A ministra da Saúde começou a habitual conferência de imprensa diária da Direção-Geral da Saúde por explicar que desde o dia 25 de abril foram detetados 422 casos duplicados, o que justifica que hoje se registe um número de casos inferior (25.190) ao que tinha sido anunciado na sexta-feira.
"Ontem, verificou-se que, num conjunto de casos da região norte, desde 25 de abril, os testes informáticos de verificação encontraram 422 casos duplicados que não eram verdadeiros casos novos e sim problemas de integração. Isto sucedeu porque, quando um caso confirmado laboratorialmente não tem número de utente associado, não porque não o tenha, mas porque não é registado, o sistema está parametrizado para verificar se o nome e a data de nascimento correspondem a um caso que já estivesse confirmado. O sistema considerou, por defeito, que eram novos casos. Realizada esta noite a verificação, constatou-se que assim não era. Os dados de hoje para a região Norte refletem essa correção e os boletins dos 25 a 30 de abril serão corrigidos", assumiu.
Marta Temido disse que o número de casos a considerar na sexta-feira é 24.987.
"Esta correção mostra-nos mais uma vez a necessidade do robustecimento da nossa base tecnológica de suporte ao Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) que tem um conjunto de operações que não são automáticas. Transmitimos esta correção com o habitual cuidado e transparência apesar desta circunstância nos penalizar a todos", admitiu a ministra.
Temido explicou, mais detalhadamente, que os dados do sistema nacional de vigilância epidemiológica resultam do encontro de duas aplicações, uma para laboratórios e outra para clínicos, "que não integram automaticamente", o que leva a DGS, todas as semanas, a fazer cruzamentos para ver se não existe sobreposição de casos.
Quanto ao relatório de situação publicado hoje na página da Direção-Geral da Saúde (DGS), devem ser tidos em consideração os dois "asteriscos" que explicam esta diferença de casos e a duplicação explicada por Marta Temido.
O primeiro aparece junto do número do total de casos suspeitos e o segundo junto ao total de casos confirmados e ambos remetem para a explicação: "Dados recalculados de acordo com a informação de hoje".
Além das explicações da governante na conferência de imprensa, foi ainda explicado aos jornalistas que o apuramento de dados, para efeitos de vigilância epidemiológica não integra automaticamente SINAVE-LAB e SINAVE-MED, logo exige uma "rotina semanal de trabalho de validação de todos os dados carregados".
"Os 422 casos duplicados que não eram verdadeiros novos casos e sim problemas de integração", foi ainda assegurado na sessão que contou com Marta Temido e com a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Retoma da atividade normal será feita sem desguarnecer resposta à covid-19
A ministra da Saúde anunciou que será publicado ainda hoje um despacho com indicações sobre a retoma da atividade regular nas instituições de saúde e que essa será feita sem desguarnecer a resposta à doença covid-19.
“Dentro das próximas horas publicaremos um despacho que estamos a preparar no Ministério da Saúde com novas orientações referentes à forma como vamos fazer este regresso à normalidade e depois vamos implementar ao nível institucional os nossos planos de regresso à atividade não covid”, disse Marta Temido, na conferência de imprensa regular, em Lisboa, em que apresenta os dados atualizados relacionados com a doença covid-19.
Segundo a ministra da Saúde, essas orientações serão feitas “dentro daquilo que é o contexto epidemiológico específico de cada instituição” e com regras uniformes para todo o país.
Contudo, acrescentou, o regresso da atividade normal será feito “não desguarnecendo a resposta à covid 19” e a eventual necessidade de alocação de recursos técnicos e humanos necessários a um recrudescimento da doença.
Além disso, continuarão a praticar-se medidas de segurança quer para os profissionais quer para os utentes dos serviços de saúde. Assim, continuará o uso de equipamentos de proteção individual, a realização de testes à covid-19, as consultas serão com hora marcada e com horários desfasados e será privilegiado o atendimento à distância.
Questionada sobre se serão prolongados os contratos de trabalho de quatro meses feitos a profissionais de saúde no combate à covid-19, a ministra disse que os contratos já preveem prorrogação por igual período e considerou que, num momento em que o Serviço Nacional de Saúde se prepara para a retoma da atividade regular, “a manutenção de contratos é muito importante".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 239 mil mortos e infetou mais de 3,3 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Cerca de 37% dos infetados contraiu o vírus em lares e 33% em casa
Marta Temido apontou que, à semelhança de dados apresentados há cerca de uma semana sobre o período de 18 a 24 de abril, estão a ser feitos estudos pormenorizados a intervalos de tempo para analisar em que contextos é contraída com mais frequência a doença.
Assim, entre 25 e 30 de abril, e tendo por base uma amostra de 2.369 casos confirmados, 37% contraiu o vírus em lares, 33 na residência (coabitação), 15% em contexto laboral, 7% em contexto social e 6% em instituições ligadas à prestação de cuidados de saúde.
Face ao período antes analisado – 18 a 24 de abril – a governante destacou a diminuição da percentagem de 9% para 7% de contágio em contexto social.
“Indicia um maior cumprimento das regras gerais”, disse a governante, segundo a qual estes estudos servem para que “as medidas adotadas em cada momento sejam aquelas que correspondam à adequada contenção da infeção”.
Assim, de 25 a 30 de abril e dos 2.369 analisados, 1.454 eram mulheres e 438 pessoas com mais de 80 anos.
Marta Temido também indicou que “mais de um terço dos novos casos pertencem ao distrito do Porto, seguindo-se Lisboa e Braga” e que “a apresentação clínica mais frequente era assintomática (73%)”, enquanto as infeções eram também assintomáticas (22%).
“Mostra o que temos encontrado com a estratégia de testes mais alargada que temos vindo a desenvolver em locais específicos”, referiu a governante num dia em que se completam dois meses desde que o primeiro caso associado ao novo coronavírus foi detetado em Portugal.
A ministra da Saúde indicou, ainda, que “metade dos novos casos com comorbilidades tinha hipertensão arterial e diabetes” e que “a doença cardiocervo-vascular foi reportada em aproximadamente um quarto dos novos casos”.
“A doença e a deficiência neurológica destacaram-se com 34% e 27% dos casos, respetivamente e a presença de neoplasias foi reportada em mais de um quarto dos novos casos com comorbilidades, sendo que a doença pulmonar crónica estava presente em 22% destes casos”, acrescentou a ministra da Saúde.
Nesse período de oito dias, “cerca de 44% dos casos que apresentam pelo menos uma comorbilidade tiveram necessidade de internamento, observaram-se 20 novos casos em grávidas e um décimo dos doentes internados necessitou de suporte ventilatório”.
Ao lado da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a ministra da Saúde também recordou hoje que o doente mais novo a contrair o vírus “tinha apenas alguns meses” e o mais velho 111 anos.
(Notícia atualizada às 16:03)
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