Em causa está um relato feito pela coordenadora do programa, em 11 de dezembro, numa reunião com o Conselho de Redação (CR), em que adiantou que o "Sexta às 9" estava a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo".
Nesse âmbito, Sandra Felgueiras acusou Maria Flor Pedroso de ter transmitido informação privilegiada à visada na reportagem, o que a diretora "rejeitou liminarmente", de acordo com as atas do CR.
Sobre a sua atuação quanto ao programa previsto sobre o ISCEM, Maria Flor Pedroso, numa posição escrita sobre a "verdade dos factos" enviada hoje à redação, começou por dizer que desde 2006 lecionava um semestre por ano naquela instituição, na disciplina de jornalismo radiofónico, "com autorização das suas direções sucessivas", onde também outros colegas de profissão davam aulas.
"Por razões de serviço do ISCEM – reunião com docentes -", a diretora de informação da RTP "esteve no instituto a 08 de outubro de 2019", referiu Maria Flor Pedroso, no seu esclarecimento, a que Lusa teve acesso.
De acordo com o documento, no final desta reunião, a responsável do ISCEM, Regina Moreira, interpelou a diretora de informação da RTP, “dando-lhe conta de que tinha recebido vários contactos e chamadas do 'Sexta às 9' com um pedido de entrevista, que ela não queria dar”.
A diretora de informação, “perante a reiterada recusa da entrevista, insistiu, então, com a dr.ª Regina Moreira para que, ao menos, o fizesse por escrito, sem, nunca a ter informado da investigação" do programa, lê-se no documento.
"Nada foi falado sobre o contrato de compra e venda do imóvel ou outros dados da investigação. A diretora de informação limitou-se a defender os interesses da RTP ao tentar contrariar a recusa de uma entrevista", garante no texto.
Na investigação em causa, havia suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do ISCEM, que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo”.
Maria Flor Pedroso acrescenta que “indagou junto dos serviços administrativos [do ISCEM] se era verdade que os alunos eram obrigados a pagar em dinheiro”, tendo-lhe sido “dito que não”, não havendo multibanco na escola e que as transferências eram bancárias.
A diretora da informação referiu que foi essa a informação que "prestou à diretora-adjunta Cândida Pinto para ela passar ao 'Sexta às 9'".
Maria Flor Pedroso sublinha ainda que "a equipa do 'Sexta às 9' sabe, desde o dia 08 de outubro, que a diretora do ISCEM se referiu ao nome da diretora de informação e nada comunicou”, nem à direção no seu conjunto, nem à diretora-adjunta Cândida Pinto, responsável mais direta pelo programa.
Aliás, "este facto foi referido, pela primeira vez, numa reunião do Conselho de Redação, a 11 de dezembro, convocada para tratar do programa [“Sexta às 9”] do lítio", rematou.
Também hoje, numa carta aberta à redação, a equipa do "Sexta às 9" refere que a diretora de informação da RTP "admitiu que passou informação interna e sensível a uma entidade externa" que estava a ser investigada e para a qual trabalhava.
"Foi passada pela diretora de informação [DI] da RTP à diretora de uma instituição externa onde a DI deu aulas [ISCEM] até ao encerramento das mesma pela A3ES, informação altamente sensível sobre uma investigação" que a equipa do 'Sexta às 9' tinha em curso.
De acordo com a carta da equipa do programa, a informação "ainda não tinha, em momento algum”, sido partilhada com a responsável do ISCEM, “tendo apenas pedido uma entrevista".
"A diretora de informação reconheceu ainda, perante os elementos do CR e perante toda a equipa do 'Sexta às 9' na reunião de anteontem [11 de dezembro] que aconselhou a diretora do ISCEM” a responder por escrito se não quisesse dar a entrevista.
Para a equipa do “Sexta às 9”, trata-se de uma "situação em que a DI agiu à total revelia da gestão" que o programa "tem de fazer relativamente aos casos que investiga".
"Mais, a diretora de informação confirmou também ter sido ela a dizer à diretora-adjunta Cândida Pinto que a informação que investigávamos não era fidedigna, sendo que a Cândida Pinto nos veio a revelar essa mesma versão, omitindo que a sua fonte era a própria diretora de informação", refere a equipa do programa da RTP.
"A redação retirará as suas ilações acerca do envolvimento ou não das duas responsáveis máximas da informação da RTP nesta matéria", acrescentam.
"Soubemos todos, agora, no dia em que a coordenadora Sandra Felgueiras foi ao parlamento, que as razões que levavam os denunciantes a falar (que se cifravam em dois milhões de euros) tinham, subitamente, desaparecido e que, por isso mesmo, já não estávamos autorizados a colocar no ar essas entrevistas”, lê-se ainda no texto.
A equipa do programa conclui o texto, afirmando: “Um trabalho no qual a RTP empenhou meios humanos, relativamente ao qual tinha informações seguras que apontavam para algo de muito grave, foi assim neutralizado".
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