“Não conhecíamos uma violência assim há anos, com pessoas que nos querem ferir, mutilar e até matar. É extremamente difícil gerir isto”, admitiu Patrice Ribeiro, lusodescendente e secretário-geral do sindicato da polícia Synergie-Officiers, em entrevista à agência Lusa.
O Synergie-Officiers representa os quadros intermédios da polícia francesa, nomeadamente os chefes de brigada que comandam a ação da polícia no terreno durante as manifestações dos “coletes amarelos”.
“Recebemos muitos pedidos de colegas, porque houve uma grande mobilização nas últimas 24 semanas, nomeadamente os polícias especializados na manutenção da ordem, todos os fins de semana sem dias de folga”, referiu.
Patrice Ribeiro reconhece que “há cansaço” já que, além dos “coletes amarelos”, a polícia é também solicitada para lidar “com as ameaças de terrorismo” e com “a pressão migratória em França”, nomeadamente os fluxos vindos de Itália.
No entanto, e face a críticas no país e também no estrangeiro do uso por parte da polícia francesa de violência contra os manifestantes devido à utilização de granadas de gás lacrimogéneo, explosivos e balas de borracha, o sindicalista recusa as acusações.
“É preciso ter noção de que todas as respostas dadas pela polícia são validadas hierarquicamente em função do que temos à nossa frente. Todas essas respostas são controladas pela Inspeção da Polícia Nacional, pela Assembleia Nacional – que pode abrir investigações à atuação da polícia – e pelas próprias Nações Unidas. E isso permite-nos também não cometer abusos”, assegurou.
Segundo o responsável do sindicato, há a “necessidade de usar armas” que “não podem matar”.
“Precisamos delas para nos defender de uma violência extrema”, frisou Patrice Ribeiro, referindo que colegas seus já foram feridos por manifestantes com ácido e diferentes tipos de armas trazidas para os protestos.
O sindicalista adiantou que a polícia representa para estes manifestantes o poder e as instituições contra as quais saem à rua.
“Temos hoje pessoas completamente radicalizadas, que estão bem inseridas socialmente, com casa e com trabalho, mas que não deixam de cometer violências muito graves, especialmente quando estão todos juntos. Toda esta raiva, acumulada durante anos, centra-se nos polícias, porque nós somos a representação do poder. Somos nós que os impedimos de destruírem o Palácio do Eliseu, a Assembleia Nacional ou o Senado”, considerou.
Para este polícia, além da dificuldade de o movimento dos “coletes amarelos” não ter um líder, acresce ainda o facto de mesmo os manifestantes pacíficos continuarem nos protestos quando estes degeneram em violência.
“O que vemos é que as pessoas que estão nas manifestações dos ‘coletes amarelos’ e veem que há pessoas a partir coisas ou a incendiar coisas, não vão embora. Também não participam, mas ficam lá a ver. E, sendo assim, camuflam as pessoas que só querem partir tudo. Há uma certa fascinação pela violência que mostra uma faceta problemática da sociedade”, analisou Patrice Ribeiro.
O Governo francês, depois da violência de 16 de março em Paris, mudou a sua atuação, autorizando a polícia a um maior contacto com os manifestantes violentos, o que, segundo o sindicalista, já deu resultados no 1.º de Maio.
“Mudámos o paradigma há algumas semanas. Passámos de um sistema no qual deixávamos que a tensão aumentasse e que realmente fosse tudo partido, porque o nosso Governo preferia que os bens públicos fossem destruídos a que houvesse feridos ou mortos”, declarou o lusodescendente.
Para o sindicalista, “neste momento, a opinião pública já não está do lado de quem destrói a cidade”, logo passou-se “a um novo paradigma em que é a polícia que vai ter com os manifestantes que estão a causar estragos”.
“Esta é uma técnica mais eficaz, em que quebramos desde o início a ação destes delinquentes. Foi por isto que o 1.º de Maio se passou bem, muito melhor do que tínhamos imaginado”, defendeu Patrice Ribeiro.
Em última análise, a resposta a este nível de violência deve ser penal.
“Tem de se chegar a um ponto em que as coisas têm de terminar. E se a justiça determinar que acaba e se houver condenações suficientemente firmes, isso vai acabar. Sem firmeza por parte da justiça, continuamos a prender as mesmas pessoas todas as semanas, entre radicais, delinquentes e ‘coletes amarelos’ radicalizados. Logo, as pessoas pensam que o que fazem não é grave e podem continuar a degradação pública”, concluiu o secretário-geral do Synergie-Officiers.
* Por Catarina Falcão, agência Lusa
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