"Perdemos o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária", disse Andrea de Domenico, que dirige o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) nos Territórios Palestinianos, em entrevista à AFP na quinta-feira.

Israel fechou no domingo a passagem fronteiriça de Kerem Shalom, entre o seu  território e o sul de Gaza, pela qual entrava grande parte da ajuda ao território palestiniano, depois de um ataque de foguetes do Hamas que matou quatro soldados na região.

O exército israelita ordenou posteriormente a evacuação dos bairros da zona leste de Rafah e tomou o controlo da passagem de fronteira entre a cidade do sul de Gaza e o Egito, que também foi fechada.

Apesar do anúncio de Israel sobre a reabertura da passagem de Kerem Shalom na quarta-feira, Domenico afirma que o envio de ajuda continua "extremamente difícil".

E o ponto de controle de Rafah, por onde entra todo o combustível utilizado em Gaza, continua fechado.

"Não há reservas de combustível em Gaza, o que significa que não há movimento. Isto paralisa completamente as operações humanitárias", explica.

A guerra em Gaza começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em retaliação, Israel iniciou uma ofensiva que já deixou mais de 34.900 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.

A comunidade internacional exige há meses a entrada de mais ajuda no território, onde a zona norte já está oficialmente em situação de fome, segundo a diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos, Cindy McCain.

Antes do encerramento de Rafah e perante a ameaça de uma ofensiva de Israel contra esta cidade, a ONU solicitava há várias semanas vias alternativas para fornecer combustível ao território.

Israel garantiu às Nações Unidas que está a tentar encontrar uma solução, mas alertou que provavelmente não será possível transportar os 200.000 litros diários que as organizações humanitárias consideram necessários.

A Organização Mundial da Saúde advertiu na quarta-feira que os hospitais do sul de Gaza tinham combustível apenas para mais três dias.

E a diretora do Unicef, Catherine Russell, destacou que se a entrada de combustível não for permitida, "as consequências serão sentidas quase imediatamente".

"Os serviços de apoio vital para bebés prematuros ficarão sem energia elétrica, crianças e famílias ficarão desidratadas ou consumirão água nociva", disse.

Além da falta de combustível, os comboios humanitários enfrentam a questão da segurança.

"É uma loucura. Há tanques em todos os lados, eles mantêm tropas no terreno, estão a bombardear a zona leste de Rafah e querem que saiamos para retirar combustível ou produtos básicos", disse Domenico.

"Sabem que simplesmente não podemos ir", insiste.

As reservas de alimentos estão no fim e os tratamentos médicos para crianças desnutridas podem ser suspensos por falta de produtos, alerta.

A situação pode piorar após a fuga de quase 80.000 habitantes do leste de Rafah. "Isto significa que temos 80.000 pessoas que, em sua maioria, precisam de muito apoio".

As operações israelitas na cidade também ameaçam os poucos hospitais em funcionamento no sul de Gaza, alerta Domenico.

"É inimaginável forçarmos seres humanos a uma experiência tão terrível e desumana", disse. "É um desastre".