.
Nos próximos 01 e 02 de agosto, o Brasil organiza a reunião contra terrorismo dos BRICS, bloco que reúne também a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul.
Em Buenos Aires, além do foco sobre o Hezbollah, outros grupos apareceram na lista de perigo para a região: o Sendero Luminoso do Peru e o Exército de Libertação Nacional da Colômbia que agora atua também na Venezuela.
Apesar de ter estado com Mike Pompeo, Otávio Brandelli garantiu que não se tocou no assunto da potencial indicação de Eduardo Bolsonaro como embaixador em Washington.
Comentários