Nas últimas duas décadas, o Ministério da Educação passou a disponibilizar, a pedido dos meios de comunicação, vários dados sobre os resultados dos alunos nos exames nacionais e notas internas dadas pelos estabelecimentos de ensino.
Para os diretores escolares, as listagens feitas com base nessas informações, hoje divulgadas, “revelam apenas uma ínfima parte do trabalho diário das escolas e alunos”, disse o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) em declarações à Lusa.
Filinto Lima referiu que “há escolas que fazem um trabalho de excelência e ficam mais para baixo nestas tabelas. É muito injusto”.
A opinião é partilhada por Manuel Pereira. À Lusa, o presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE) lamentou a comparação de realidades escolares muito distintas.
O presidente da ANDE sublinhou que os estabelecimentos de ensino refletem a comunidade local onde estão inseridas: “As escolas situadas em zonas onde existem taxas de desemprego muito elevado e onde há muitos casos de famílias desestruturadas nunca estão nos primeiros lugares. Mesmo que haja muito esforço, dedicação e empenho de todos”.
Para Manuel Pereira, um estudante que num exame consegue ter um três (numa escala de zero a cinco) “pode ter muito mais valor do que um outro que tem cinco. Mas isso não se percebe nos ‘rankings’”.
“Um aluno de uma família desestruturada até poderá ter bons resultados académicos. Mas será sempre uma exceção, não a regra”, disse.
Por isso, os representantes dos diretores alertaram que a divulgação dos resultados pode desmotivar o corpo docente assim como toda a comunidade escolar: “Tem um impacto negativo, porque não sentem orgulho com o lugar que a escola ocupa”, disse Manuel Pereira.
Para Filinto Lima, as tabelas acabam mesmo por ser “falaciosas”.
No topo da maioria das listas surgem estabelecimentos de ensino privados, mas Filinto Lima observa que são os alunos oriundos das escolas públicas quem depois tem mais sucesso no ensino superior: “Estes alunos apresentam melhores notas à saída do ensino superior e terminam o curso em menos tempo”, sublinhou, recordando as conclusões de um estudo realizado por dois investigadores da Faculdade de Psicologia do Universidade do Porto.
Além disso, defendeu, as escolas públicas “não treinam os alunos para os ‘penáltis’”, disse, explicando que o trabalho realizado ao longo dos anos pretende preparar os estudantes para o ensino superior, mas também para a vida e não apenas para obter resultados nos exames nacionais (os ‘penáltis’).
Nos últimos anos o Ministério da Educação começou a apresentar novos indicadores. Criou os percursos diretos de sucesso” que permitem identificar os alunos que conseguem concluir um ciclo de estudos sem chumbar e a equidade, que analisa o percurso escolar dos estudantes mais carenciados. Nestas tabelas, as escolas públicas ganham algum destaque.
Manuel Pereira reconheceu que os ´rankings´, no geral, continuam a ser um “instrumento de trabalho útil para as escolas”, para perceber onde estão e que trabalho precisam fazer. Além disso, admitiu, “nenhum diretor deixa de ver em que lugar ficou a sua escola, mas às vezes percebe que não consegue competir com os outros”.
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