A estreia do documentário, intitulado “Malagueira”, está agendada para as 18:00 de terça-feira, no Auditório Soror Mariana, no centro histórico de Évora, e marca o início das comemorações dos 45 anos deste projeto.
A obra, assim como uma página de Internet dedicada ao bairro (www.malagueira.pt), resultam de uma iniciativa conjunta da ALD Produções e da Associação Setespinhas, cofinanciada pelo Ministério da Cultura, através do programa Garantir Cultura, e apoiada pela Câmara de Évora e pela Associação de Moradores Malagueira Viva e Vivida.
Este bairro foi “um projeto único”, talvez “o mais icónico de Siza Vieira”, no qual “a componente arquitetónica surge enquadrada por pressupostos ideológicos”, destacou o realizador do documentário, em comunicado enviado hoje à agência Lusa.
“O desenho das casas e dos espaços comuns, isto é, a conceção do próprio bairro, envolveu a participação dos futuros moradores, chamados a opinar sobre questões como a dimensão das janelas ou a altura dos muros”, continuou o também jornalista Luís Godinho.
Este foi “um projeto participado, onde rapidamente se passou da discussão sobre a tipologia das casas para o conceito de cidade”.
Segundo o realizador, “foi também um projeto inclusivo, na medida em que Álvaro Siza Vieira conseguiu evitar a criação de ‘guetos’ numa área com 1.200 habitações, integrando a iniciativa privada com a construção social e cooperativa”.
O documentário de Luís Godinho tem como protagonistas os arquitetos Álvaro Siza Vieira e Nuno Ribeiro Lopes, o ex-presidente da Câmara de Évora Abílio Dias Fernandes e dezenas de moradores do Bairro da Malagueira (1977-1997).
“Mais do que a história do bairro, procurei refletir sobre as suas vivências atuais, indo ao encontro de quem o habita e reunindo um conjunto de depoimentos de moradores, alguns recém-chegados, outros que se intitulam de ‘pioneiros’, por terem sido os primeiros a instalar-se”, acrescentou o realizador.
Siza Vieira deslocou-se a Évora, pela primeira vez, a 18 de março de 1977, para conhecer o local onde o projeto seria implementado.
As obras prolongaram-se por duas décadas, embora o bairro continue inacabado, uma vez que “alguns dos equipamentos coletivos, como a semicúpula, que deveria marcar a centralidade deste território, não chegaram a ser construídos”, afirmou Luís Godinho.
O arquiteto Nuno Ribeiro Lopes, que, à época, colaborava com Siza Vieira e foi quem, no terreno, acompanhou o desenvolvimento do projeto, lembrou que, naquela altura, “a Câmara de Évora tomou a liderança urbanística a nível nacional com várias ações”.
“Uma delas foi a Malagueira. Outra foi a elaboração de um primeiro Plano Diretor Municipal, que era uma coisa que legalmente não existia. Aliás, foi feito e só seis anos depois é que entrou em vigor, quando a lei surgiu”, disse.
Estas linhas de ação, juntamente com “o combate aos loteamentos clandestinos e a classificação do centro histórico como Património Mundial” pela UNESCO, “modificaram completamente a face de Évora”, frisou Nuno Ribeiro Lopes.
“Onde é que a Malagueira entrava neste processo? Por um lado, pela valorização do centro histórico. Por outro, como alternativa aos loteamentos clandestinos. Era um loteamento planeado e a visão que o Siza tinha era prolongar a qualidade do centro histórico”, acrescentou.
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