“Vinha cá para doar sangue regularmente e um dia a enfermeira explicou-me a importância de doar plaquetas. Não precisou explicar muito: agendei, vim e não dói. Algum dia podemos ser nós a precisar”, disse à Lusa Luciana Martins, de 23 anos.
O consumo de plaquetas em hospitais oncológicos é muito elevado. Quem tem patologia hematológica como leucemia ou linfoma necessita de grandes quantidades de plaquetas para fazer face a hemorragias e coagulação, ou problemas de plaquetas baixas.
Dadora regular de sangue há seis anos, a Luciana foi explicado o quanto uma doação específica deste componente sanguíneo pode fazer a diferença no tratamento de doentes oncológicos, adultos e crianças, que realizam quimioterapias, radioterapias, transplantes de medula óssea ou passam por grandes cirurgias.
Em 2023, o IPO do Porto realizou 12.819 transfusões, 7.514 de eritrócitos e 5.305 de plaquetas. Foram transfundidos mais de 2.500 doentes. No mesmo ano, o IPO registou 8.925 dádivas, das quais 1.561 foram de componentes plaquetários por aférese e 7.364 de sangue total. Mais de 1.500 são novos dadores, mas são precisos mais.
“Para obtermos uma unidade de tratamento de plaquetas para um doente precisamos de quatro a cinco dadores de sangue total. Ou seja, a quantidade que se consegue tirar de plaquetas numa doação de sangue total tem de ser adicionada a mais dadores. Enquanto com um só dador de plaquetas por aférese, que implica um equipamento especial, conseguem-se uma, duas ou até três unidades terapêuticas de plaquetas”, explicou à Lusa Catarina Carvalho, médica de Imuno-hemoterapia.
O ‘stock’ de plaquetas do IPO é gerido ao segundo e ao milímetro, até porque as plaquetas, pelas suas particularidades, após colheita têm de ser utilizadas num prazo de cinco dias.
“E são e não sobra”, disse Catarina Carvalho.
Quando não tem ‘stock’, o IPO do Porto recorre ao Instituto Português do Sangue e da Transplantação.
Admitindo que ser autossuficiente em plaquetas é “um desafio tanto quanto é um objetivo”, a médica contou que o processo envolve mais equipamentos e mais disponibilidade de agendamento, bem como tentar autorizar o rendimento da colheita, encurtando o tempo entre as dádivas, por exemplo. Atualmente um dador de plaquetas pode doar uma vez por mês.
“Temos dadores certinhos: 12 colheitas por ano. Mas como a literatura começa a mostrar que se pode encurtar o tempo entre colheitas, estamos a trabalhar nisso para três semanas ou mesmo 15 dias”, referiu num dia simbólico de apelo à dádiva e no qual a instituição, que celebra este ano 50 anos, lança a campanha “No IPO damos vida”.
Sustentada pelo exemplo dos colaboradores, de diferentes categorias profissionais, que são dadores regulares, a campanha tem como objetivo “homenagear os dadores que cumprem o seu dever de cidadania com um gesto simples que permite ajudar a salvar uma ou mais vidas”, lê-se no texto explicativo.
Foram 15 os colaboradores do IPO do Porto que “deram a cara”. A diretora do Serviço de Psiquiatria, Susana Almeida, que é dadora de sangue neste hospital desde 2009, foi uma delas.
“Esta campanha parte da iniciativa de mobilizar aqueles que já eram dadores inscritos no IPO para dar o rosto pelo que fazem e sensibilizar outros para passarem a ser também. Agora sou eu a dar, amanhã posso ser eu a receber, por isso, quantos mais formos a dar, mais disponibilidade há porque todos podemos precisar. Podendo, tendo saúde, devemos dar… e não dói!”, sublinhou.
No IPO do Porto é possível dar sangue de segunda a sexta-feira, entre as 08:30 e as 19:00, e ao sábado, das 08:30 às 12:30.
Uma doação de sangue total pode ser feita de quatro em quatro meses no caso das mulheres e de três em três no caso dos homens.
* Por Paula Teixeira, da agência Lusa
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